Srta T. agora habita spontodepartida.wordpress.com
"Um passo a frente e você já não está no mesmo lugar."Chico Science
see ya!
31.12.10
9.9.10
memórias cariocas (capítulo primeiro)
há mais de cem (ou cento e noventa e sete anos) estive eu caminhando lentamente por Botafogo. cigarro no bolso. chapéu-coco. salve manuel, eu. meu caminhar era coisa de cinema ou aquela novela toda. dá pra imaginar: visualizo-me superando Jim Jarmusch - pisando sem cuidado pelo asfalto improvisado. pedras portuguesas, que beleza. puro jazz-proto-bossa-nova. ah sim, eu era um velho (mas bem moço por suposto) português com bastante sotaque e bigode portugueses e aquela piada toda. aquele clichê, sabe como é. riem-se de mim. riem-se porque não sabem a verdade dos fatos. tive eu uma padaria em Botafogo. facto. nasci pobre. facto. fui assaltado. facto. por conta disso meu original estabelecimento ficou conhecido como PADARIA NO SUFOCO. e eu, como o sufocado.
"fala manuel, tá mais calmo?"
calma nunca foi minha prioridade. meu lance tá mais pra resolver. se me perguntam "tá resolvido", direi sim, claro. está tudo determinado. por vezes acho que deveria me orgulhar disso - isso que no fundo se chama fé. alô cristo ai em cima, continuo aqui embaixo. não é pra qualquer um, te digo por tudo que é santo e por tudo que é ou foi cruxificado. o cara depois de ter sido amarrado, vedado, sufocado e explodido pra dentro deve ser considerado. não quero estátua nem cântigos. só quero flores um lápide (caixinha de cinzas) escrito: pronto, resolvido. um dia me assaltaram e me amordaçaram e eu explodi pra dentro. sabes como é isto?
"fala manuel, tá mais calmo?"
calma nunca foi minha prioridade. meu lance tá mais pra resolver. se me perguntam "tá resolvido", direi sim, claro. está tudo determinado. por vezes acho que deveria me orgulhar disso - isso que no fundo se chama fé. alô cristo ai em cima, continuo aqui embaixo. não é pra qualquer um, te digo por tudo que é santo e por tudo que é ou foi cruxificado. o cara depois de ter sido amarrado, vedado, sufocado e explodido pra dentro deve ser considerado. não quero estátua nem cântigos. só quero flores um lápide (caixinha de cinzas) escrito: pronto, resolvido. um dia me assaltaram e me amordaçaram e eu explodi pra dentro. sabes como é isto?
24.8.10
da(s) rede(s)
que então seja dado ao sujeito a possibilidade de transcomunicar-se. porque é preciso dizer, e para além das falácias e dos zumbidos, é preciso atuar - e muito, realizar, por em prática. é preciso aprender a ser coletivo (mais uma informação importante para se viver). as ligações estabelecidas me conectam agora à arte travestida de hipermídia. miro o infinito da obra: o sujeito multimídia cyber-exposto, diante de seus seguidores e fãs, é automaticamente linkado, reproduzido, reutilizado, refeito. ecos de sons, vídeos, fotos. totalmente creative commons. nenhum papparazi possível. "te acordei?", perguntou-me Tamara Costa. Não, respondi, eu não estava dormindo, só estava calada.
é preciso reaprender o sentido coletivo, atuar em rede, com urgência e profundidade.
Ver também: www.redefam.com.br
é preciso reaprender o sentido coletivo, atuar em rede, com urgência e profundidade.
Ver também: www.redefam.com.br
26.7.10
Ponta Negra (black sessions)
vejo a praia, vejo o mar, vejo as menininhas e os gringos. eu aqui perdida nessa tempestade de areia - nem me vejo mais. contemplo e venho a considerar esse exagero um chamado. vem, se aproxima. vou na onda. volto na onda. a onda me tira de lá. estou na presença dos deuses, ao passo que cheiro minha mão - protetor solar. você, sempre você meu cavalinho me animando a mente - como um livro de cortázar. eles vêm de onde? aposto que frança. usam tênis para tomar sol. elas vem de onde? daqui mesmo. elas querem dinheiro. deve ser muito difícil a vida por aqui fora de temporada. deve ser foda. imagina, o mar indo e vindo e você lá. cadê os restaurantes? as casas de câmbio? os vendedores de pulseiras e lamparinas? somente os monstrinhos do calor, onde você pisa. a menininha passa creminho no pé do gringo. ele ri e devolve um óculos de sol. arregala que tem regalo. devo pensar no movimento. essa coisa de avançar, que tal? avançar, da areia pra o concreto, do concreto para cima das casas. das casas, subo o morro e vou invadindo. meu nome é mar. mulas geradas no atarefar diário, essa coisa de repetir e repetir e achar que vale um prêmio (regalo, regalo) ainda vai nos enterrar vivos. talvez aqui seja mais fácil. essa coisa de Brasil chegando tem algo de black sessions. tem algo em mim que diz não Brasil, se foda. tem um cara passando com um carrinho de pranchas. vai chover e lá vem o tubo. fui.
14.7.10
a casa diante do mundo
“Faz, no começo, muitas coisas; e, em seguida, abandona tudo. Não faz rigorosamente nada. Acompanha o tempo e sobretudo as estações (diário!)”., Albert Camus, in A morte feliz
5.7.10
mi individualidad
"Minha mãe quis que eu fosse bailarina. Eu não queria..." Hilda Hilst
Depois quis que eu fosse dançarina. Eu não queria. Meu pai queria que eu fosse pianista. Eu não queria. Depois, que eu lesse em voz alta a bíblia. Eu não queria, santo deus. Queria também que eu chegasse na hora marcada, que eu fosse generosa, que eu não bebesse, não saísse e não tivesse namorado antes dos dezoito. Eu só queria desenhar algumas coisas. Pregava os desenhos – folhas A4 – na parede do quarto, ao lado da cama ou embaixo - o diabo. Queria também desenho impresso no corpo - tatuagem.
Minha mãe quis que eu fosse psicóloga. Eu não queria. Vendi meu teclado e comprei um violão, musicoterapia. A essas horas meu pai já não queria mais nada, estava morto e sepultado. Era um cara que parecia mais feliz morto, pelo menos para mim. Meu pai queria ter ido para um mosteiro. Eu não quis acreditar que seu maior sonho era se ver livre de mim (nós) e passar o resto de sua existência entoando mantras e vivendo em puro silêncio, ou algo que se assemelhasse.
Eu quis entender porque ele queria aquelas coisas tão absurdas. Quis ler os livros dele. Depois, quis ser outra pessoa – quis ser alguém que sabia como percorrer as dimensões da alma, dos territórios, de todos os corpos. Minha mãe quis que eu ficasse em casa. Estrapolei as dimensões, rasguei a página e me virei do avesso até não me reconhecer mais no espelho. Raspei a cabeça, fiz o santo ou então o incorporei. Depois ela quis que eu me curasse, que tomasse remédio e ficasse bem, ou melhor, me adaptasse. Eu só queria escrever algumas coisas.
E então eu usava umas sapatilhas, não porque fosse bailarina, mas porque meus pés eram diferentes dos outros. Eu também não usava mais óculos, mesmo com mais de nove graus. E então eu me perguntava. O que você quer ser quando crescer? Eu não queria. Crescer era ter que vender minhas horas. As horas que me serviam para escrever alguma coisa. Eu precisava escrever alguma Koisa, eu devia.
Trechos usurpados do do Hilda Hilst - 4 min.
Ver também:
Depois quis que eu fosse dançarina. Eu não queria. Meu pai queria que eu fosse pianista. Eu não queria. Depois, que eu lesse em voz alta a bíblia. Eu não queria, santo deus. Queria também que eu chegasse na hora marcada, que eu fosse generosa, que eu não bebesse, não saísse e não tivesse namorado antes dos dezoito. Eu só queria desenhar algumas coisas. Pregava os desenhos – folhas A4 – na parede do quarto, ao lado da cama ou embaixo - o diabo. Queria também desenho impresso no corpo - tatuagem.
Minha mãe quis que eu fosse psicóloga. Eu não queria. Vendi meu teclado e comprei um violão, musicoterapia. A essas horas meu pai já não queria mais nada, estava morto e sepultado. Era um cara que parecia mais feliz morto, pelo menos para mim. Meu pai queria ter ido para um mosteiro. Eu não quis acreditar que seu maior sonho era se ver livre de mim (nós) e passar o resto de sua existência entoando mantras e vivendo em puro silêncio, ou algo que se assemelhasse.
Eu quis entender porque ele queria aquelas coisas tão absurdas. Quis ler os livros dele. Depois, quis ser outra pessoa – quis ser alguém que sabia como percorrer as dimensões da alma, dos territórios, de todos os corpos. Minha mãe quis que eu ficasse em casa. Estrapolei as dimensões, rasguei a página e me virei do avesso até não me reconhecer mais no espelho. Raspei a cabeça, fiz o santo ou então o incorporei. Depois ela quis que eu me curasse, que tomasse remédio e ficasse bem, ou melhor, me adaptasse. Eu só queria escrever algumas coisas.
E então eu usava umas sapatilhas, não porque fosse bailarina, mas porque meus pés eram diferentes dos outros. Eu também não usava mais óculos, mesmo com mais de nove graus. E então eu me perguntava. O que você quer ser quando crescer? Eu não queria. Crescer era ter que vender minhas horas. As horas que me serviam para escrever alguma coisa. Eu precisava escrever alguma Koisa, eu devia.
Trechos usurpados do do Hilda Hilst - 4 min.
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29.6.10
CANTADAS (do absoluto)
um diálogo com Joe Vitale, autor de Limite Zero. A "identidade apropriada" por T.
I) EXTRA! EXTRA
Memórias que se repetem no subconsciente
se transformam em REPETIDOS problemas.
