30.7.02

Elucubração in bifurcaciones

Certo que possuíamos duas opções. Ou sentar na praça ou em frente ao mercado público. Ambos os lugares estavam ocupados pelo mesmo tipo de gente que fica em praça em dia de Domingo; hoje em dia isso não é poético, me parece dramático pra não dizer cômico e enfadonho. Me diz quem hoje senta em praça pra dar milho aos pombos? Jogadores de xadrez, engraxates, os pais e seus filhos e essas coisas ou duas garotas a la interviera com el publico. É, sacumé, sabemos... Sábados fui a um puta show de blues e fiquei bêbada e estava sem carro (como se isso fosse novidade)... e voltamos a pé, eu e mais uma conhecida do blues, pedindo carona e dando nossas migalhas, níqueis de resto ao primeiro carro que resolvesse dar uma caroninha.

Poxa vida, que vida. E o resto ficou pra depois. De Domingo não passava. Eu ou a entrevista, não importa. O dia mais fuleiro e xexelento de todos foi o escolhido pro tal trabalho de antropologia cultural, uma entrevista com determinado tipo social.

O problema, se é que isso é problema ou fatalidade porque sempre conheço as figuras mais bizarras (eu pelo menos acho). Uma das minhas bagatelas preferidas era ficar conversando com limpador de cinzeiros da lanchonete; a coisa que eu mais via ele fazendo por dia. Deve ser isso mesmo. Ele fumava Palermo, uma espécime de free do paraguai. Êta cigarrim, quando eu não tinha ele sempre me dava e eu hoje agradeço por isso seu Eurestes limpa-cinzeiros, espero que o senhor consiga se efetuar no seu próximo cargo quando aquele gordo barrigudo frustrado, o dono da lanchonete morrer. Por causa de dez centavos ele não quis me vender um café, que aliás custa trinta centavos. Ele não deve ter ido com a minha cara ou é turco ou já percebeu que eu peguei um dos seus cinzeiros de plástico. É, na minha casa não tinha nenhum e eu contei com sua compreensão comunista inconsciente por pelo menos até aquele dia que o sr. não quis me vender um de seus cafezinhos.

Essa uma das mais estranhas gurias, a Patrúncia. Vou mudar aqui o nome para fazer melhor a crítica da conjuntura, ou melhor, a fofoca. Quando cheguei naquela cidade cheia de gente de praia, outra vez eu estava fora de mim. Só que dessa vez o corpo estava também em contradição. Eu estava ali, estendida entre as mil e duzentos e cinqüenta e quarto mulheres. Psicologia é isso também, mulheres e mais mulheres e mais algumas. O que eu esperava? Ah, isso é outra fatalidade fatal, as fofocas. Tá, a Patrúncia foi a mais esquizóide de todas. Sua primeira abordagem:

- Vamos fazer uma festa de integração, o que você acha?

Bom, eu tinha acabado de chegar naquele lugar e qualquer coisa é coisa quando não se sabe onde está direito e desconhecidos se tornam os melhores amigos do momento; ao certo eu respondi claro. Então a partir daí passei a perceber que sua primeira abordagem foi direta e consistente. Ela realmente só pensava em festas e aguardente e homens e coisas afins. O semestre foi passando e fomos nos aproximando, conheci mais de suas esquizoidices, como por exemplo a mania que ela tinha de vomitar depois do almoço. Ela socava o dedo na goela todo dia, e não tinha bulimia, tudo era muito consciente e elaborado por sua consciência muito consciente de que ficar gorda era a pior coisa do mundo, especialmente quando o que mais importa é o corpo que está estirado diante dos outros. Nada mais, nada mias. O corpo e só e somente o corpo magro e muito osso a la vista.

Bom, como a gente dormia muito - um ponto que tínhamos em comum era faltar aula no dia seguinte. Então fomos fazer um trabalho de entrevista juntas. O melhor é que nem sabíamos do que se tratava, mas fomos a praça fazer a tal entrevista. O pessoal dizia "a gente fez na praça XV", então era certamente o certo a ser feito.

