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12.3.12

Alan Moore, Hilda Hilst, Julio Cortázar, as ideias e o fogo

ALAN MOORE: V FOR VENDETTA




HILDA HILST: POEMAS AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO I
homenagem a Alexander Solzhenitsyn

Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engulido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engulidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDÉIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante
Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDÉIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco
Aos vossos olhos possa parecer.
(pág. 250, HILDA HILST - Obra poética reunida).




"Que conciliação é essa sem a qual a vida não passa de uma obscura piada? [...] se há conciliação, tem de ser outra coisa que não um estado de santidade, estado excludente desde o início. Tem de ser algo imanente, sem sacrifício do chumbo pelo ouro, do celofane pelo cristal, do menos pelo mais; a insensatez, ao contrário, exige que o chumbo valha o mesmo que o ouro, que o mais esteja no menos. Uma alquimia, uma geometria não-euclidiana, uma indeterminação up to date para as operações do espírito e dos seus frutos. Não se trata de subir, de decantar, de resgatar, de escolher, de livre-arbitrar, de ir do alfa ao ômega. Já se está. Qualquer um já está. O disparo está na pistola; mas é preciso apertar o gatilho, e o dedo está fazendo sinais para fazer parar o ônibus ou qualquer coisa assim".
(pág. 507, JULIO CORTÁZAR, O Jogo da Amarelinha, Círculo do Livro: 1968).

20.4.10

Manifesto aos criadores (Alan Moore)




A Manifest for Creators, foi escrito por Alan Moore, e publicado originalmente numa antiga revista (80’s), intitulada THE COMICS JOURNAL. As publicação foi acessada página de José Carlos Neves (www.alanmoore.com.br). O impresso foi aqui livremente traduzido por Tamara Costa. Enjoy it!


O objetivo deste “criativo manifesto” é tentar definir mais claramente as regras do meio que habitamos, além de deixar claro o que entendemos por direitos e obrigações de todos os envolvidos.

Acreditamos que sem a participação ativa das pessoas criativas em determinação ao curso deste meio, estamos em perigo de se tornar tão responsáveis quanto redundantes, como as outras medias (TV, FILMES, NOVELAS) que estão criando-procriando e dimensionado as criações a partir de negócios.

Através de nossos esforços para manter os negócios, esses que deixam o lado criativo em segundo plano, esperamos criar um ambiente onde possamos combinar a “visão individual de realização” com a “arte massificada”, que é, por conseguinte, qualidade do mercado do entretenimento das massas.

Enquanto definimos as regras, somos seduzidos a redefinir também os termos tradicionais, tais como: autor, distribuidor, editor, e assim por diante.

Também acreditamos que em nosso meio a coerção (repressão) não tem lugar; como também ela é inaceitável em qualquer direção. Nós iremos criar e publicar e distribuir de acordo com o espírito e esforços voluntários.
Existem quatro partes essenciais para nosso mercado: o TRABALHO, a FONTE/fontes de informação, os meios/RECURSOS o PÚBLICO/audiência.

O nítido resultado da criatividade é o TRABALHO.
A origem do TRABALHO é a FONTE da informação.
O TRABALHO se move da fonte para o público por meio dos RECURSOS.
Aqueles que compram e/ou lêem o TRABALHO, através dos por meio de recursos, são A AUDIÊNCIA/PÚBLICO.

Nós começamos com o autor.
Só então o trabalho é criado.
Depois que o trabalho é criado, ele é impresso.
Após a impressão vem a distribuição do trabalho.
Finalmente o trabalho é comprado e com sorte e esperança – lido.

I) A FONTE
A FONTE é onde o TRABALHO se origina: é o AUTOR do TRABALHO.

Acreditamos que o compromisso da FONTE é, primeiramente, com seu trabalho, e isso é necessário assegurar, com criatividade e segurança, que as medidas necessárias ao trabalho do autor estão sob seu único e exclusivo controle.

Preço, formato, paginação, tiragem, design, conteúdo, a presença ou ausência de publicidade, e a assistência dada (dentro dos limites de nossas leis), devem ser resolvidas somente com a autorização da FONTE.