"antigas aflições renovadas", dizia Shakesperae
"Você tem medo de olhar para dentro", disse Mutarelli
Eu vos digo:
é preciso libertar as memórias, agora.
II) Os cães adentram o cercado
e do ponto de vista de um homem
(que vê eles chegarem enormes, sem deixar de ser homem, do ponto de vista de um cão)
comprimem-se:
medo do esmagamento e
a certeza do devir-fome.
III) Métodos para zerar memórias:
meditação (ativa), sonho e escrita -
e algo mais que devo ter esquecido, já.
IV) RECUERDOS:
Quando realizado o trabalho (tentativa), em 2002,
foi proposto que eu me transubstanciasse em
ANIMAL (macaco)
VEGETAL (galho voante)
MINERAL (pedra)
RESULTADO: memória transmutada em rompimento do menisco (joelho).
Ver também: por que não conseguir alcançar a paz?
V) Deveria ter afirmado
Ihaleakala (Paz do Eu)?
Por via das dúvidas:
IHALEAKALA.
VI) Esse é sua vida
Essa é minha vida
(superando Nelson Rubens)
- Mas doutor, por que sofro dessa enfermidade crônica?
- A responsabilidade é sua.
- Por que as pessoas me enchem tanto o saco?
- A responsabilidade é sua.
- Pra que tanta gente?
- A responsabilidade é sua.
- Por que me foi negado?
- É sua.
- Quem?
- Sua. A paz começa em você.
Paz do Eu (Ihaleakala)
"A culpa é bem mais fácil que a total responsabilidade"
(superando Jesus)
VII) E lhes foram oferecidas duas opções: MÉMÓRIA ou inspiração.
O primeiro, que escolheu o martírio, foi aprisionado pela igreja, família, estado e todas as instituições as quais servir - dentro da cidade, cheia de mortos. O que se inspirou, virou surfista-escritor, como manda o MÉTODO HAVAIANO.
VIII) IMPORTANTE: segundo antes da execução do movimento o insconciente já projeta a intenção. A intenção inconsciente não pode ser controlada. MAS pode ser bem (ou mal) alimentada.
IX) "As intenções são premonições; símbolos que lampejam nos cantos da consciência para indicar o que talvez esteja prestes à ocorrer." pg 18
X) Erro corrigido = Ho’oponopono realizado - Memórias e programas desativados (pessoas, lugares e coisas) - Arquivos do cérebro deletados (limpeza de disco)- arquétipos desmoronando em ritmo dominó - sucumbo ao símbolo, aqui mantrificado:
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
I) EXTRA! EXTRA
Memórias que se repetem no subconsciente
se transformam em REPETIDOS problemas.
"antigas aflições renovadas", dizia Shakesperae
"Você tem medo de olhar para dentro", disse Mutarelli
Eu vos digo:
é preciso libertar as memórias, agora.
II) Os cães adentram o cercado
e do ponto de vista de um homem
(que vê eles chegarem enormes, sem deixar de ser homem, do ponto de vista de um cão)
comprimem-se:
medo do esmagamento e
a certeza do devir-fome.
III) Métodos para zerar memórias:
meditação (ativa), sonho e escrita -
e algo mais que devo ter esquecido, já.
IV) RECUERDOS:
Quando realizado o trabalho (tentativa), em 2002,
foi proposto que eu me transubstanciasse em
ANIMAL (macaco)
VEGETAL (galho voante)
MINERAL (pedra)
RESULTADO: memória transmutada em rompimento do menisco (joelho).
Ver também: por que não conseguir alcançar a paz?
V) Deveria ter afirmado
Ihaleakala (Paz do Eu)?
Por via das dúvidas:
IHALEAKALA.
VI) Esse é sua vida
Essa é minha vida
(superando Nelson Rubens)
- Mas doutor, por que sofro dessa enfermidade crônica?
- A responsabilidade é sua.
- Por que as pessoas me enchem tanto o saco?
- A responsabilidade é sua.
- Pra que tanta gente?
- A responsabilidade é sua.
- Por que me foi negado?
- É sua.
- Quem?
- Sua. A paz começa em você.
Paz do Eu (Ihaleakala)
"A culpa é bem mais fácil que a total responsabilidade"
(superando Jesus)
VII) E lhes foram oferecidas duas opções: MÉMÓRIA ou inspiração.
O primeiro, que escolheu o martírio, foi aprisionado pela igreja, família, estado e todas as instituições as quais servir - dentro da cidade, cheia de mortos. O que se inspirou, virou surfista-escritor, como manda o MÉTODO HAVAIANO.
VIII) IMPORTANTE: segundo antes da execução do movimento o insconciente já projeta a intenção. A intenção inconsciente não pode ser controlada. MAS pode ser bem (ou mal) alimentada.
IX) "As intenções são premonições; símbolos que lampejam nos cantos da consciência para indicar o que talvez esteja prestes à ocorrer." pg 18
X) Erro corrigido = Ho’oponopono realizado - Memórias e programas desativados (pessoas, lugares e coisas) - Arquivos do cérebro deletados (limpeza de disco)- arquétipos desmoronando em ritmo dominó - sucumbo ao símbolo, aqui mantrificado:
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
eu te amo, por favor me perdoa, sinto muito e obrigada
23.6.10
a experiência mítica, por Julio Cortázar
"Cada vez que passeava pelo tempo, quando podia passear por Buenos Aires, e cada vez que passeio por Paris (aqui), sobretudo a noite, sei muito bem que não sou eu mesmo que, durante o dia, leva uma vida comum e normal. Não quero fazer romantismo barato. Não quero falar de estados alterados. Mas é evidente que esse eixo de se por a caminhar por uma cidade como Paris ou Buenos Aires durante a noite, nesse estado ambulatório em que, em um dado momento, desejamos pertencer ao mundo ordinário, me situo com respeito a cidade, e situa a cidade em respeito a mim, em uma relação que os surrealistas gostavam de chamar 'privilegiada'. É dizer que, nesse preciso momento, se produz a passagem, o poente, a osmose, os signos, as descobertas. E tudo isso é o que gerou, em grande parte, o que é escrito em forma de novelas e relatos. Caminhar por Paris - e por isso qualifico Paris como uma cidade mítica -, significa me mover (avançar) em direção a mim. Mas é impossível descrever com palavras. É dizer que, nesse estado, em que ando um pouco perdido, como em uma distração que me faz observar as cadeiras dos bares, as pessoas que passam, e estabelecer, por todo o tempo, relações que compõem frases, fragmentos de pensamentos, de sentimentos... Tudo isso cria um sistema de constelações sentimentais que determinam uma linguagem que não pode ser explicada com palavras. E nesse momento aparecem, em Paris por exemplo, lugares que para mim sempre foram privilegiados. Posso citar um, o primeiro que me vem a memória, perto daqui, em Pont Neuf, ao lado da estátua de Enrique IV, há um farol no fundo. Ali, onde se pára para tomar o "Bateau-Mouche". A noite, a meia noite quando não há mais nada, esse canto solitário é para mim, definitivamente, um quadro de Paul Deuvaux. Essa imanência de uma coisa que pode aparecer, que pode se manifestar, e que o coloca em uma situação que já não tem nada a ver com as categorias lógicas e os acontecimentos ordinários. Também poderia falar do metrô, em Paris. O metrô sempre foi para mim um lugar de passagem. Me basta passar pelo metrô para entrar em uma categoria lógica totalmente diferente das categorias lógicas, onde há mudança na sensação de tempo. Além disso, na história "El perseguidor", há um personagem que descobre que o tempo é completamente diferente quando está no metrô de quando está na superfície. E inclusive pode provar logicamente. Essa é uma sensação, uma experiência que tenho, pelo menos, a cada quinze dias. É descer, e descobrir bruscamente que, em certos estados de distração, no metrô, se tem a impressão de que se pode habitar um tempo que não tem nada a ver com um tempo que existe na superfície, uma vez que saímos na rua. E também estão nas galerias cobertas: a galeria Vivienne... Estão em todos os lugares de Paris que a gente recorre para ficar em um lugar coberto e contudo eram os lugares inquietantes de Lautreamont... Todos esses ambientes cobertos em Paris são absolutamente mágicos e misteriosos, é o que chamo de MÍTICO". entrevista de Julio Cortázar, livre-transcrição por Tamara Costa
Ver também:
Perto da linha do Trópico de Capricórno talvez o lugar de passagem esteja mais para um delírio sob o sol banhado a suor, amarelo manga, papel manteiga sob os olhos como uma imagem do SBT. e tudo que rumo de sombra se assemelhe. talvez o subterrâneo seja a sombra de uma suculenta e centenária árvore-mãe.
Ver também:
Perto da linha do Trópico de Capricórno talvez o lugar de passagem esteja mais para um delírio sob o sol banhado a suor, amarelo manga, papel manteiga sob os olhos como uma imagem do SBT. e tudo que rumo de sombra se assemelhe. talvez o subterrâneo seja a sombra de uma suculenta e centenária árvore-mãe.
22.6.10
menino, o homem.
o menino que era o homem entre os bípedes. ele atravessou a rua despretencioso. parou na calçada. olhou para ela. teve certeza. depois do abraço-urso teve certeza outra vez. talvez tenham sido os olhinhos somados aos dentinhos que juntos - ainda que separados - reluziam algo que de pureza ainda tinha no menino, o homem. o homem entre os meninos. e depois foram silêncios, horas sem dizer nada (hora-abraço). dorme o mal-dizer, as assombrações e tudo aquilo que não deveria ter sido dito. nina tinha no peito algo que batia lento, reduzida a quase nada a força da ânsia. vão-se os corações e quando fica o sorriso há esperança. sim, era o menino. ele estava por perto e sentia pelos dentes dela. e eram símbolos e era tão novo mesmo sendo repetido. era manhã e era cama e era noite e era cada vez menos (menino).