O que aconteceu, e o que eu ia dizer foi que no dia não encontramos ninguém na bendita praça e inventamos tudo a partir de uma observação primária. Tinha um cara com roupa dessas breguetes mata-atlântica-do-deserto que estava sentado vendo fotografias. A partir desse momento o trabalho deslanchou e concluímos o desenvolvimento no meu quarto enquanto tomávamos vodka com um refrigerante amarelo, que era o mais barato. No final das contas, por cima e por baixo de tudo isso, o cara era um militar, concluímos que sofria as conseqüências da hierarquia dos quartéis e suas repressões e seus canhões e sua família... ele estava num momento remember, típico de Domingo.

Inventamos toda a entrevista e também o resto - conclusão, introdução, dados sistemáticos, etecéteras e tal. No dia da apresentação parecíamos duas alienígenas falando da massificação dos pontos de vista, que geralmente acontece nos quartéis onde os homens estão submetidos a submissão ao superior, que se toma do poder que não é seu, e sim do seu superior e de seus infinitos graus de pdeudosuperioridades generalizadas. O soldado abaixo do cabo abaixo do sargento... Enfim, a hierarquia dos quartéis e a massificação dos pontos de vista foi o nosso tema em fuga - conseguimos chegar a um ponto mais interessante que uma simples entrevista poderia propiciar. O professor olhava com espasmo - talvez pela nossa capacidade elocubratória.

Ele tinha duas opções, ou considerar nossas divagações metafísicas, até certo ponto plausíveis, ou tascar logo um zero de fuga ao tema, nada a ver com o que eu queria! Tiramos uma nota lá que até deu pra passar, por piedade, eu acredito. Mas eu reprovei em antropologia cultural, coisa que minha mãe nem sabe nem se souber vai se importar muito porque ela diz faça o melhor que puder pra você e eu faço. Prefiro beber e ficar até a hora que eu quiser e esquecer que tenho mesmo uma idiota prova que não me acrescenta em nada. Como comprovar eu tenho, aqui, olha o que sobrou no fim de tudo. Escrever, porque tudo vai para os quintos mesmo, inclusive os conhecimentos inúteis de antropologia castro-cultural-acadêmica.

Depois de tirar dez numa prova, eu perdi a próxima e fiquei sem nota, porque no dia anterior dormi no carro de alguém que não sabia quem eu era, e que muito menos adivinharia que eu teria uma bendita prova de antropologia no mesmo dia. Vivendo e... Indo além das bifurcações eu encontro outro ponto que pode até não ter conexão com o academicismo factível. Mas o que se pode prever ou o que se tem a perder quando o assunto é outro ponto ou outra...
Escreva pois tudo afundará no quinto

Maior aventura, um livro de contos :

"Vivo o infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já Ter vivido uma vez. Nessa vida, também fui brasileiro e me chamara João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para essas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente" Guimarães Rosa

Qual sua maior? Qual foi aquela que pode até não ter parecido nada, mas foi alguma coisa? Alguma coisa. Ontem, eu. Precisei. De alguma coisa. Não encontrei. Nada. Só vazio. E vontade. E dislexia. Pronto, deitei no sofá e esperei que ele me sufocasse. O sofá é azul e peludo. No colo do braço do sofá felpudo. A última coisa que lembro, bem que eu queria mas apagou porque eu fiquei com tanta agonia que. Apaguei o cigarro no felpudo. Ia sempre pro cinzeiro mesmo. Ao ápice eu fui ao revés. Ao revés de um parto. De cigarros, estou. que já não há mais uma sequer a sair. Tive o quinto - Dèjá vu. Dèjá vu do dèjá vu de outro.

Ainda assim pode até não parecer nada, mas era alguma coisa - talvez uma frequência. Escreva porque tudo irá para o infinito, agora não é hora de segredos. Não é mesmo?

