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24.10.18
19.6.18
deixa no
Não deixe pessoas de seu
Sustentáculo,
Meninas não,
Senhoras não,
Meninos não,
Senhores não,
Nada no intermédio
Nenhum desses,
Não deixe pessoas de seu
Sustentáculo.
Ao invés,
Sustente acima da areia,
sobre aterros,
Erga-se em piscinas,
Acima de cemitérios,
até sobre a água,
Mas não coloque nada sobre pessoas.
Elas são uma aposta ruim,
a pior que você pode fazer.
Alce também algo
em qualquer outro lugar,
qualquer lugar,
mas em cima de pessoas,
sem cabeça, sem coração
multidões de gentes que
esfuracam os
séculos,
os dias,
as noites,
as vilas, as cidades, as
nações
a Terra,
a estratosfera,
esfoladas todas as chances
aqui,
totalmente destroçadas
até
então
agora
e amanhã.
Qualquer coisa,
exceto pessoas,
é um motivo que vale a pena
ir em busca de.
Qualquer coisa.
*poem Let Not, de Charles Bukowski, aqui livremente traduzido/revisitado por tamara e costa.
9.7.13
Haikus de Allen Ginsberg
aqui livremente traduzido por tamara e costa
Bebo meu chá
Sem açúcar
Sem discordar.
Cocô de pardal
de cabeça pra baixo
- ah, meu cérebro & ovos.
Cabeceira Maia num
pacífico tronco de argila
- Um dia vou viver em N.Y.
Olho pelo ombro
meu está traseiro coberto
de flores de cerejeira.
Haiku de Inverno
Eu não sabia os nomes
das flores--agora
meu jardim desapareceu.
Estapeei o mosquito
e o deixei escapar
- O que me fez fazer isso?
Lendo Haiku
Sou infeliz,
ansiando pelo Inominável.
Um sapo boia
na jarra de fármacos:
chuva de verão no asfalto.
Na sacada
nos meus shorts;
faróis na chuva.
Mais um ano
que se passa - o mundo
não está diferente.
A primeira coisa que procurei
no meu antigo jardim foi
A Cerejeira.
Minha velha escrivaninha:
a primeira coisa que procurei
em minha casa.
Fantasma de mamãe:
a primeira coisa que achei
na sala.
Parei de me barbear
mas os olhos que olhavam para mim
mantiveram-se no espelho.
O louco
surge dos filmes:
a rua na hora do almoço.
Cidades de jovens
estão no túmulo,
e nesta vila...
Deitada a meu lado
no vazio:
a respiração de meu nariz.
No décimo quinto andar
o cão rói um osso-
Guicho para táxis.
De pau duro em Nova York,
um menino
em San Francisco.
A lua sobre telhado,
minhocas no jardim,
aluguei esta casa.
1) Todas as conversas - "Preciso de uma colher para tomar a sopa" - abrem caminho para a Elipse, tudo que eu falo é haiku.
2) A imagem Ocidental (metáfora aristotélica da equidade) é um haiku comprimido.
3) O estudo das principais formas de elipse, haiku nu, pode ser aplicado no avanço das práticas da metáfora ocidental.
4) Hauku= imagens objetivas escritas sem a interferência da mente resultam inevitavelmente na sensação mental das relações. Nunca tente escrever das relações em si, apenas as imagens que representam tudo que pode ser escrito sobre o assunto.
em Allen's Journals (Fall, 1955).
Originais em inglês via Ginsbergblog.
Bebo meu chá
Sem açúcar
Sem discordar.
Cocô de pardal
de cabeça pra baixo
- ah, meu cérebro & ovos.
Cabeceira Maia num
pacífico tronco de argila
- Um dia vou viver em N.Y.
Olho pelo ombro
meu está traseiro coberto
de flores de cerejeira.
Haiku de Inverno
Eu não sabia os nomes
das flores--agora
meu jardim desapareceu.
Estapeei o mosquito
e o deixei escapar
- O que me fez fazer isso?
Lendo Haiku
Sou infeliz,
ansiando pelo Inominável.
Um sapo boia
na jarra de fármacos:
chuva de verão no asfalto.
Na sacada
nos meus shorts;
faróis na chuva.
Mais um ano
que se passa - o mundo
não está diferente.
A primeira coisa que procurei
no meu antigo jardim foi
A Cerejeira.
Minha velha escrivaninha:
a primeira coisa que procurei
em minha casa.
Fantasma de mamãe:
a primeira coisa que achei
na sala.