"O eterno é a leonidade que nós vemos no gato." Paulo César Peréio
"O eterno é a leonidade que nós vemos no gato." Paulo César Peréio
10.5.10
ANGÚSTIA
trecho do Conto de Antón Tchekhov
A quem confiarei a minha dor?
"— Hi! hi!… é mesmo…
— Pois bem, "é mesmo", corre!… Será que vais correr sempre dessa maneira? Sim!… Então, queres apanhar ?
— Estou com a cabeça estourando… diz uns dos grandes. Ontem, à noite, na casa de Dukmassov, Vaska e eu bebemos quatro garrafas de conhaque.
— Eu não compreendo como é que se pode mentir assim! indigna-se o outro grande. Êle mente como uma égua!
— Que Deus me castigue se não fôr verdade!
— Verdade como seria galinha com dentes, lona sorri:
— Hi! hi! que gente alegre!…
— Que diabo te… exclama o corcunda. Não queres correr, "sua" peste? É assim que se corre? Dá-lhe com o chicote! Oorre! Diabo! Dá-lhe uma boa chicotada!
Iona sente nas costas o corpo do corcunda que se mexe e ouve a voz que treme; ouve as injúrias que lhe dirigem; olha para as pessoas que o cercam e começa a sentir saudades da solidão. O corcunda berra até ser sufocado por um palavrão de arripiar os cabelos, ou tomado por um violento acesso de tosse...
(...)
Não ganhei nem sequer para a minha aveia, pensa êle; aí está porque me aborreço!… Um homem que faz o que tem que fazer, quando come bem e o seu cavalo igualmente, está sempre tranqüilo."
*Esse texto foi retirado de consciencia.org, disponível por completo neste link
A quem confiarei a minha dor?
"— Hi! hi!… é mesmo…
— Pois bem, "é mesmo", corre!… Será que vais correr sempre dessa maneira? Sim!… Então, queres apanhar ?
— Estou com a cabeça estourando… diz uns dos grandes. Ontem, à noite, na casa de Dukmassov, Vaska e eu bebemos quatro garrafas de conhaque.
— Eu não compreendo como é que se pode mentir assim! indigna-se o outro grande. Êle mente como uma égua!
— Que Deus me castigue se não fôr verdade!
— Verdade como seria galinha com dentes, lona sorri:
— Hi! hi! que gente alegre!…
— Que diabo te… exclama o corcunda. Não queres correr, "sua" peste? É assim que se corre? Dá-lhe com o chicote! Oorre! Diabo! Dá-lhe uma boa chicotada!
Iona sente nas costas o corpo do corcunda que se mexe e ouve a voz que treme; ouve as injúrias que lhe dirigem; olha para as pessoas que o cercam e começa a sentir saudades da solidão. O corcunda berra até ser sufocado por um palavrão de arripiar os cabelos, ou tomado por um violento acesso de tosse...
(...)
Não ganhei nem sequer para a minha aveia, pensa êle; aí está porque me aborreço!… Um homem que faz o que tem que fazer, quando come bem e o seu cavalo igualmente, está sempre tranqüilo."
*Esse texto foi retirado de consciencia.org, disponível por completo neste link
20.4.10
Manifesto aos criadores (Alan Moore)
A Manifest for Creators, foi escrito por Alan Moore, e publicado originalmente numa antiga revista (80’s), intitulada THE COMICS JOURNAL. As publicação foi acessada página de José Carlos Neves (www.alanmoore.com.br). O impresso foi aqui livremente traduzido por Tamara Costa. Enjoy it!
O objetivo deste “criativo manifesto” é tentar definir mais claramente as regras do meio que habitamos, além de deixar claro o que entendemos por direitos e obrigações de todos os envolvidos.
Acreditamos que sem a participação ativa das pessoas criativas em determinação ao curso deste meio, estamos em perigo de se tornar tão responsáveis quanto redundantes, como as outras medias (TV, FILMES, NOVELAS) que estão criando-procriando e dimensionado as criações a partir de negócios.
Através de nossos esforços para manter os negócios, esses que deixam o lado criativo em segundo plano, esperamos criar um ambiente onde possamos combinar a “visão individual de realização” com a “arte massificada”, que é, por conseguinte, qualidade do mercado do entretenimento das massas.
Enquanto definimos as regras, somos seduzidos a redefinir também os termos tradicionais, tais como: autor, distribuidor, editor, e assim por diante.
Também acreditamos que em nosso meio a coerção (repressão) não tem lugar; como também ela é inaceitável em qualquer direção. Nós iremos criar e publicar e distribuir de acordo com o espírito e esforços voluntários.
Existem quatro partes essenciais para nosso mercado: o TRABALHO, a FONTE/fontes de informação, os meios/RECURSOS o PÚBLICO/audiência.
O nítido resultado da criatividade é o TRABALHO.
A origem do TRABALHO é a FONTE da informação.
O TRABALHO se move da fonte para o público por meio dos RECURSOS.
Aqueles que compram e/ou lêem o TRABALHO, através dos por meio de recursos, são A AUDIÊNCIA/PÚBLICO.
Nós começamos com o autor.
Só então o trabalho é criado.
Depois que o trabalho é criado, ele é impresso.
Após a impressão vem a distribuição do trabalho.
Finalmente o trabalho é comprado e com sorte e esperança – lido.
I) A FONTE
A FONTE é onde o TRABALHO se origina: é o AUTOR do TRABALHO.
Acreditamos que o compromisso da FONTE é, primeiramente, com seu trabalho, e isso é necessário assegurar, com criatividade e segurança, que as medidas necessárias ao trabalho do autor estão sob seu único e exclusivo controle.
Preço, formato, paginação, tiragem, design, conteúdo, a presença ou ausência de publicidade, e a assistência dada (dentro dos limites de nossas leis), devem ser resolvidas somente com a autorização da FONTE.
Voluntariamente, apoiamos uns aos outros para assegurar um futuro seguro para nós e para que nosso trabalho se realize dentro dos limites de nossos recursos individuais.
Acreditamos no envolvimento positivo entre AUTORES e EDITORES, com o máximo controle e autonomia entre ambos, e também levamos em consideração a absoluta liberdade para todos os AUTORES, seguidos de absoluta liberdade de publicação para os EDITORES.
Para facilitar isso, um protocolo ou código de comportamento para interação entre AUTORES e EDITORES deve ser estabelecido.
O AUTOR deve criar independente do que ele quer, e publicar, com autonomia, da forma que ele acha apropriado.
O EDITOR deve publicar ou não publicar, independente do que ele acha apropriado.
Presume-se que o AUTOR está oferecendo seu trabalho para publicação de forma integral e não sujeita a alteração. O EDITOR é livre para aceitar ou rejeitar um trabalho que segue esses princípios básicos.
Se o editor achar que não pode publicar o trabalho de um AUTOR devido ao conteúdo ofensivo, ou legalmente suspeito, ele não é obrigado a fazê-lo. Caso o EDITOR rejeite o TRABALHO, o AUTOR é livre para mostrá-lo a outro EDITOR que esteja interessado na publicação; ou, caso ele prefira, que seja possível necogiar as mudanças que o EDITOR considera necessárias para a publicação do TRABALHO. Em qualquer ponto da negociação, qualquer uma das duas partes tem o direito de declarar algum impasse/obstáculo e suspender todas as negociações, sem que isso cause prejuízo ou repercussão. O EDITOR deve tentar ajudar o AUTOR ao máximo possível, financeiramente, tecnicamente, etc, e apoiar os esforços do AUTOR para que ele consiga publicar, por ele mesmo, assim como faz o EDITOR. A extensão da referida ajuda deve estar a critério exclusivo do EDITOR.
No caso dessa situação ocorrer durante a execução do trabalho, EDITOR e AUTOR devem, no melhor cenário, concordar que a edição em questão deve ser publicada pelo AUTOR. Em contrapartida a edição seguinte, e as sucessivas, devem ser outra vez publicadas pelo EDITOR sem recriminações de ambas as partes.
II) O TRABALHO
O TRABALHO será definido de três maneiras:
1) PERIÓDICOS
a) Número de obras
b) Uma tiragem, incluindo séries limitadas e trabalhos intervalados
2) TRABALHOS ESSENCIAIS
a) Novos livros
b) Novas tiragens
3) TRABALHOS DIVERSOS
a) Portfólios, impressões, etc
b) Merchandising
É dado a cada AUTOR/EDITOR todos os requisitos necessários e o direito alienável de determinar a melhor forma de vender - ou não - seu trabalho. Nenhuma regra e nenhuma das alternativas mencionadas aqui são aleatórias. Deve se atentar para o como os trabalhos vendidos - a quem quer que seja. Tudo isso é necessário para conduzir nossos negócios com honra e honestidade.
1) PERIÓDICOS
a) Número de trabalhos: a primeira ligação dos envolvimentos indiretos com a venda é a mais recente revista/periódico que está em andamento. Nos comprometemos em dar o máximo de nossa capacidade para o cumprimento das metas dentro do período requerido, levando em consideração as limitações artísticas e os possíveis atrasos do autor. Presume-se que os distribuidores e as lojas nos informarão sobre as quantidades serem encomendadas. Os distribuidores e lojas devem ser mantidos a par das mudanças nas projeções de envio previsto e serem habilitados para modificar o ordenamento, sem prejudicar ou repercutir, dessas mudanças de envio, num período de, no máximo, 30dias.
b) Uma tiragem (incluindo séries limitadas de quatro edições ou menos) e trabalhos ocasionais: no caso de uma tiragem única, séries limitada e trabalhos intermitentes, os distribuidores e lojas devem notificar, com antecedência, para que seja possível encomendar esses trabalhos dentro de um tempo razoável.