29.7.02


"Blue and Red Shift" Rodrigo Siqueira
TÔDAS ESSAS COISAS, PHILIP LAMANTIA

devem ser SILENCIADAS uma vez que estão dentro de nós
e multiplicam as prostitutas doces como sacarina
como esta AQUI
Dançando
ao ritmo de drogas traiçoeiras que envenenam a saúde
que fazem minha cabeça suar excremento!
que cospem saliva nos meus ossosl
que acenam com infinitas possibilidades de
êxtases eróticos simuladosl
NÃOI
NÃOI
NÃOI
não é para este pânico de ídolos que persuadem nossa época com falsos relógios de anjos
que haveremos de viver - mas para a pomba descida do céu!

26.7.02

can you feel it?
(UMA)

Venho por meio, aqui dizer que eu sei que você sentiu ontem. Sentiu aquilo. Eu sei. E eu senti também todinha. Tolice que arrepia enquanto um cantor de voz rouca, também, rouquinha e suados, ambos. Eu e a música ali flutuando entre os pés e o teto, entre a sandália e o chão. Não, não dei vexame porque me aparei num ponto da música. Aquele que sobre entrando perto do umbigo e sobe, sobe dando uma coisa que você não sabe o que é, mas que é boa mesmo assim. Coisa leve, coma pipoca em casa. Deve ser por isso que é boa mesmo; indefinível. A pipoca ou a coisa? Aceite o terceiro vértice de uma pirâmide, isso não tem solução. Voltando ao ponto, que é você e algumas partes que esqueceu comigo, digo agora que venha buscar. Digo baixinho no seu ouvido, e também grito no caminho do filme ou do cigarro - que vou comprando aos gritos. E não quero saber a hora porque não vou esperar nem vestir uma roupa só pra te esperar. Vou estar aqui, do jeito que sou, e não que eu não mude, mas de um jeito que sempre consigo ser sem definir. Fluir, assim com aquela capacidade de foder com coisinhas da vida, do tipo hedonista, ainda consigo abstrair um pouco do peso que você colocou em cima de alguma parte do meu corpo. e digo mais, quero que você sinta também o peso de um gozo blasée. Solitário. Idiota. Meu amorzinho de figa e fogo. Agora eu tenho uma carinha nova que você conheceu pela voz. Pela voz rouca, lânguida e consistente. Castre-se ainda mais e me consuma mais um pouco. Não me importo que isso não me faça feliz na maioria, mas quem disse que estou na ala da aceitação? Maioria é conformismo. Sei que tudo vai voltar a ficar sem graça mesmo quando você aparecer aqui, como da primeira vez todo cheio dessa cara de que não, nada aconteceu mesmo. nada. Você é sem graça. Eu estou vendo demais. Eu sei. Sempre foi assim. Vendo o que não tem o que ver, consigo enxergar coisas são sutis em você que talvez você nem saiba o quanto você é pequeno. Não foi nada e você lembra bem. Nada. Esqueça se puder. Nada. E continue assim, idiota como sempre que eu continuo te amando idiota como sempre. A gente se merece. Você merece mais, e eu também. E também vou abstrair essa historinha babaca de "nós, a gente, eu e você"... o negócio agora é cada um por si, cada um por cada um e você. Vai. Foda-se. Nem aí. Sentir. Pesando. Vai. O meu corpo ou um copo daqueles dos primeiros. Você está consumindo um pedaço que já está se esgotando. Fim de novelo. Último capítulo. O tempo está passando e isso é aparentemente normal. Porque as coisas vão ficar mais chatas daqui pra frente, eu tenho certeza e te garanto que estou sumindo pra sempre, mas continuarei te atormentando, sempre que eu puder. Eu garanto, e essa é uma das poucas certezas que tenho. Que tenho vontade grande e que ela não cessa. Não vou passar por cima de ninguém, não vou sair atropelando um pedaço de torrada, a que deixou cair no chão porque estava muito sem noção do espaço, eu ri e você foi ridículo. Desceu do salto. Você tão inatingível. Saiu da pose cool e ficou com carinha de... ah, seu merda! Pare com isso. Você é um babaca, e eu estou milhas a frente nessa classe. Você me desmonta e no outro dia estou fraquinha, mas vou me catando pela casa. Me rejuntando. Rejeitando. É preciso. Você é. Eu sou uma tola e deveria calar a boca. Não pensar mais. Me juntar de uma vez por todas e nunca mais aparecer. estou na varanda de calcinhas verdes. e esse é um dos últimos avisos. Sinta a fúria da mãe onça pintada e bordada, tratada, criada, borboleta que também é cobra e navalha. Uma versão mais nova de mim. Nasce velha. Nasce outra. Se reproduz. várias, vezes, venha. Sinta isso, tão leve como uma pipoca, tão muito, tão efêmero...
Da próxima vez seja mais cuidadoso, não deixe suas unhas em meu pescoço.
Se eu puder sentir, posso cantar. as canções do fins, mesmo sem possuir propriamente o início - diga-se o próprio, meu, até tive mas não tenho. E até não canto mais em público. Só entre as paredes, aquelas que flutuam em contrapartida, entre os corpos. Todos os fins que tiveram sabores intermináveis, canto também o silêncio enquanto passo a ponta preta nos fragmentos que capturei.