Parei de me barbear
mas os olhos que olhavam para mim
mantiveram-se no espelho.
O louco
surge dos filmes:
a rua na hora do almoço.
Cidades de jovens
estão no túmulo,
e nesta vila...
Deitada a meu lado
no vazio:
a respiração de meu nariz.
No décimo quinto andar
o cão rói um osso-
Guicho para táxis.
De pau duro em Nova York,
um menino
em San Francisco.
A lua sobre telhado,
minhocas no jardim,
aluguei esta casa.
1) Todas as conversas - "Preciso de uma colher para tomar a sopa" - abrem caminho para a Elipse, tudo que eu falo é haiku.
2) A imagem Ocidental (metáfora aristotélica da equidade) é um haiku comprimido.
3) O estudo das principais formas de elipse, haiku nu, pode ser aplicado no avanço das práticas da metáfora ocidental.
4) Hauku= imagens objetivas escritas sem a interferência da mente resultam inevitavelmente na sensação mental das relações. Nunca tente escrever das relações em si, apenas as imagens que representam tudo que pode ser escrito sobre o assunto.
em Allen's Journals (Fall, 1955).
Originais em inglês via Ginsbergblog.
24.1.12
recordando a Lorca (2)
Se viro um peixe?
Mudo para o túmulo.
Se viro grama?
Me transformo em água.
Se viro um anjo?
Me transformo em um olho.
E se retorno olho?
Me transformo em faca e te traço em miúdos.
Diálogo entre Lorca y Dalí, em Little Ashes (livremente traduzido por Srta T.)
NOTA: O poeta Frederico García Lorca (1898-1936) foi silenciado por forças autoritárias espanholas/ fuzilado pelas costas.
ver também: Dossiê Lorca
Mudo para o túmulo.
Se viro grama?
Me transformo em água.
Se viro um anjo?
Me transformo em um olho.
E se retorno olho?
Me transformo em faca e te traço em miúdos.
Diálogo entre Lorca y Dalí, em Little Ashes (livremente traduzido por Srta T.)
NOTA: O poeta Frederico García Lorca (1898-1936) foi silenciado por forças autoritárias espanholas/ fuzilado pelas costas.
ver também: Dossiê Lorca
18.10.11
a poesia e todas as formas de arte foram e sempre serão uma questão de individualidade. Se a poesia fosse qualquer coisa - como deixar cair uma bomba atômica - que alguém fez, qualquer um que quisesse poderia se tornar merecidamente um poeta apenas por executar algo, independente do que esse algo venha a acarretar, ou não. Poesia é 'estar sendo', não fazendo. Se você deseja seguir, ainda que à distância, o chamado do fogo (aqui, como sempre, falo do meu pessoal e tendencioso ponto de vista), você tem que escapar do universo ordinário e se abrigar na casa - sem paredes - do ser. Sei que, onde quer que haja rastro de civilidade, não há qualquer recompensa ou punição por 'não estar sendo'. Mas se a poesia é definitivamente seu caminho, você deve esquecer tudo sobre punições e também tudo sobre recompensas e também tudo sobre obrigações e deveres e responsabilidades etcetera ad infinitum e lembrar somente de uma coisa: é você - e ninguém mais - que determina e decide qual será o seu destino. Ninguém vai viver sua vida por você; nem você estará vivo no lugar de alguém. Toms pode ser Dicks e Dicks pode ser Harrys, mas nenhum deles será você. Esta é a responsabilidade do artista, a mais terrível responsabilidade deste universo. Se você pode assumi-la, assuma - e seja. Se não puder, levante-se e vá cuidar dos negócios de outras pessoas, e executar (ou não) qualquer coisa que lhe pedirem, até o fim de suas forças.
este é um trecho do livro I: six nonlectures, de E. E. Cummings. Livremente traduzido por Srta T.
este é um trecho do livro I: six nonlectures, de E. E. Cummings. Livremente traduzido por Srta T.