2) TRABALHOS ESSENCIAIS:
(Nota: vemos esses trabalhos com prazo de validade permanente, sempre disposição e nas prateleiras, e, no geral, não são tratados como obras periódicas)
a) Novos livros, ou trabalhos não previamente publicados, devem devem ter data de envio constante determinada pelo autor/autores ou pela pessoa responsável pelaantologia. Todos os meios devem ser apropriados/adequados para manter o trabalho impresso e disponível.
b) Volumes re-impressos, sendo todo e qualquer trabalho anteriormente publicado em prestações devem ter uma data de lançamento anunciada de acordo com o critério dos autores ou das pessoas responsáveis pela antologia.
3) TRABALHOS VARIADOS
(Nota: como os trabalhos essenciais, vemos esses trabalhos como tendo vida permanente, sempre vistos nas prateleiras, geralmente não são tradados como trabalhos periódicos)
a) Impressões, portfólios, assinaturas e número limitados de edições e posters relacionados ou não relacionados acima, devem ser vendidos em quantidade e preços que devem estar a critério do autor/autores envolvido.
b) Merchandising: Todo comércio, incluindo brinquedos, jogos, puzzles, figurinhas, bottons, produtos alimentícios e bugigangas em geral devem ser licenciadas pelo autor ou proprietário, e devem ser sempre oferecidos ao máximo de distribuidores e lojas possíveis.
No que diz respeito a todos os itens anteriores, deixamos registrados que todos os trabalhos sob venda indireta devem estar em conformidade com esses princípios (liberados) por três ou quatro meses. Por outro lado, vendas diretas a preços de varejo para pessoas comuns devem ser feitas a critério do autor/editor.
III) OS MEIOS
Os meios são uma combinação entre PUBLICAÇÃO, IMPRESSÃO E DISTRIBUIÇÃO.
1) PUBICAÇÕES AUTÔNOMAS: o AUTOR que faz os tratamentos para impressão e distribuição de seu trabalho é considerado um editor autônomo.
2) PUBLICAÇÕES TRADICOINAIS: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores), responsável pela organização da impressão e distribuição do trabalho do autor é um editor tradicional.
3) EDITOR CHEFE: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores) é que possui ou controla os direitos autorais do trabalho, e quem responsável pela criação da arte do trabalho e história, impressão e distribuição do trabalho é um EDITOR-CHEFE.
Imprimir é uma técnica que utiliza tinta, papel e impressoras para criar múltiplas cópias do trabalho. Existem dois tipos básicos de distribuição:
1) VENDA DIRETA: venda da FONTE ao leitor/consumidor.
2) VENDAS INDIRETAS
a) Lojas de venda: vendas da fonte a loja, e em seguida chega ao leitor/consumidor.
b) Pontos de distribuição: vendas da fonte para o distribuidor, depois para a loja e só assim chega ao leitor/consumidor.
Nós concordamos em dividir uns com os outros toda e qualquer informação que temos sobre esses e todos os meios adicionais, além de escolher os balanços adequados de todos os MEIOS mais apropriados para divulgação de nosso trabalho.
Nós concordamos em monitorar as condições indiretas de venda mercadológica e encorajamos os distribuidores e lojas a manter contato com a comunidade de editores autônomos. Concordamos em reconhecer, as comunicações que exigem reconhecimento (lojas e distribuidoras) com até 48h após o recebimento da referida comunicação. Desentendimentos podem devem ser evitados.
Para nosso benefício mútuo, encorajamos e concordamos em prestar uma análise cuidadosa pa qualquer pessoa que participe dos MEIOS, onde essas idéias serão úteis para auxiliar a transferência do TRABALHO para a audiência.
Contribuições: Stephen Bissette, Kevin Eastman, Dave Gibbons, Peter Leird, Frank Miller, Alan Moore, Stephen Murphy, Dave Sim, John Totleben, Rick Veitch, Michael Zulli.
*Este post é dedicado a Carlitus, o sri-HQ do Planalto
6.4.10
O Pesa Nervos
de Antonin Artaud
O difícil é encontrar de fato o seu lugar e restabelecer a comunicação consigo mesmo. O todo está em certa floculação das coisas, no agrupamento de toda essa pedraria mental em torno de um ponto que falta justamente encontrar.
E eu, eis o que penso do pensamento:
A INSPIRAÇÃO CERTAMENTE EXISTE.
E há um ponto fosforescente onde toda a realidade se reencontra, porém mudada, metamorfoseada — e pelo quê? — um ponto de mágica utilização das coisas. E eu creio
nos aerólitos mentais, em cosmogonias individuais.
Toda a escritura é uma porcaria.
As pessoas que saem do vago para tentar precisar seja o que for do que se passa em seu pensamento são porcos.
Todo o mundo literário é porco, e especialmente o desse tempo.
Todos aqueles que têm pontos de referência no espírito, quero dizer, de um certo lado da cabeça, em bem localizados embasamentos de seus cérebros, todos aqueles que são mestres em sua língua, todos aqueles para quem as palavras tem um sentido, todos aqueles para quem existem altitudes na alma, e correntes de pensamento, aqueles que são o espírito da época, e que nomearam essas correntes de pensamento, eu penso em suas tarefas precisas, e nesse rangido de autômato que espalha aos quatro ventos seu espírito, — são porcos.
Aqueles para quem certas palavras têm sentido, e certas maneiras de ser, aqueles que
mantêm tão bem os modes afetados, aqueles para quem os sentimentos têm classes e que
discutem sobre um grau qualquer de suas hilariantes classificações, aqueles que crêem ainda em "termos", aqueles que remoem ideologias que ganham espaço na época, aqueles cujas mulheres falam tão bem e também e que falam das correntes da época, aqueles que crêem ainda numa orientação do espírito, aqueles que seguem caminhos, que agitam nomes, que fazem bradar as páginas dos livros — são os piores porcos.
Você é bem gratuito, moço!
Não, eu penso em críticos barbudos.
Eu já lhes disse: nada de obras, nada de língua, nada de palavra, nada de espírito, nada.
Nada, exceto um belo Pesa-nervos.
Uma espécie de estação incompreensível e bem no meio de tudo no espírito.
E não esperem que eu lhes nomeie esse tudo, que eu lhes diga em quantas partes ele se
divide, que eu lhes diga seu peso, que eu ande, que eu me ponha a discutir sobre esse tudo, e que, discutindo, eu me perca e me ponha assim, sem perceber, a PENSAR — e que ele se ilumine, que ele viva, que ele se enfeite de uma multidão de palavras, todas bem cobertas de sentido, todas diversas, e capazes de expor muito bem todas as atitudes, todas as nuanças de um pensamento muito sensível e penetrante.
Ah, esses estados que nunca são nomeados, essas situações eminentes da alma, ah, esses intervalos de espírito, ah, esses minúsculos malogros que são o pão de cada dia de minhas horas, ah, esse povo formigante de dados — são sempre as mesmas palavras que me servem e na verdade eu não pareço mexer muito em meu pensamento, mas eu mexo nele muito mais do que vocês na realidade, barbas de asnos, porcos pertinentes, mestres do falso verbo, arranjadores de retratos, folhetinistas, rasteiros, ervateiros, entomologistas, praga de minha língua.
Eu lhes disse que não tenho mais minha língua, mas isto não é razão para que vocês
persistam, para que vocês se obstinem na língua.
Vamos, eu serei compreendido dentro de dez anos pelas pessoas que farão o que vocês
fazem hoje. Então meus gêiseres serão conhecidos, meus gelos serão vistos, o modo de
desnaturar meus venenos estará aprendido, meus jogos d’alma estarão descobertos. Então meus cabelos estarão sepultos na cal, todas minhas veias mentais, então se perceberá meu bestiário e minha mística terá se tornado um chapéu. Então ver-se-á fumegar as junturas das pedras, e arborescentes buquês de olhos mentais se cristalizarão em glossários, então verse-ão cair aerólitos de pedra, então ver-se-ão cordas, então se compreenderá a geometria sem espaços, e se aprenderá o que é a configuração do espírito, e se compreenderá como eu perdi o espírito.
Então se compreenderá por que meu espírito não está aí, então ver-se-ão todas as línguas estancar, todos os espíritos secar, todas as línguas encorrear, as figuras humanas se achatarão, se desinflarão, como que aspiradas por ventosas secantes, e essa lubrificante membrana continuará a flutuar no ar, esta membrana lubrificante e cáustica, esta membrana de duas espessuras, de múltiplos graus, de um infinito de lagartos, esta melancólica e vítrea membrana, mas tão sensível, tão pertinente também, tão capaz de se multiplicar, de se desdobrar, de se voltar com seu espelhamento de lagartos, de sentidos, de estupefacientes, de irrigações penetrantes e virosas, então tudo isto será considerado certo, eu não terei mais necessidade de falar.
O difícil é encontrar de fato o seu lugar e restabelecer a comunicação consigo mesmo. O todo está em certa floculação das coisas, no agrupamento de toda essa pedraria mental em torno de um ponto que falta justamente encontrar.
E eu, eis o que penso do pensamento:
A INSPIRAÇÃO CERTAMENTE EXISTE.
E há um ponto fosforescente onde toda a realidade se reencontra, porém mudada, metamorfoseada — e pelo quê? — um ponto de mágica utilização das coisas. E eu creio
nos aerólitos mentais, em cosmogonias individuais.
Toda a escritura é uma porcaria.
As pessoas que saem do vago para tentar precisar seja o que for do que se passa em seu pensamento são porcos.
Todo o mundo literário é porco, e especialmente o desse tempo.
Todos aqueles que têm pontos de referência no espírito, quero dizer, de um certo lado da cabeça, em bem localizados embasamentos de seus cérebros, todos aqueles que são mestres em sua língua, todos aqueles para quem as palavras tem um sentido, todos aqueles para quem existem altitudes na alma, e correntes de pensamento, aqueles que são o espírito da época, e que nomearam essas correntes de pensamento, eu penso em suas tarefas precisas, e nesse rangido de autômato que espalha aos quatro ventos seu espírito, — são porcos.