Gostos de propagação, várias ondas posso alcançar; eu, entre os tons e o tato.

25.7.02

Então there - não faz mal

"Por que isso? Escalavre a carde entre os dedos do pé que não vai achar o motivo. Comprima as costas contra a barra da jaula até que ela o parta em dois que não vai achar o motivo. Eu não tinha saída, mas precisava arranjar uma..." Franz kafka, fragmento de 'Um relatório para uma academia'

Se eu puder sentir, posso lhe cantar. as canções do fins, que seja o mesmo. propriamente o início - diga-se o próprio, meu, até tive. e até não canto mais em público. só entre as paredes, aquelas que flutuam em contrapartida, entre os corpos. todos os fins que tiveram sabores intermináveis, canto também no banheiro enquanto passo a ponta preta nos fragmentos que capturei das; descosturas, desacostumes, desatinos, desobediências, desdenhas... desde que não posso mais duvidar, acrescento outro:

- gosto de propagação, e várias ondas posso alcançar e coloco em tuas mãos, deslize; eu, entre os tons e o tato. e sempre funciona. não sei como posso, nem capturo na realidade acho que abstraí...

se nós, dentro e acima de qualquer não-coisa estamos tão dentro e...
de cara ou de:
cor
calço e
compondo
e chegando aonde o que não é aprende a se virar como não pode, como os sons e os sonhos. é paradoxal, mas é isso mesmo.

24.7.02

Tempo do enquanto - quanto?

Saí sozinha. Já pelas ruas, eu ia e vinha. Voltava em casa porque a sensação de esquecimento me tomava o - centro - quê? Tomava vodka barata também, como de praxe, não poderia deixar de ser, normal, obviamente. Expressões que tiram a graça de qualquer coisa que mesmo que superfluamente seja atraente. Deixemos as besteirinhas serem graciosas! Deixemos... Automaticamente, por um instante, eu peço por favor. O centro está pulsando e em minhas mãos estão as armas-do-meu-esquecimento. Peço que desligue o tempo. Por dor. Por desligamento...

No quarto. Deitada na cama durante várias horas, que perdem suas razões de serem -chamadas de horas quando não estão no tempo humano. O relógio pra isso, nada é. Para nada. Pára... Chega a ser normal, obviamente, não poderia deixar de ser... Eu estava no tempo dos gleifúncidicícios, pequenos habitantes dos arredores da minha caminha. Às vezes eles sobem as paredes, num vôo calmo e rítmico. Oras tenho o controle sobre seu movimentar, horas não... digo ora pois, são eles seres da minha imaginação. Deixemos! Eu peço, por favor parem de subir que já estou ficando tonta.

Já não mais tenho o controle do que é o que sai da cama ou da cabeça ou suas cores que são coloridas demais ofuscando meus olhos brancos e sujos empoeirados como vocês seres prolixos...