23.6.10
a experiência mítica, por Julio Cortázar
"Cada vez que passeava pelo tempo, quando podia passear por Buenos Aires, e cada vez que passeio por Paris (aqui), sobretudo a noite, sei muito bem que não sou eu mesmo que, durante o dia, leva uma vida comum e normal. Não quero fazer romantismo barato. Não quero falar de estados alterados. Mas é evidente que esse eixo de se por a caminhar por uma cidade como Paris ou Buenos Aires durante a noite, nesse estado ambulatório em que, em um dado momento, desejamos pertencer ao mundo ordinário, me situo com respeito a cidade, e situa a cidade em respeito a mim, em uma relação que os surrealistas gostavam de chamar 'privilegiada'. É dizer que, nesse preciso momento, se produz a passagem, o poente, a osmose, os signos, as descobertas. E tudo isso é o que gerou, em grande parte, o que é escrito em forma de novelas e relatos. Caminhar por Paris - e por isso qualifico Paris como uma cidade mítica -, significa me mover (avançar) em direção a mim. Mas é impossível descrever com palavras. É dizer que, nesse estado, em que ando um pouco perdido, como em uma distração que me faz observar as cadeiras dos bares, as pessoas que passam, e estabelecer, por todo o tempo, relações que compõem frases, fragmentos de pensamentos, de sentimentos... Tudo isso cria um sistema de constelações sentimentais que determinam uma linguagem que não pode ser explicada com palavras. E nesse momento aparecem, em Paris por exemplo, lugares que para mim sempre foram privilegiados. Posso citar um, o primeiro que me vem a memória, perto daqui, em Pont Neuf, ao lado da estátua de Enrique IV, há um farol no fundo. Ali, onde se pára para tomar o "Bateau-Mouche". A noite, a meia noite quando não há mais nada, esse canto solitário é para mim, definitivamente, um quadro de Paul Deuvaux. Essa imanência de uma coisa que pode aparecer, que pode se manifestar, e que o coloca em uma situação que já não tem nada a ver com as categorias lógicas e os acontecimentos ordinários. Também poderia falar do metrô, em Paris. O metrô sempre foi para mim um lugar de passagem. Me basta passar pelo metrô para entrar em uma categoria lógica totalmente diferente das categorias lógicas, onde há mudança na sensação de tempo. Além disso, na história "El perseguidor", há um personagem que descobre que o tempo é completamente diferente quando está no metrô de quando está na superfície. E inclusive pode provar logicamente. Essa é uma sensação, uma experiência que tenho, pelo menos, a cada quinze dias. É descer, e descobrir bruscamente que, em certos estados de distração, no metrô, se tem a impressão de que se pode habitar um tempo que não tem nada a ver com um tempo que existe na superfície, uma vez que saímos na rua. E também estão nas galerias cobertas: a galeria Vivienne... Estão em todos os lugares de Paris que a gente recorre para ficar em um lugar coberto e contudo eram os lugares inquietantes de Lautreamont... Todos esses ambientes cobertos em Paris são absolutamente mágicos e misteriosos, é o que chamo de MÍTICO". entrevista de Julio Cortázar, livre-transcrição por Tamara Costa
Ver também:
Perto da linha do Trópico de Capricórno talvez o lugar de passagem esteja mais para um delírio sob o sol banhado a suor, amarelo manga, papel manteiga sob os olhos como uma imagem do SBT. e tudo que rumo de sombra se assemelhe. talvez o subterrâneo seja a sombra de uma suculenta e centenária árvore-mãe.
Ver também:
Perto da linha do Trópico de Capricórno talvez o lugar de passagem esteja mais para um delírio sob o sol banhado a suor, amarelo manga, papel manteiga sob os olhos como uma imagem do SBT. e tudo que rumo de sombra se assemelhe. talvez o subterrâneo seja a sombra de uma suculenta e centenária árvore-mãe.
20.4.10
Manifesto aos criadores (Alan Moore)



A Manifest for Creators, foi escrito por Alan Moore, e publicado originalmente numa antiga revista (80’s), intitulada THE COMICS JOURNAL. As publicação foi acessada página de José Carlos Neves (www.alanmoore.com.br). O impresso foi aqui livremente traduzido por Tamara Costa. Enjoy it!
O objetivo deste “criativo manifesto” é tentar definir mais claramente as regras do meio que habitamos, além de deixar claro o que entendemos por direitos e obrigações de todos os envolvidos.
Acreditamos que sem a participação ativa das pessoas criativas em determinação ao curso deste meio, estamos em perigo de se tornar tão responsáveis quanto redundantes, como as outras medias (TV, FILMES, NOVELAS) que estão criando-procriando e dimensionado as criações a partir de negócios.
Através de nossos esforços para manter os negócios, esses que deixam o lado criativo em segundo plano, esperamos criar um ambiente onde possamos combinar a “visão individual de realização” com a “arte massificada”, que é, por conseguinte, qualidade do mercado do entretenimento das massas.