Aqueles para quem certas palavras têm sentido, e certas maneiras de ser, aqueles que
mantêm tão bem os modes afetados, aqueles para quem os sentimentos têm classes e que
discutem sobre um grau qualquer de suas hilariantes classificações, aqueles que crêem ainda em "termos", aqueles que remoem ideologias que ganham espaço na época, aqueles cujas mulheres falam tão bem e também e que falam das correntes da época, aqueles que crêem ainda numa orientação do espírito, aqueles que seguem caminhos, que agitam nomes, que fazem bradar as páginas dos livros — são os piores porcos.
Você é bem gratuito, moço!
Não, eu penso em críticos barbudos.
Eu já lhes disse: nada de obras, nada de língua, nada de palavra, nada de espírito, nada.
Nada, exceto um belo Pesa-nervos.
Uma espécie de estação incompreensível e bem no meio de tudo no espírito.
E não esperem que eu lhes nomeie esse tudo, que eu lhes diga em quantas partes ele se
divide, que eu lhes diga seu peso, que eu ande, que eu me ponha a discutir sobre esse tudo, e que, discutindo, eu me perca e me ponha assim, sem perceber, a PENSAR — e que ele se ilumine, que ele viva, que ele se enfeite de uma multidão de palavras, todas bem cobertas de sentido, todas diversas, e capazes de expor muito bem todas as atitudes, todas as nuanças de um pensamento muito sensível e penetrante.
Ah, esses estados que nunca são nomeados, essas situações eminentes da alma, ah, esses intervalos de espírito, ah, esses minúsculos malogros que são o pão de cada dia de minhas horas, ah, esse povo formigante de dados — são sempre as mesmas palavras que me servem e na verdade eu não pareço mexer muito em meu pensamento, mas eu mexo nele muito mais do que vocês na realidade, barbas de asnos, porcos pertinentes, mestres do falso verbo, arranjadores de retratos, folhetinistas, rasteiros, ervateiros, entomologistas, praga de minha língua.
Eu lhes disse que não tenho mais minha língua, mas isto não é razão para que vocês
persistam, para que vocês se obstinem na língua.
Vamos, eu serei compreendido dentro de dez anos pelas pessoas que farão o que vocês
fazem hoje. Então meus gêiseres serão conhecidos, meus gelos serão vistos, o modo de
desnaturar meus venenos estará aprendido, meus jogos d’alma estarão descobertos. Então meus cabelos estarão sepultos na cal, todas minhas veias mentais, então se perceberá meu bestiário e minha mística terá se tornado um chapéu. Então ver-se-á fumegar as junturas das pedras, e arborescentes buquês de olhos mentais se cristalizarão em glossários, então verse-ão cair aerólitos de pedra, então ver-se-ão cordas, então se compreenderá a geometria sem espaços, e se aprenderá o que é a configuração do espírito, e se compreenderá como eu perdi o espírito.
Então se compreenderá por que meu espírito não está aí, então ver-se-ão todas as línguas estancar, todos os espíritos secar, todas as línguas encorrear, as figuras humanas se achatarão, se desinflarão, como que aspiradas por ventosas secantes, e essa lubrificante membrana continuará a flutuar no ar, esta membrana lubrificante e cáustica, esta membrana de duas espessuras, de múltiplos graus, de um infinito de lagartos, esta melancólica e vítrea membrana, mas tão sensível, tão pertinente também, tão capaz de se multiplicar, de se desdobrar, de se voltar com seu espelhamento de lagartos, de sentidos, de estupefacientes, de irrigações penetrantes e virosas, então tudo isto será considerado certo, eu não terei mais necessidade de falar.
26.3.10
senhoura Lispector
para Júlia
Entrevista que assisti na exposição da senhoura Lispector, no CCBB Brasília, ainda neste último mês. Nunca tinha a visto antes - nem por vídeo e mal por foto. Roubei Água Viva ainda na 3º ou 4º série (na biblioteca da Escola Paroquial), onde estudei. Tinha gostado da capa azul. Só fui ler anos depois.
Na verdade, só consegui ler (auto-sugestão) depois que fucking dad morreu (aqui fagocitado), este e outras dezenas de livros que eu colecionava (mesmo sem lê-los). Meu pai colecionava livros também, mas ele lia. E lia quase todo dia. Tenho uma fotografia de cérebro dele deitado na cama depois do almoço lendo, talvez Cavalo de Tróia. Meu avô (pai do pai) colecionou também muitas coisas, das que foram parar lá em casa (canetas, chaveiros, lápis, discos e também livros) após a falência de seus órgãos. Tive vontade de compreendê-los; ainda tenho.
Foi então que Clarice permaneceu em minha estante. Assim como jorge e meus outros cavaleiros. E mesmo depois d"O ovo e a galinha" talvez ainda não tivesse compreendido (assim como ela mesmo diz), e mesmo depois de ouvir, e re-ler, repetidas vezes - até hoje leio esse conto -, talvez não fosse possível compreendê-la. Nem ele. Água Viva antes e depois de Sartre. José Jorge antes e depois de sua morte. Clarice antes e depois do olho.
De volta aos livros e as coleções, agora sim, mais viva que morta, aquela imagem little more blue de Clarice teria entrado junto no abismo proposto. Esta distinta senhoura de língua presa, olhar calejado, misteriosa cadênciosa, e cuidadosa, muito - no olhar impresso na tela de minha'lma. Agora miro TEUS OLHOS: SIM, ABISMO.
aqui transcrito:
"Eu nunca assumi! Eu não sou uma profissional - só escrevo quando eu quero - (pausa). Sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro - em relação ao outro. Agora eu... Faço questão de não ser um profissional para manter minha liberdade."
Entrevista que assisti na exposição da senhoura Lispector, no CCBB Brasília, ainda neste último mês. Nunca tinha a visto antes - nem por vídeo e mal por foto. Roubei Água Viva ainda na 3º ou 4º série (na biblioteca da Escola Paroquial), onde estudei. Tinha gostado da capa azul. Só fui ler anos depois.
Na verdade, só consegui ler (auto-sugestão) depois que fucking dad morreu (aqui fagocitado), este e outras dezenas de livros que eu colecionava (mesmo sem lê-los). Meu pai colecionava livros também, mas ele lia. E lia quase todo dia. Tenho uma fotografia de cérebro dele deitado na cama depois do almoço lendo, talvez Cavalo de Tróia. Meu avô (pai do pai) colecionou também muitas coisas, das que foram parar lá em casa (canetas, chaveiros, lápis, discos e também livros) após a falência de seus órgãos. Tive vontade de compreendê-los; ainda tenho.
Foi então que Clarice permaneceu em minha estante. Assim como jorge e meus outros cavaleiros. E mesmo depois d"O ovo e a galinha" talvez ainda não tivesse compreendido (assim como ela mesmo diz), e mesmo depois de ouvir, e re-ler, repetidas vezes - até hoje leio esse conto -, talvez não fosse possível compreendê-la. Nem ele. Água Viva antes e depois de Sartre. José Jorge antes e depois de sua morte. Clarice antes e depois do olho.
De volta aos livros e as coleções, agora sim, mais viva que morta, aquela imagem little more blue de Clarice teria entrado junto no abismo proposto. Esta distinta senhoura de língua presa, olhar calejado, misteriosa cadênciosa, e cuidadosa, muito - no olhar impresso na tela de minha'lma. Agora miro TEUS OLHOS: SIM, ABISMO.
aqui transcrito:
"Eu nunca assumi! Eu não sou uma profissional - só escrevo quando eu quero - (pausa). Sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro - em relação ao outro. Agora eu... Faço questão de não ser um profissional para manter minha liberdade."
21.3.10
roda de equinócio
"A inspiração dos vates, dos profetas que davam vaticinii em estado de transe como se o deus falasse por sua boca, foi perseguida com ênfase pelas autoridades romanas." Deusas e adivinhas, de Santiago Montero
Aqui renascida: 21 de Março. Eu, Carmenta, Deusa da previsão-verso, coroada DEMENTIA por vós que sois homens (romano-farpados).
Às 21h do dia 21/03
Berrou Carmenta
já nascida com a tatuagem de plexo/anúncio:
De todos os cantos, o canto de todas'elas.
Disseram que cantou escroto
e foi esfolada
por ter insunuado o verbo à dança com o despudor
e desembaraço -
teria também sussurado ouvidados:
amem e se deixem levar por esta força.
AQUI GARGALHO.
Qual força, minha senhoura?
A que te move, seja ela fôlego, rumo ou desejo - não confundir com piedade ou compaixão aos fracos.
Há de se compadecer, sempre
só que somente
EM NOME DOS FORTES,
dos grandes espíritos,
das explosões de luz e clarividência.
Há de se deixar levar -
ESTA É A DANÇA.
Este é meu corpo
imensurado
que a vós dedico, sempre:
eterna.
Enquanto isso, dançavam todas (esfoladas vivas):
Carmenta, a Fauna, Parcas, Egéria, Juno, Fortuna, Dido, Tanaquil, Pítia, Monstra, Andrógina Lilu, Daphne, Madalena, Santa Maria da Cabeça, Marina T., Clarice, Hilda H, A Puta Albina...
*Este texto foi escrito por Madame Felix Culpa, entidade co-habitante em Juliet Jones e Srta T.
* Nasce também Tamara Costa (21/03/1984).
Aqui renascida: 21 de Março. Eu, Carmenta, Deusa da previsão-verso, coroada DEMENTIA por vós que sois homens (romano-farpados).
Às 21h do dia 21/03
Berrou Carmenta
já nascida com a tatuagem de plexo/anúncio:
De todos os cantos, o canto de todas'elas.