Enfado
meu
desligamento.

Está tudo muito repetitivo. Até mesmo a vitrola que toca a mesma música a séculos afins. Amém, sagrada velha e empoeirada que toca melhor que qualquer outra nova cara e cheia de nhem-nhem-nhem... Vitrola-vó. Vozinha, voz pequena de vó velha e surda, caduca. Vela e velha. Velhos remendos. Colcha de retalhos ou de cetim vermelho?

Não importa, derrube logo a porta que estou deitada...
O tempo está passando.
Você vem ou vai ficar no tempo da vitrola ou das músicas ou das horas?


" Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água."

Júlio Cortázar

21.7.02

Tóxicos; como se flores fossem

- E tudo que realmente quero é um pouco de lib...

Libido, leveza, laxante, liquidificar quem sabe talvez seja possível evacuar sem pedir licença. E tudo que realmente quero é um pouco de mim, só que desta vez menos além, mais do menos sabe? Mim aqui, simples idiota, só que desta vez não como uma brincadeira de índio idiota. Uma brincadeira que não tem graça a sua de cegar a cobra. Estou aqui quem sabe, e quem sabe não? Você pode me sentir? Você pode me dizer o que me engasga?

- tanta fumaça depois de tanto café.
- Faz um pra mim...

Toxino traz o café após trinta minutos. A chaleira toxtou e o cigarro acabou. Mas Toxino foi a padaria e trouxe dois maços de marlboro - vermelho. Sabia que ela fumava os fracos de filtro branco mas fez questão de trazer o tufão vermelho porque pra ele era como se fossem rosas de eufemismo. Adorava que adivinhassem a originalidade da idéia através do paladar de seus presentes maravilhosos, adorava que adorássemos a tudo que vinha assim, de tão dentro de seu centro - raízes, manias, famílias, criação. Mas tudo sem a pretensão de machucar, obviamente sem má-fe.
- Diga até a morte!

Foi lindo, fumei suas rosas e quase morri com uma dor no tórax...


15.7.02

Uma coça
Miopia dá coceira no cérebro, acorda o sonho, embaça a visão, longas pálpebras... Boca pequena a tua com gosto de vinho - me dá náuseas e vomito no banheiro. Pode até parecer nojo, mas é mutilação mesmo. E alguém lá dentro quer falar e não consegue. Coça também a goela. Coça o cérebro sem ser miopia. Então se bebe e ainda assim fica difícil, saí por outro orifício. A boca - do vaso. Dentro, do vaso a boca está vazia e transparente. Dacordacordadordacorrrente... Transparente que vai e volta. Alguém bate na porta. E meus olhos falham embaçados. Olhos de noite, cortês... Vou à padaria gritando seu nome, até agora, em todos os lugares onde compro cigarros, encontro outras maneiras de desconcertar. Pode ser um filme ou qualquer sapato. As vezes acredito que a loucura é um sapato vezes quatro patas. Ou então a madrugada...Ou uma frase repetida que acaba acabando em coincidência por simples probabilidade - repetição.
Última : Vontade de arrancar a porta o olho ou a aorta.



10.7.02

Pode ser, tudo pode ser..
As sutilezas, para quem vive entre a paranóia e o foda-se, são difíceis de serem compreendidas.
É tão estúpido ter que decidir para se instalar em toda essa resistência de hora marcada. Com tarefas e fins, sem nenhum vínculo com o que está envolvido - realmente prefiro...
Com o que se envolve e deslancha coisas tão mais interessantes - realmente prefiro...

Prefiro ser uma fracassada.

"As pessoas são frívolas e esquecem ou aceitam ou estão à caça do novo.
Correm em direção às luzes que crescem pouco a pouco sem que já se saiba bem para que tanta pressa, porque essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabe nada sobre os outros, onde todos olham fixamente para frente, exclusivamente para frente..."
(Cortázar)
sobrevive - por que não precisa de ar ou por que bóia?