Voluntariamente, apoiamos uns aos outros para assegurar um futuro seguro para nós e para que nosso trabalho se realize dentro dos limites de nossos recursos individuais.

Acreditamos no envolvimento positivo entre AUTORES e EDITORES, com o máximo controle e autonomia entre ambos, e também levamos em consideração a absoluta liberdade para todos os AUTORES, seguidos de absoluta liberdade de publicação para os EDITORES.

Para facilitar isso, um protocolo ou código de comportamento para interação entre AUTORES e EDITORES deve ser estabelecido.

O AUTOR deve criar independente do que ele quer, e publicar, com autonomia, da forma que ele acha apropriado.

O EDITOR deve publicar ou não publicar, independente do que ele acha apropriado.
Presume-se que o AUTOR está oferecendo seu trabalho para publicação de forma integral e não sujeita a alteração. O EDITOR é livre para aceitar ou rejeitar um trabalho que segue esses princípios básicos.

Se o editor achar que não pode publicar o trabalho de um AUTOR devido ao conteúdo ofensivo, ou legalmente suspeito, ele não é obrigado a fazê-lo. Caso o EDITOR rejeite o TRABALHO, o AUTOR é livre para mostrá-lo a outro EDITOR que esteja interessado na publicação; ou, caso ele prefira, que seja possível necogiar as mudanças que o EDITOR considera necessárias para a publicação do TRABALHO. Em qualquer ponto da negociação, qualquer uma das duas partes tem o direito de declarar algum impasse/obstáculo e suspender todas as negociações, sem que isso cause prejuízo ou repercussão. O EDITOR deve tentar ajudar o AUTOR ao máximo possível, financeiramente, tecnicamente, etc, e apoiar os esforços do AUTOR para que ele consiga publicar, por ele mesmo, assim como faz o EDITOR. A extensão da referida ajuda deve estar a critério exclusivo do EDITOR.

No caso dessa situação ocorrer durante a execução do trabalho, EDITOR e AUTOR devem, no melhor cenário, concordar que a edição em questão deve ser publicada pelo AUTOR. Em contrapartida a edição seguinte, e as sucessivas, devem ser outra vez publicadas pelo EDITOR sem recriminações de ambas as partes.


II) O TRABALHO
O TRABALHO será definido de três maneiras:

1) PERIÓDICOS
a) Número de obras
b) Uma tiragem, incluindo séries limitadas e trabalhos intervalados

2) TRABALHOS ESSENCIAIS
a) Novos livros
b) Novas tiragens

3) TRABALHOS DIVERSOS
a) Portfólios, impressões, etc
b) Merchandising

É dado a cada AUTOR/EDITOR todos os requisitos necessários e o direito alienável de determinar a melhor forma de vender - ou não - seu trabalho. Nenhuma regra e nenhuma das alternativas mencionadas aqui são aleatórias. Deve se atentar para o como os trabalhos vendidos - a quem quer que seja. Tudo isso é necessário para conduzir nossos negócios com honra e honestidade.

1) PERIÓDICOS
a) Número de trabalhos: a primeira ligação dos envolvimentos indiretos com a venda é a mais recente revista/periódico que está em andamento. Nos comprometemos em dar o máximo de nossa capacidade para o cumprimento das metas dentro do período requerido, levando em consideração as limitações artísticas e os possíveis atrasos do autor. Presume-se que os distribuidores e as lojas nos informarão sobre as quantidades serem encomendadas. Os distribuidores e lojas devem ser mantidos a par das mudanças nas projeções de envio previsto e serem habilitados para modificar o ordenamento, sem prejudicar ou repercutir, dessas mudanças de envio, num período de, no máximo, 30dias.

b) Uma tiragem (incluindo séries limitadas de quatro edições ou menos) e trabalhos ocasionais: no caso de uma tiragem única, séries limitada e trabalhos intermitentes, os distribuidores e lojas devem notificar, com antecedência, para que seja possível encomendar esses trabalhos dentro de um tempo razoável.