Enquanto definimos as regras, somos seduzidos a redefinir também os termos tradicionais, tais como: autor, distribuidor, editor, e assim por diante.
Também acreditamos que em nosso meio a coerção (repressão) não tem lugar; como também ela é inaceitável em qualquer direção. Nós iremos criar e publicar e distribuir de acordo com o espírito e esforços voluntários.
Existem quatro partes essenciais para nosso mercado: o TRABALHO, a FONTE/fontes de informação, os meios/RECURSOS o PÚBLICO/audiência.
O nítido resultado da criatividade é o TRABALHO.
A origem do TRABALHO é a FONTE da informação.
O TRABALHO se move da fonte para o público por meio dos RECURSOS.
Aqueles que compram e/ou lêem o TRABALHO, através dos por meio de recursos, são A AUDIÊNCIA/PÚBLICO.
Nós começamos com o autor.
Só então o trabalho é criado.
Depois que o trabalho é criado, ele é impresso.
Após a impressão vem a distribuição do trabalho.
Finalmente o trabalho é comprado e com sorte e esperança – lido.
I) A FONTE
A FONTE é onde o TRABALHO se origina: é o AUTOR do TRABALHO.
Acreditamos que o compromisso da FONTE é, primeiramente, com seu trabalho, e isso é necessário assegurar, com criatividade e segurança, que as medidas necessárias ao trabalho do autor estão sob seu único e exclusivo controle.
Preço, formato, paginação, tiragem, design, conteúdo, a presença ou ausência de publicidade, e a assistência dada (dentro dos limites de nossas leis), devem ser resolvidas somente com a autorização da FONTE.
Voluntariamente, apoiamos uns aos outros para assegurar um futuro seguro para nós e para que nosso trabalho se realize dentro dos limites de nossos recursos individuais.
Acreditamos no envolvimento positivo entre AUTORES e EDITORES, com o máximo controle e autonomia entre ambos, e também levamos em consideração a absoluta liberdade para todos os AUTORES, seguidos de absoluta liberdade de publicação para os EDITORES.
Para facilitar isso, um protocolo ou código de comportamento para interação entre AUTORES e EDITORES deve ser estabelecido.
O AUTOR deve criar independente do que ele quer, e publicar, com autonomia, da forma que ele acha apropriado.
O EDITOR deve publicar ou não publicar, independente do que ele acha apropriado.
Presume-se que o AUTOR está oferecendo seu trabalho para publicação de forma integral e não sujeita a alteração. O EDITOR é livre para aceitar ou rejeitar um trabalho que segue esses princípios básicos.
Se o editor achar que não pode publicar o trabalho de um AUTOR devido ao conteúdo ofensivo, ou legalmente suspeito, ele não é obrigado a fazê-lo. Caso o EDITOR rejeite o TRABALHO, o AUTOR é livre para mostrá-lo a outro EDITOR que esteja interessado na publicação; ou, caso ele prefira, que seja possível necogiar as mudanças que o EDITOR considera necessárias para a publicação do TRABALHO. Em qualquer ponto da negociação, qualquer uma das duas partes tem o direito de declarar algum impasse/obstáculo e suspender todas as negociações, sem que isso cause prejuízo ou repercussão. O EDITOR deve tentar ajudar o AUTOR ao máximo possível, financeiramente, tecnicamente, etc, e apoiar os esforços do AUTOR para que ele consiga publicar, por ele mesmo, assim como faz o EDITOR. A extensão da referida ajuda deve estar a critério exclusivo do EDITOR.
No caso dessa situação ocorrer durante a execução do trabalho, EDITOR e AUTOR devem, no melhor cenário, concordar que a edição em questão deve ser publicada pelo AUTOR. Em contrapartida a edição seguinte, e as sucessivas, devem ser outra vez publicadas pelo EDITOR sem recriminações de ambas as partes.
II) O TRABALHO
O TRABALHO será definido de três maneiras:
1) PERIÓDICOS
a) Número de obras
b) Uma tiragem, incluindo séries limitadas e trabalhos intervalados
2) TRABALHOS ESSENCIAIS
a) Novos livros
b) Novas tiragens
3) TRABALHOS DIVERSOS
a) Portfólios, impressões, etc
b) Merchandising
É dado a cada AUTOR/EDITOR todos os requisitos necessários e o direito alienável de determinar a melhor forma de vender - ou não - seu trabalho. Nenhuma regra e nenhuma das alternativas mencionadas aqui são aleatórias. Deve se atentar para o como os trabalhos vendidos - a quem quer que seja. Tudo isso é necessário para conduzir nossos negócios com honra e honestidade.