Disseram que cantou escroto
e foi esfolada
por ter insunuado o verbo à dança com o despudor
e desembaraço -
teria também sussurado ouvidados:
amem e se deixem levar por esta força.
AQUI GARGALHO.
Qual força, minha senhoura?
A que te move, seja ela fôlego, rumo ou desejo - não confundir com piedade ou compaixão aos fracos.
Há de se compadecer, sempre
só que somente
EM NOME DOS FORTES,
dos grandes espíritos,
das explosões de luz e clarividência.
Há de se deixar levar -
ESTA É A DANÇA.
Este é meu corpo
imensurado
que a vós dedico, sempre:
eterna.
Enquanto isso, dançavam todas (esfoladas vivas):
Carmenta, a Fauna, Parcas, Egéria, Juno, Fortuna, Dido, Tanaquil, Pítia, Monstra, Andrógina Lilu, Daphne, Madalena, Santa Maria da Cabeça, Marina T., Clarice, Hilda H, A Puta Albina...
*Este texto foi escrito por Madame Felix Culpa, entidade co-habitante em Juliet Jones e Srta T.
* Nasce também Tamara Costa (21/03/1984).
2.3.10
Esbugalhos (Olhos são Brechas).
Este texto foi postado em brechadiaria.wordpress.com, tratado-parceria de Danilounge e Tamarocks
Alguns homens passam por esta vida de olhos esbugalhados. Vemos em seus olhos reflexos de imensidão e perplexidade. E se um dia lhe perguntam – por que olhos tão salientes? – sobressaído, ainda, hão de devorar-te na escavadura de negros feixes oleos’úmidos.
Esbugalhados enfim, deitamo-nos. Lembro de ter fundido-me em encantadores feixes púrpuros, ainda com os olhos abertos fronte ao confuso espelho da brecha de tuas pupilas. E já não era mais o meu – ou o teu – braço – nuca – tornozelo – nuca – nuca. Tua mão meu pescoço. Fundimo-nos, e isso teve nos anulado como um feixe desfalecido e tranquilo. Acordo e vejo a luz, já é dia.
Vejo-me em teus olhos: paredro.
Minh’alma a flor do rosto.
De todos os olhos, o olho.
Redondo e profundo: buraco negro.
Fundo – pantanoso – úmido – meigo.
Alguns seres morrem desta vida também esbugalhados.
Alguns homens passam por esta vida de olhos esbugalhados. Vemos em seus olhos reflexos de imensidão e perplexidade. E se um dia lhe perguntam – por que olhos tão salientes? – sobressaído, ainda, hão de devorar-te na escavadura de negros feixes oleos’úmidos.
Esbugalhados enfim, deitamo-nos. Lembro de ter fundido-me em encantadores feixes púrpuros, ainda com os olhos abertos fronte ao confuso espelho da brecha de tuas pupilas. E já não era mais o meu – ou o teu – braço – nuca – tornozelo – nuca – nuca. Tua mão meu pescoço. Fundimo-nos, e isso teve nos anulado como um feixe desfalecido e tranquilo. Acordo e vejo a luz, já é dia.
Vejo-me em teus olhos: paredro.
Minh’alma a flor do rosto.
De todos os olhos, o olho.
Redondo e profundo: buraco negro.
Fundo – pantanoso – úmido – meigo.
Alguns seres morrem desta vida também esbugalhados.
25.2.10
When i listen your voice...
Um dia eles terão o direito de ouvir
a refinada resposta d'ela, a que esteve por aqui
tão perto do que imaginava ser vida possível
E ERA
(uma espécie de toque)
- com muito som e fúria.
E continuará mais viva dos que entre os vivos
- por ela e em ela: experimentos de tua alma.
.. and Marcy songs will echoing through the halls of psychiatric hospital
Fuck the doctor!
Ver também: Marcy Mars, my girl
a refinada resposta d'ela, a que esteve por aqui
tão perto do que imaginava ser vida possível
E ERA
(uma espécie de toque)
- com muito som e fúria.
E continuará mais viva dos que entre os vivos
- por ela e em ela: experimentos de tua alma.
.. and Marcy songs will echoing through the halls of psychiatric hospital
Fuck the doctor!
Ver também: Marcy Mars, my girl
24.2.10
Madame Felix Culpa
Aqui vos apresento: Madame Felix Culpa, ordinária asceta.
Um oferecimento de incorporações Juliet Jones e Srta T. LTDA.
Um oferecimento de incorporações Juliet Jones e Srta T. LTDA.
22.2.10
pearls
:. Onde está a beleza? Onde estão o heroísmo, os grandes feitos? Onde se esconderam os heróis? Por que as pessoas se fecharam em sua concha e vigiam cada palavra, assustadas, cada gesto? Têm medo de tudo - se falam com sinceridade, têm receio de ter "falado demais". Só nos bailes de máscaras é possível dizer a verdade. Ora, a vida não é um baile de máscaras! Ou, pelo menos, é um baile de máscaras sem a insolência declarada dos verdadeiros bailes de máscaras." Marina Tsvetáieva, in Vivendo sob o fogo
:. A corrida do lobo branco pela montanha em busca de uma refeição: o caribu. Também a agilidade da foca versus a força do tubarão.
:.Eu busco "a: resposta, aquele "Oh!'. Sabe os surfistas que esperam a grande onda, o tubo? Estou atrás do tubo! Marília Gabriela, Em estado de graça - entrevista publicada na Cláudia de fevereiro
:. Eu queria penetrar a morte sem enlouquecer e coloquei-me diante da Esfinge: “Ou entras no abismo, ou entro eu”. Karl Jaspers
:. "Neurinos vindos do sol estão aquecendo a terra e agindo como um microondas..." in 2012, o filme
12.2.10
Breque de carnaval (marchinha infame)
Arruda se fodeu - se fodeu
foi roubar dinheiro na capital
acabou na solitária do xilindró
graças a intervenção federal
- isquidindindidô (que dor)
Arruda se fodeu - se fodeu
tá com o rabo preso até o talo
passou o rodo no dinheiro sujo
e caralho! - é deosh, é deosh
vai ficar sem carnaval
E OLHA O BREQUE!
*PAUSA PRO CARNAVAL... E a vira-virou, VIROU.
Ver também: STF nega pedido de defesa e mantém Arruda preso
foi roubar dinheiro na capital
acabou na solitária do xilindró
graças a intervenção federal
- isquidindindidô (que dor)
Arruda se fodeu - se fodeu
tá com o rabo preso até o talo
passou o rodo no dinheiro sujo
e caralho! - é deosh, é deosh
vai ficar sem carnaval
E OLHA O BREQUE!
*PAUSA PRO CARNAVAL... E a vira-virou, VIROU.
Ver também: STF nega pedido de defesa e mantém Arruda preso
10.2.10
Ain't no grave
Ele fecha os olhos e vira o rosto para os dois lados numa tentativa de capturar tudo que está a sua volta. Lentamente a intenção de um sorriso ecoa em seu semblante. Dentro do quarto a cortina ondulava ao vento e lhe confirmara algo. Lá fora a nuvem se juntava a fumaça dos carros – e acima de tudo isso o ambiente é céu (seu). Dali, tudo parecia tão pequenino, tão calculável... A surpresa da cidade-tédio clamou ainda - três vezes - por ele. Nunca o somente pão, nunca o tão só o tijolo, nem o sonho. Seria a noite um buraco? Disse "nada é tão grave", e fechou os olhos outra vez.
"Ain't no grave can hold my body down..."
Ver também:
"Ain't no grave can hold my body down..."
Ver também:
7.2.10
sobre retórica e democracia
"Foi a nossa cidade que revelou a cultura, que descobriu e organizou todas estas vantagens, que nos ensinou a agir e dulcificou as nossas relações, e que distinguiu entre as desgraças provocadas pela ignorância e pela necessidade, e ensinou a precavermo-nos contra aquelas e a suportar estas corajosamente. Foi ela que honrou a eloquência, que todos desejam, e cujos possuidores são invejados. Ela tem consciência de que somos, de todos os animais, os únicos que a natureza dotou deste privilégio e que, por termos esta superioridade, diferimos em tudo o mais; via que nas demais atividades a sorte que é frequente que os inteligentes sejam mal sucedidos e os tolos prosperem, mas que os discursos belos e artísticos não são apanágio das pessoas inferiores, mas obra de uma alma que pensa bem; que os sábios e os que parecem ignorantes diferem uns dos outros sobretudo nisto, e ainda que os que foram criados desde início como homens livres não se conhecem pela coragem, riqueza ou qualidades dessa espécie, mas se distinguem sobretudo pela maneira de falar, e é este o sinal mais seguro da educação de cada um de nós, e aqueles que sabem usar bem da palavra, não só são poderosos no seu país, como honrados nos outros". (Isócrates - in Hélade, trecho disponível no artigo Definição de retórica e cultura grega)
5.2.10
Messenger bird (idéias no ar)
Ou sobre o que os pássaros estão fazendo, in RITUAL VESPERTINO
Isso é uma transmissão decodificada por um excêntrico pássaro (cyber bird) que sobreviveu a catástrofe das ondas de propagação via eletricidade - nuvem informativa - que culminou no fim do tempo dos humanos. Ano 2077: datacenter externo reativado em Cloud Computing (via birds). Aqui relatado:
Dos homens passamos a pássaros. Esses que simplesmente voam - sem saber pra onde vão e ainda assim seguem seu rumo, sem titubeios ou preocupações. Pré-ocupação é relato. "Não somos mensagem, somos apenas os mensageiros", Wings of Desire (merci, Wim Wenders). No tempo das asas, quem tem mão é rei. Não somos a mensagem, reitero. Aqui nego este posto e disfarço meus dedos (aberração de usura incalculável) entre as penugens. Não temos acesso nem sequer sonhamos onde as mensagens estão armazenadas. Temos a tarefa de transmití-las, repassá-las. O segredo da placa-mãe não deve ser violado (Gaya Elastic Compute Cloud).
