25.1.04

outra coisa

ele vem por cima com psico-patas e olhos lacrimejam. olhos que tem aquele branco perto da pupila. dá pra ver alguma lágrima ali por perto nadando. como se fosse o motivo mais confiável para uma entrega. mas já disseram antes e um pouco de violência é necessária. às vezes é impossível conseguir algo sem violência.

de todos os espaços o aperto
telefones já não funcionam como antes
causam dois dias procurando fósforos, apenas testa queimada
suor e chuva

duas noites
densidade: a festa vai acabar vai tudo voando pelos ares mesmo pela estrada ou por cima desse corpo.

dois comprimidos

fluoxetina-me antes de entrar no abismo
entre - uma parte torta outra corta.

duas vozes no portão
narinas em fluxo, cheira-me um sal, um perto, um surto

um momento só
meu só um momento
só no canto do só neste canto perto dentro
uma solidão flexível e confortável
perto, bem perto do meu próprio ridículo.

bem perto dos pós. areia nas malas e nos olhos e ...

7.1.04

post remetente-remelento: no true (false) oh no your eyes


Filme iraniano
coca-cola sem gás com limão
limpeza de pele
sem burcas e com palavrão
mulheres, minhas mulheres são
sóis

.

postuo-te de volta da volta mesmo estando em outros lares cultivando outros ansejos, another eixos, anos de volta. eu vou. só pra saber cometutetá.!.?.

5.1.04

Matéria de Poesia
Manoel de Barros


Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia.

O homem que possui um pente e uma árvore serve para a poesia. Terreno de 10 por 20, sujo de mato, e os detritos que nele gorjeiam, como, por exemplo, latas, servem para poesia.

As coisas que levam a nada têm grande importância. Cada coisa ordinária é um elemento de estima; cada coisa sem préstimo tem seu lugar na poesia.

As coisas que não pretendem, como, por exemplo, pedras que cheiram água, homens que atravessam períodos de árvore, se prestam para poesia. Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado, como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia.

Os loucos de água e estandarte servem demais para a poesia.

O traste é ótimo, o pobre-diabo é colosso. As pessoas desimportantes dão para a poesia.

Qualquer pessoa ou escada, o que é bom para o lixo é bom para a poesia. As coisas jogadas fora têm grande importância. Um homem jogado fora também é objeto de poesia. Aliás, saber qual o período médio que um homem jogado fora pode permanecer na terra sem nascerem em sua boca as raízes da escória também dá poesia!

Tudo aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima, serve para poesia.

Sobre o(a) autor(a):
Manoel de Barros nasceu em 1916 em Cuiabá (MT).
Advogado, fazendeiro e poeta pantaneiro.
Chamado de "Guimarães Rosa da poesia".




ouça-audio/fonte: do programa Provocações - por Antônio Abujamra

4.1.04

e meta

olhar pro infinito do espaço em branco. escrever. entortar. as farças, nacas e palavras enquanto fumo um cigarro demasiado solitário. No fim era eu. Eu e um cigarro também solitário. E a porta se fecha.

Apenas uma brecha de cordões entre nossos nós
(nada).
sem rumo os hipopótamos prosseguiam em sua cavalgada
caminhada bomba
(nada).

Sim.
Projetos de sim.
Sem recuar à primeira
"O que é que eu vou fazer?"
sim
disse
(nada).

A virada está virando
E aqui em cima ouço o grito
"só"