2) TRABALHOS ESSENCIAIS:
(Nota: vemos esses trabalhos com prazo de validade permanente, sempre disposição e nas prateleiras, e, no geral, não são tratados como obras periódicas)

a) Novos livros, ou trabalhos não previamente publicados, devem devem ter data de envio constante determinada pelo autor/autores ou pela pessoa responsável pelaantologia. Todos os meios devem ser apropriados/adequados para manter o trabalho impresso e disponível.

b) Volumes re-impressos, sendo todo e qualquer trabalho anteriormente publicado em prestações devem ter uma data de lançamento anunciada de acordo com o critério dos autores ou das pessoas responsáveis pela antologia.

3) TRABALHOS VARIADOS
(Nota: como os trabalhos essenciais, vemos esses trabalhos como tendo vida permanente, sempre vistos nas prateleiras, geralmente não são tradados como trabalhos periódicos)

a) Impressões, portfólios, assinaturas e número limitados de edições e posters relacionados ou não relacionados acima, devem ser vendidos em quantidade e preços que devem estar a critério do autor/autores envolvido.
b) Merchandising: Todo comércio, incluindo brinquedos, jogos, puzzles, figurinhas, bottons, produtos alimentícios e bugigangas em geral devem ser licenciadas pelo autor ou proprietário, e devem ser sempre oferecidos ao máximo de distribuidores e lojas possíveis.

No que diz respeito a todos os itens anteriores, deixamos registrados que todos os trabalhos sob venda indireta devem estar em conformidade com esses princípios (liberados) por três ou quatro meses. Por outro lado, vendas diretas a preços de varejo para pessoas comuns devem ser feitas a critério do autor/editor.

III) OS MEIOS
Os meios são uma combinação entre PUBLICAÇÃO, IMPRESSÃO E DISTRIBUIÇÃO.

1) PUBICAÇÕES AUTÔNOMAS: o AUTOR que faz os tratamentos para impressão e distribuição de seu trabalho é considerado um editor autônomo.

2) PUBLICAÇÕES TRADICOINAIS: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores), responsável pela organização da impressão e distribuição do trabalho do autor é um editor tradicional.

3) EDITOR CHEFE: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores) é que possui ou controla os direitos autorais do trabalho, e quem responsável pela criação da arte do trabalho e história, impressão e distribuição do trabalho é um EDITOR-CHEFE.

Imprimir é uma técnica que utiliza tinta, papel e impressoras para criar múltiplas cópias do trabalho. Existem dois tipos básicos de distribuição:

1) VENDA DIRETA: venda da FONTE ao leitor/consumidor.
2) VENDAS INDIRETAS
a) Lojas de venda: vendas da fonte a loja, e em seguida chega ao leitor/consumidor.
b) Pontos de distribuição: vendas da fonte para o distribuidor, depois para a loja e só assim chega ao leitor/consumidor.

Nós concordamos em dividir uns com os outros toda e qualquer informação que temos sobre esses e todos os meios adicionais, além de escolher os balanços adequados de todos os MEIOS mais apropriados para divulgação de nosso trabalho.

Nós concordamos em monitorar as condições indiretas de venda mercadológica e encorajamos os distribuidores e lojas a manter contato com a comunidade de editores autônomos. Concordamos em reconhecer, as comunicações que exigem reconhecimento (lojas e distribuidoras) com até 48h após o recebimento da referida comunicação. Desentendimentos podem devem ser evitados.

Para nosso benefício mútuo, encorajamos e concordamos em prestar uma análise cuidadosa pa qualquer pessoa que participe dos MEIOS, onde essas idéias serão úteis para auxiliar a transferência do TRABALHO para a audiência.

Contribuições: Stephen Bissette, Kevin Eastman, Dave Gibbons, Peter Leird, Frank Miller, Alan Moore, Stephen Murphy, Dave Sim, John Totleben, Rick Veitch, Michael Zulli.



 *Este post é dedicado a Carlitus, o sri-HQ do Planalto