Do armazenamento de toda informação que fora destrinchada pouco se fala. Sabemos que está em algum lugar mas a nós não cabe a pergunta. Acesso retomo wireless - wi-fi protected acess. Precisamos voar - repassar a mensagem - não temos tempo para questionamentos. Não sabemos qual é a mensagem. Atenção, desafios no ar: seguir fluxo de segurança e não afetar o day-fly-day dos pássaros.
Sou um dos poucos pássaros (civilizado-rememorado) que ainda ondulam via tweets. Eis que a força da civilidade não resiste ao chamado da natureza - e ao entusiasmo do Cloud. Aqui, decodificada a vibração de suas mensagens, já que temos a própria linguagem bird, que independe das palavras. Vibração propagada com sucesso. A conservação do circunscrito entre o visível e o não-visível, aqui relatada. Múltipo quadridimensional. Ouvidos humanos não costumam detectar essa espécie de ruído – da superação dos tweets.
Tente captar mais uma vez. Ok. Mensagem decodificada. Mãos a obra, asas. Grandes idéias não irrompem de súbito. Vou ultrapassar o número de caracteres. Isso pode ser mortal.
Estrelas azuis quentíssimas tostam meu bico enquanto daqui (wireless) ultrapasso o limite de caracteres permitidos. Oh gosh, protect my overdone tweets. Se vocês soubessem a ordem dos céus, talvez eu não tivesse existido. Nem passado da terra às nuvens. Foi preciso voar pra continuar, foi preciso ouvir o chamado. Talvez não fosse possível ser tão pássaro sem ao menos ter a noção disso.
WHEN THE NIGHT IS COMMING...
Sucumbo ao símbolo
Outros figuras potencializam necessidades
Então, aqui visualiza-se
O olho que dança na nuvem
Diante dos sete sois que se explodem
E reconectam-se a placa-mãe
Atenção:
Risadas são códigos
Acesso as informações registradas perdidas no intermundo finalizada. Au revoir e à revoada. Cambio... Cam... C...
...
...
Ver também: Mas o que é mesmo Cloud Computing? e TinyUrl (o zero kcal das urls)
*Este post está participando do Concurso Profissão Blogueiro, que vai premiar três blogueiros com netbook e kit completo para quem quer ter um blog de sucesso. Acesse: www.ideiasnoar.com.br/profissaoblogueiro.
3.2.10
ligações (periglosas)
O Mr. Ron, grande german-bróder, está chegando na capital. Fico encarregada de recepcioná-lo além de incorporá-lo ao brasa way of life. Oh ele mostrando as asinhas no twitter.
Não esquecer: a viagem é longa, o amor líquido, o anúncio grátis, olhinhos de Kala, técnicas matinais para recuerdos (delírios), e o espaço literário de Blanchot.
Não esquecer: a viagem é longa, o amor líquido, o anúncio grátis, olhinhos de Kala, técnicas matinais para recuerdos (delírios), e o espaço literário de Blanchot.
16.1.10
Jazida
Olhos Corrompidos Pelas Circunstâncias
(AQUI JAZ LEÃO)
- entre outras taras e consumos -
ainda que desconfiado,
sobe a montanha
com o que ainda lhe resta de confiança.
No cume se instala;
constrói uma muralha (quadrada)
onde está suspensa
a Rosa Azul Espiralada
- que brota
(e deixa-se morrer)
tola entre as pedras da tosquidão.
Na constante tentativa de
EXALTAÇÃO
Olhos alonga os braços
e curva-se DIVINO
mas é impossível alcançá-la
- ainda -
tão menos em altura
quanto em profundidade.
Raras rosas azuis
sutis estranhas rosas
desconfortantes
- por serem únicas? por manterem-se ternas?
Assombro e Fascínio, arregalados
tolos entre os Olhos
de todas entre as
escolhidas (escarlate)
que apodrecem
contínuas.
Não contente em ter
cercado muralhas
passa a trazer mais pedras
- desta vez para o telhado.
Coberto e soterrado
afunda-se sobre o próprio domínio
TERRA
prostrado eterno azul - no tempo das rosas
do acima-azulado que reflete a beleza
de olhos estáticos arregalados
tão somente na poesia-última
que brota
do último fôlego empoeirado
e imortal
que ainda canta apaixonado:
que - UM DIA - fosse possível
compreendê-la.
Ver também: Faraway, so close
(AQUI JAZ LEÃO)
- entre outras taras e consumos -
ainda que desconfiado,
sobe a montanha
com o que ainda lhe resta de confiança.
No cume se instala;
constrói uma muralha (quadrada)
onde está suspensa
a Rosa Azul Espiralada
- que brota
(e deixa-se morrer)
tola entre as pedras da tosquidão.
Na constante tentativa de
EXALTAÇÃO
Olhos alonga os braços
e curva-se DIVINO
mas é impossível alcançá-la
- ainda -
tão menos em altura
quanto em profundidade.
Raras rosas azuis
sutis estranhas rosas
desconfortantes
- por serem únicas? por manterem-se ternas?
Assombro e Fascínio, arregalados
tolos entre os Olhos
de todas entre as
escolhidas (escarlate)
que apodrecem
contínuas.
Não contente em ter
cercado muralhas
passa a trazer mais pedras
- desta vez para o telhado.
Coberto e soterrado
afunda-se sobre o próprio domínio
TERRA
prostrado eterno azul - no tempo das rosas
do acima-azulado que reflete a beleza
de olhos estáticos arregalados
tão somente na poesia-última
que brota
do último fôlego empoeirado
e imortal
que ainda canta apaixonado:
que - UM DIA - fosse possível
compreendê-la.
Ver também: Faraway, so close
6.1.10
estranhas ocupações
"Como os escribas continuarão, os poucos leitores que no mundo havia vão mudar de profissão e adotar também a de escriba. Cada vez mais os países serão compostos por escribas e por fábricas de papel e tinta, os escribas de dia e as máquinas de noite para imprimir o trabalho dos escribas." Julio Cortázar, Fim do mundo do Fim, in História de Cronópios e Famas
Ver também: Srta T. na Cronópios - entre relinchos, cócegas de privilégio, entre outros desbundes, com pré-tratado Das Cavalidades.
Ver também: Srta T. na Cronópios - entre relinchos, cócegas de privilégio, entre outros desbundes, com pré-tratado Das Cavalidades.
3.1.10
"O que me assombra na loucura é a distância - os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo, possuem o marco de eternidade que ostenta a loucura. Diante da morte não sabia para onde voltar-me: inelutável, decisiva. Hoje, junto dos locucos, sinto certo descaso pela morte: cava, subterrânea, desintegração, fim. Que mais? Morrer é imundo e humilhante. O morto é náuseo, e se observado, acusa alto a falta do que o distinguia. A morte anarquiza con toda dignidade do homem. Morrer é ser exposto aos cães covardemente." Maura Lopes Cançado, in Hospício é Deus
Ver também: Crematório Metropolitano VIDA PERPÉTUA, em Valparaíso (GO) - fotos
Ver também: Crematório Metropolitano VIDA PERPÉTUA, em Valparaíso (GO) - fotos
2.1.10
Das cavalidades
Antístenes terá dito a Platão: “Eu vejo um cavalo, mas não vejo a cavalidade”, ao que Platão respondeu: “Porque não tens olhos para vê-la…”
- Hoje estou com tanta raiva que preciso bater em uma mulher, maltratar um bichinho sabe? - perguntava-se Cara, que ao meu lado falava sozinho. Minha ação repentina foi responder "Sabe? Sabe? Sei, claro. Aceita uma vassoura no rabo?". Face a face, ou cara-a-cara, no sistema antigo, tal linguagem fora proibida. Agora somos autorizados a falar de tudo, ou quase. Instintos repulsivos. Nós, os cavalos. Daqui, ME SEPARO. Ultrapassagem pela DIREITA - rápido, antes de ser alcançada pela Cavalaria de Guarda.
Rua do Ouvidor, 27 de Dezembro, n. 2009. Delegacia das Éguas Açoitadas. São aproximadamente quatro horas de espera, no mínimo, para nós, éguas, sermos atendidas. Uma jovem potra chora no balcão de espera, ao lado das senhas que organizam o atendimento. Enquanto todas nós aguardávamos, ouvimos a respiração ofegante de Pônei, que estava quase dizendo adeus. Fora socada no estômago horas antes, entre outras vísceras que lhe foram pancadas. E nada de - Próximo! - se ouvia. A situação, aos poucos, ia se tornando cada vez mais insustentável. O que estão acontecendo com os cavalos? Alguém me responda logo. Já são mais de cinco horas. Uma cena horripilante aqui, nesse estábulo, o retrato decadente do ambiente onde se busca a resolução (ou seria cura?) para o ferimento exposto. Disseram que talvez Bruto (ou os Brutos, temos vários) estivesse alcoolizado, mas não foi pego no dopping e, dropado-ando, infringiu a Lei Cavala.
Jockey Club é ambiente contrário de estábulo - sala dos perdedores, transgressores e alados. O último suspiro do unicórnio isolado. In nomine de TEU PROGRESSO, oremos:
O Homem Cavalo
avança
tro-tando (Tróia)
é que não há acima ou abaixo, insistiu S. C.
E assim, tudo que está a frente
fora - OU SERÁ - pisoteado.
Disse também "dá-se o que se tem"
depois de questionado
- E os que nada tem?
Respondeu:
Acanca-te as patas, ora,
ou os dentes -
AQUI RANGIDO.
Ver também: Mulheres que correm com os Lobos e Mulheres que transam com Cavalos.