- Sai desse quarto!
- Mas calma, não se irrite – chapolineando, disse calma a quem não teria - A televisão não pode esperar!?!
- O cara está tocando aqui, não está vendo?
- Mas de frente pra tv, quem assiste?
O cara, o cara que toca para a tv. de fronte a. Com o microfone enganchado entre o vol. e o ch. a tela refletindo sua "cara de cantor". a maioria são esnobes. ou é tipo? tipo de cantor - uma espécie de "tô nem aí...". Todo fodido de tanto suplicar. cara de sempre refletida na televisão e se vendo. As pessoas, de alguma maneira, e principalmente ele, o cantor, precisam de um público e quando a história vai mal é melhor não parar o show. precisam de aplausos. e quando não há espetáculo, melhor é ter a própria tv, o próprio computador e a própria exibição para o próprio olho. o espelho.
Mas essa é uma história parecida com um sonho. Mais uma natureza entre tantas outras que... São. a mesma mania de exacerbação, o mapa. vários planetas e cada um está associado a um elemento da natureza. O saudoso mapa da vida que dizia, vai diga...
Excesso de fogo (entusiasmo).
Carência de terra (praticidade).
Carência de ar (pensamento).
Excesso de água (emoção).
Essa do pensamento é melhor vermelhor...

-"Uma das suas maiores dificuldades é lidar e compreender o universo do pensamento e o mundo das idéias, o que causa dificuldades na hora de racionalizar as coisas e apresentar soluções para os problemas. Procure estimular mais o seu intelecto, através de leituras e sociabilizando mais as suas idéias, afinal a nossa capacidade de pensar e de entender as coisas de maneira mais lógica é um trunfo muito valioso. Todas as vezes que a vida lhe apresentar situações difíceis, em vez de só reagir pela emoção, pelo entusiasmo ou pela praticidade, procure parar e pensar mais sobre o assunto. Certamente, se você se exercitar, poderá encontrar saídas mais racionais e lógicas, sem tanta dificuldade..."

Até razoável, até acho... A razão tem suas razões. E o contrário também. Mas o excesso de abusos - o cigarro. que queima a cadeira. que faz com que entre algum ar onde não há. carência de ar nos pulmões. Ar da fumaça. Tudo explicado com a razão que eu mesmo deformo. me conformo. ou ainda não... Não engoli o brinco que entortou e prendeu a fala. prendeu a língua, e agora é o tempo - do silêncio. das profundidades. do desmazelo e do esquecimento. Daquela frase tiro a vírgula e o fôlego, tiro o medo e o pudor. Tiro a roupa e aqui estou...
- Tem alguma coisa queimando?
- não é aqui, não comi nada, não esquentei nada... Nada...
Ela saiu e voltou com a Panela do Meu Esquecimento. Com o poder da iniciativa, se há barcos a serem lançados no mar ou águas a serem lançadas na panela ao mesmo tempo, há aqui o impulso vivo. Mas é preciso dar continuidade, já dizia minha orácula avó; macaco que pula de galho em galho quer levar chumbo. ou queimadas de cigarro?
" Todos morreriam. Todos, e não adianta ninguém fugir. Não adianta se esconder por aí. os homens estão atirando com suas metralhadoras de chumbo. os homens matam os macacos – esquizofrênicos, celcius, cílios, pélvis, silvios e sérvios santos. Ninguém escapa... "
Sem ter pra onde ir, corriam todos em volta uns dos outros tentando achar uma brecha entre um morto e outro, entre eu e tu, enfim, algum espaço entre nós - até onde vai a minha liberdade espacial? Porque dois corpos não ocupam o mesmo espaço, imaginem agora todos. Não, não há remédio pra essa dor. Não há dor pra essa dor tamanha Há somente fim, somente finalização, enfim. a festa acabou. Eu estava ali mesmo, em meio aquilo tudo, entre os espaços ou entre as pessoas. Entre eu, entre...
Sem bater
entre agora
vai
estão acabando
com
tudo
não
v
a
i
dar
te
m
pooooo...
Pouso.
Ele, o rapaz de metralhadora, que era alemão, acho. Pegou-me pelo pulso e já...
- Já é hora de morrer, mocinha! Vai logo escolhendo como quer... - disse a voz, respirando em meu nariz com ares de superioridade - parecia o canto do cantor da/para a tv, eterno retorno ou início novamente?
- Afogada, vai, afogada, já escolhi, vai logo...
O fato é que não morri, porque nasci no dia 21 de março e como não há certeza, pode ser peixe - ou merda?