Reunidos no espetáculo, prestávamos atenção ao que dizia o locutor. "Façam suas apostas!". Na moeda dos cavalos, lembrar. Temos Gente Sem Estilo e também Gente Sem Todo ou Qualquer Estilo. Quadrifeta. Do outro lado Sem Tesão, ao lado de Sem Persona. Quem vai? But think twice, it`s my only advice. Sanguinário - este sempre, sempre que passa para o outro lado leva um susto. Visualmente estão todos selados (eternas marcas, tatuagem de plexo).
Deste lado há os que apostam forte, caro - aqui pertinho, temos também, Equivocado. Como se isso de estar nos pavilhões (daqui, isolados) fosse motivo para deixar o tesão rolar (sabe como é cavalo com tesão, né?). É cavalo apostando em cavalo, as apostas todas insaciadas, zona, pura zona, cavalo montando em cavalo, esbórnia, gente, esbórnia, ou quaisquer das cousas ditas civilizadas (ou cavalizada, estas, que deveriam ser sempre lembradas), são de imediato esquecidas... O espetáculo é a animalidade, tão somente - e a vós pergunto, agora estois Perplexus?
- Não quero mais correr, nem brigar, não quero foder (isso eu faço em outro lugar), não quero saber de onde vocês falam ou apostam - só quero FALAR ALGUMA MERDA DIFERENTE, disse o cavalo, abatido do trote. Tendo também infringido a Lei, fora sacrificado.
Também relincharam:
- Então, você acredita em Cristo?
- Curte fumar um?
- Então, só acho que vai ser difícil você falar com alguém se for com essas perguntas.
- Mas que revolta!
- Gostei, também penso assim...
- Não percebeu que ninguém quer falar contigo?
Falsa Dignidade ocupa o primeiro lugar do ranking. As apostas seguem até o último minuto. "O Executor já está no box", avisaram pelo radio-fone. Secos em extremo, os viciados repetem em uníssono que é preciso (imprescindível) passar pelo Jockey Club para ser um vencedor. EQUINUS EMBARAÇUS.
- Ah, meo povo, oh meo povo, uh meo povo - relinchou Sátiro. Sua fala fora acompanhada de - uma surra de chicote pra sofrer.
- Olá. Boa noite. Toparia ser paga para realizar fantasias? Não busco uma égua de programa, acompanhante ou potra-prostituta. Busco uma fêmea com a fantasia, fetiche ou curiosidade de ser paga. Tenho a fantasia de pagar uma que não seja égua de programa. O que acha da idéia? Topa? - apostou Garanhão.
"Alguém me segura? Vou começar a correr". Gritava, já indo, crina ao vento primeiro, aos reunidos na sala de partida. Relincharam-se, como se um entre os Equus, tivesse o poder de gritar a partida, ou até mesmo de falar algo que não fosse - RELINCHO. "Vou dar a largada!", insisti. E ainda assim, como se tivessem encarcerados, ou seria como se tivessem freios na boca e rédeas (assim mesmo como um cavalo montado) - e não estavam. Duas vezes seguidas me ignoraram. Um pouco rouco, me apresentei e fui ter com os ventos da montanha - que era o lado contrário do círculo do Tuff. Com velocidade, escapo. Minha crina ondulava ao vento, e era como se eu tivesse asas. Eu, era um outro - CAVALO DE FOGO. E por entre os campos, aventurado desapareço.
S.C - Superando Cavalos (eu-protagonista).
NOTA
E F. Nietzsche, após ver Cocheiro açoitando Cavalo, ficou dois dias seguidos desmaiado. Precária saúde agravada, disseram os doutos. Teria sido-lhe necessário (automedicação) haxixe, cloral e ópio. Foi pego no exame de dopping enquanto ouvia Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em seu proto-i-phone. Mais morto que vivo, ou depois de morto, suas palavras ecoam, no tempo dos cavalos, "Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
* Este texto foi publicado na Revista Cronópios - ver
- Hoje estou com tanta raiva que preciso bater em uma mulher, maltratar um bichinho sabe? - perguntava-se Cara, que ao meu lado falava sozinho. Minha ação repentina foi responder "Sabe? Sabe? Sei, claro. Aceita uma vassoura no rabo?". Face a face, ou cara-a-cara, no sistema antigo, tal linguagem fora proibida. Agora somos autorizados a falar de tudo, ou quase. Instintos repulsivos. Nós, os cavalos. Daqui, ME SEPARO. Ultrapassagem pela DIREITA - rápido, antes de ser alcançada pela Cavalaria de Guarda.
Rua do Ouvidor, 27 de Dezembro, n. 2009. Delegacia das Éguas Açoitadas. São aproximadamente quatro horas de espera, no mínimo, para nós, éguas, sermos atendidas. Uma jovem potra chora no balcão de espera, ao lado das senhas que organizam o atendimento. Enquanto todas nós aguardávamos, ouvimos a respiração ofegante de Pônei, que estava quase dizendo adeus. Fora socada no estômago horas antes, entre outras vísceras que lhe foram pancadas. E nada de - Próximo! - se ouvia. A situação, aos poucos, ia se tornando cada vez mais insustentável. O que estão acontecendo com os cavalos? Alguém me responda logo. Já são mais de cinco horas. Uma cena horripilante aqui, nesse estábulo, o retrato decadente do ambiente onde se busca a resolução (ou seria cura?) para o ferimento exposto. Disseram que talvez Bruto (ou os Brutos, temos vários) estivesse alcoolizado, mas não foi pego no dopping e, dropado-ando, infringiu a Lei Cavala.
Jockey Club é ambiente contrário de estábulo - sala dos perdedores, transgressores e alados. O último suspiro do unicórnio isolado. In nomine de TEU PROGRESSO, oremos:
O Homem Cavalo
avança
tro-tando (Tróia)
é que não há acima ou abaixo, insistiu S. C.
E assim, tudo que está a frente
fora - OU SERÁ - pisoteado.
Disse também "dá-se o que se tem"
depois de questionado
- E os que nada tem?
Respondeu:
Acanca-te as patas, ora,
ou os dentes -
AQUI RANGIDO.
Ver também: Mulheres que correm com os Lobos e Mulheres que transam com Cavalos.
Reunidos no espetáculo, prestávamos atenção ao que dizia o locutor. "Façam suas apostas!". Na moeda dos cavalos, lembrar. Temos Gente Sem Estilo e também Gente Sem Todo ou Qualquer Estilo. Quadrifeta. Do outro lado Sem Tesão, ao lado de Sem Persona. Quem vai? But think twice, it`s my only advice. Sanguinário - este sempre, sempre que passa para o outro lado leva um susto. Visualmente estão todos selados (eternas marcas, tatuagem de plexo).
Deste lado há os que apostam forte, caro - aqui pertinho, temos também, Equivocado. Como se isso de estar nos pavilhões (daqui, isolados) fosse motivo para deixar o tesão rolar (sabe como é cavalo com tesão, né?). É cavalo apostando em cavalo, as apostas todas insaciadas, zona, pura zona, cavalo montando em cavalo, esbórnia, gente, esbórnia, ou quaisquer das cousas ditas civilizadas (ou cavalizada, estas, que deveriam ser sempre lembradas), são de imediato esquecidas... O espetáculo é a animalidade, tão somente - e a vós pergunto, agora estois Perplexus?
- Não quero mais correr, nem brigar, não quero foder (isso eu faço em outro lugar), não quero saber de onde vocês falam ou apostam - só quero FALAR ALGUMA MERDA DIFERENTE, disse o cavalo, abatido do trote. Tendo também infringido a Lei, fora sacrificado.
Também relincharam:
- Então, você acredita em Cristo?
- Curte fumar um?
- Então, só acho que vai ser difícil você falar com alguém se for com essas perguntas.
- Mas que revolta!
- Gostei, também penso assim...
- Não percebeu que ninguém quer falar contigo?
Falsa Dignidade ocupa o primeiro lugar do ranking. As apostas seguem até o último minuto. "O Executor já está no box", avisaram pelo radio-fone. Secos em extremo, os viciados repetem em uníssono que é preciso (imprescindível) passar pelo Jockey Club para ser um vencedor. EQUINUS EMBARAÇUS.
- Ah, meo povo, oh meo povo, uh meo povo - relinchou Sátiro. Sua fala fora acompanhada de - uma surra de chicote pra sofrer.
- Olá. Boa noite. Toparia ser paga para realizar fantasias? Não busco uma égua de programa, acompanhante ou potra-prostituta. Busco uma fêmea com a fantasia, fetiche ou curiosidade de ser paga. Tenho a fantasia de pagar uma que não seja égua de programa. O que acha da idéia? Topa? - apostou Garanhão.
"Alguém me segura? Vou começar a correr". Gritava, já indo, crina ao vento primeiro, aos reunidos na sala de partida. Relincharam-se, como se um entre os Equus, tivesse o poder de gritar a partida, ou até mesmo de falar algo que não fosse - RELINCHO. "Vou dar a largada!", insisti. E ainda assim, como se tivessem encarcerados, ou seria como se tivessem freios na boca e rédeas (assim mesmo como um cavalo montado) - e não estavam. Duas vezes seguidas me ignoraram. Um pouco rouco, me apresentei e fui ter com os ventos da montanha - que era o lado contrário do círculo do Tuff. Com velocidade, escapo. Minha crina ondulava ao vento, e era como se eu tivesse asas. Eu, era um outro - CAVALO DE FOGO. E por entre os campos, aventurado desapareço.
S.C - Superando Cavalos (eu-protagonista).
NOTA
E F. Nietzsche, após ver Cocheiro açoitando Cavalo, ficou dois dias seguidos desmaiado. Precária saúde agravada, disseram os doutos. Teria sido-lhe necessário (automedicação) haxixe, cloral e ópio. Foi pego no exame de dopping enquanto ouvia Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em seu proto-i-phone. Mais morto que vivo, ou depois de morto, suas palavras ecoam, no tempo dos cavalos, "Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
* Este texto foi publicado na Revista Cronópios - ver
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