Trecho de Dissipada
(...) Talvez esse fosse o estado natural. Saturação da realidade.
Morri e me mataram com uma injeção letal de chumbo. No alto (da percepção) Shiva pulsava com milhares de mãos, dançando à espera de mais uma destruição - a minha. Senti todos os orifícios - boca, ânus, vagina, ouvidos e nariz - sendo invadidos pelas mãos do deus da criação, que matava para poder descansar. É tempo de destrui-se. "O círculo se repete por toda a eternidade, sem um começo ou um fim”. Depois de um longo processo de desmaterialização vi meu rosto estampado numa coxa de galinha ao molho pardo. Fui engoli...





9.7.02

enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
(Paulo Leminski)
Na orizontal do horizonte vertical - vertebral talvez

Estava demorando. Um engasgo e ...
Cuspiu um trago da fumaça na boca do telefone enquanto engatava uma ou mais palavras comuns.
Ela estava entalada com suas próprias...
" Faça calor, faça o que quiser, suma, fique bem de sua febre noturna, jorre o caralho, faça um filho, cuide dele, viaje, volte, deite acima, um pouco mais, adentro, veja que o que estou dizendo não é nada disso, veja que o que quero é outra história, outro desafio..."
Outros dias como aqueles em que se voa enquanto passa um bando de nadas. Dias de acordar com o telefone na cara, na ponta do ouvido, ouvindo... Um som esquisito de manhã. Um cigarro aceso, na pele, acendo um daqueles que me dão tosse, catarro, pigarro e calma... Calma, a vida é as vaca mesmo e nada de precipitar, nada de peito de frango, nada de carnes durante o jejum. Ave! ave! Pode-se para que possa pular daquele precipício outra vez. Outro desmazelo de donzela, mais um passo em falso e você está diante do Gigante. Olha ele aí dizendo vou... Tirilililililili.... É, é o telefone mesmo... E são as águas puras do meu despejo. De casa, de volta, de nada. Agradeço sua misericórdia - palavra esbelta. ´
Então desmembremos...
Misericordíca, misericordosa, miserona, miserável, mísero, misericável... Não sairia nada além de algumas delas, aquelas entaladas.
Agora é hora de falar tudo que não sai quando se quer.
Fale sozinha, fale alto, cante, grite, sussurre, engasgue, dê um vexame... De vez em quando saia debaixo dessa saia - protetora de casca - que também é barra de metal afiada, corta e perfura. Fura fundo esse troço que é Seu preciso castrado. Aprisionado na casca de fundo, no subtítulo, às espreitas de um descuido dela. Vai, entra fundo e pague pra ver, sem economizar interjeições, pague pra ela o corpo e o copo. O com tudo dotu uotd utod ...
Vai ficando louca aos prantos de agonia, de tia... De
- vai se arrepender mais tarde...
Tudo, falem, digam tudo, condenem toda minha carne.
Eu digo foda-se pra todos vocês. Digo não estou nem aí, só pra manter toda essa pose de não tô nem aí mesmo. Me veja chorar sem motivo e ache que tudo é um paradoxo, tudo é mentira, tudo são capas...
Veja as asas!
Olhe para o nada e veja. O que ainda não se mostra, sua mosca morta. Incapaz, você é. De matar. Uma mosca. Que desenha um z, que dezena, desdenha, desvincula o pensamento de toda a puta-mediocridade. Normalidade, incapacidade de. Fuga ao tema.

And I try, vai, dai-nos o que nos é pedido tentação torta. Sem patas ou fios de navalha telefônica no pulso do ouvido.
Você me dá sono e cansado.
Me dá nada e eu traço.


5.7.02


Aquarium
Roy Lawaetz


"No entanto, o padrão triangular adotado pelo artista pertence aos antepassados antilhanosEsse povo utilizava ícones e tricúspides, relacionados provavelmente com a reprodução e a fecundidade, e os denominados trigonolitos correspondiam às divindades protetoras..."

Diretamente das Ilhas Virgens...

"Cada uma das peças refere-se à mulher com as pernas abertas e sua índole sexual e maternal pelos séculos dos séculos. Mas, no seu interior são gerados, por meio de objetos inseridos, artefatos e novos mitos, o fax, a comunicação instantânea, o vidro de perfume ou a incitação ao consumo, a produção musical - que inclui instrumentos tradicionais."

TRIGONOLITO-TAINO
palavra esbelta,
geométrica.
Triângulo
Tamara
Alvo
Três
asas...

e porquê não?




Arnaldo Antunes

Eu apresento a página branca.

Contra:
Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras





de repetente tudo é a mesma coisa,
chato mesmo....
E já foi dito, repetido, esmigalhado,
digerido e...

miolo de pão;
cocô de pomba!
(já escrevi isto em algum lugar)

moral da história:
Nunca tenha a cabeça muito aberta para tudo, pois seu cérebro poderá cair.
Será tudo o que nos resta é uma voz dentro de uma outra voz ecoando do passado que terminou de ser presente?

Por quanto tempo mais esperaremos Godot e seremos solitários e solidários em não nos enforcar?


Samuel Beckett

2.7.02

Chegar...
Ir!
Voltar:
Voar!!
Respir AR AR AR AR!!!

É foda. As pessoas chegam felizes em seu "lar-doce-lar-de-mel-e-mãe" para parar um pouco; parar, descansar, pensar... E mentir! Porque até pode parecer sério dizer:
- Estou pensando na vida...
"As pessoas" são artimanhas de fuga; soy jo.
Porque é mais fácil pensar do que ser e fazer e ir e voltar e respirar. É, é e é... preciso respirar pra conseguir conectar alguma coisa aqui dentro que quer dizer ao chegar. Bem, quer não dizer:
- Será que voltei para ficar?
Renatorussiando, ainda é cedo...
Já é tarde pra dizer que foi cedo, foi precipitado... Foi precipício. Aprendizado. Garotinhas criadas à café e "faça o que quiser" dá no mínimo nisso - falta de: obrigações, pesos, interesses reais, sonhos mais alcançáveis talvez....

E desde quando alguém não tem controle sobre isso tudo?

Desde agora, Seu Sonho Barato Idiota que não cansa. É, ainda deslancha um bando de palavras fodidas de serem ditas. É a vida, e é linda, é sim... É as pessoas errando, o erro enganando ou acertando ou direcionando ou nada disso! O erro é também um desperdício de certezas. E quem tem uma pra ditar? E quem tem uma que caiba? Quem tem um troço que desentupa a cabeça de tanta migalha colhida aos prantos; de fome se morre e se mata. Ou simplesmente se escapa?
Se engana.
Ou esquece-se.

Algumas pastam perfeitamente em território vago. É, são as 'vaca'. São as migalha de pão dormido. São as dores, os dias e os gemidos surtindo efeito nos mamilos túrgidos. Nas tetas encolhidas e no tato contraído.

Quase me afogo em tanta água...
Tanta umidade
Tanta pasta
Tanta cola
Tanta quadrilha...

São os remendos de Julho. São os São João de Junho ou os amendoins torrados. São as secreções de Março. São tudo. Tudo são e salvo graças à cara dura - cara pálida. Cara de pau de Santa do Pau Oco. Vôo da Gol, ôpa! Rouca, é copa... É penta. Tentativa cansativa. São as vidas. As mochilas em São Paulo ou em Brasília? As Vida de Sãoquevivi. Vive se - in...

E o ar reluta.
Não querendo entrar...

Será que estou presa naquele lugar?