1) PERIÓDICOS
a) Número de trabalhos: a primeira ligação dos envolvimentos indiretos com a venda é a mais recente revista/periódico que está em andamento. Nos comprometemos em dar o máximo de nossa capacidade para o cumprimento das metas dentro do período requerido, levando em consideração as limitações artísticas e os possíveis atrasos do autor. Presume-se que os distribuidores e as lojas nos informarão sobre as quantidades serem encomendadas. Os distribuidores e lojas devem ser mantidos a par das mudanças nas projeções de envio previsto e serem habilitados para modificar o ordenamento, sem prejudicar ou repercutir, dessas mudanças de envio, num período de, no máximo, 30dias.
b) Uma tiragem (incluindo séries limitadas de quatro edições ou menos) e trabalhos ocasionais: no caso de uma tiragem única, séries limitada e trabalhos intermitentes, os distribuidores e lojas devem notificar, com antecedência, para que seja possível encomendar esses trabalhos dentro de um tempo razoável.
2) TRABALHOS ESSENCIAIS:
(Nota: vemos esses trabalhos com prazo de validade permanente, sempre disposição e nas prateleiras, e, no geral, não são tratados como obras periódicas)
a) Novos livros, ou trabalhos não previamente publicados, devem devem ter data de envio constante determinada pelo autor/autores ou pela pessoa responsável pelaantologia. Todos os meios devem ser apropriados/adequados para manter o trabalho impresso e disponível.
b) Volumes re-impressos, sendo todo e qualquer trabalho anteriormente publicado em prestações devem ter uma data de lançamento anunciada de acordo com o critério dos autores ou das pessoas responsáveis pela antologia.
3) TRABALHOS VARIADOS
(Nota: como os trabalhos essenciais, vemos esses trabalhos como tendo vida permanente, sempre vistos nas prateleiras, geralmente não são tradados como trabalhos periódicos)
a) Impressões, portfólios, assinaturas e número limitados de edições e posters relacionados ou não relacionados acima, devem ser vendidos em quantidade e preços que devem estar a critério do autor/autores envolvido.
b) Merchandising: Todo comércio, incluindo brinquedos, jogos, puzzles, figurinhas, bottons, produtos alimentícios e bugigangas em geral devem ser licenciadas pelo autor ou proprietário, e devem ser sempre oferecidos ao máximo de distribuidores e lojas possíveis.
No que diz respeito a todos os itens anteriores, deixamos registrados que todos os trabalhos sob venda indireta devem estar em conformidade com esses princípios (liberados) por três ou quatro meses. Por outro lado, vendas diretas a preços de varejo para pessoas comuns devem ser feitas a critério do autor/editor.
III) OS MEIOS
Os meios são uma combinação entre PUBLICAÇÃO, IMPRESSÃO E DISTRIBUIÇÃO.
1) PUBICAÇÕES AUTÔNOMAS: o AUTOR que faz os tratamentos para impressão e distribuição de seu trabalho é considerado um editor autônomo.
2) PUBLICAÇÕES TRADICOINAIS: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores), responsável pela organização da impressão e distribuição do trabalho do autor é um editor tradicional.
3) EDITOR CHEFE: a pessoa, ou grupo de pessoas, (não necessariamente os autores) é que possui ou controla os direitos autorais do trabalho, e quem responsável pela criação da arte do trabalho e história, impressão e distribuição do trabalho é um EDITOR-CHEFE.
Imprimir é uma técnica que utiliza tinta, papel e impressoras para criar múltiplas cópias do trabalho. Existem dois tipos básicos de distribuição:
1) VENDA DIRETA: venda da FONTE ao leitor/consumidor.
2) VENDAS INDIRETAS
a) Lojas de venda: vendas da fonte a loja, e em seguida chega ao leitor/consumidor.
b) Pontos de distribuição: vendas da fonte para o distribuidor, depois para a loja e só assim chega ao leitor/consumidor.
Nós concordamos em dividir uns com os outros toda e qualquer informação que temos sobre esses e todos os meios adicionais, além de escolher os balanços adequados de todos os MEIOS mais apropriados para divulgação de nosso trabalho.
Nós concordamos em monitorar as condições indiretas de venda mercadológica e encorajamos os distribuidores e lojas a manter contato com a comunidade de editores autônomos. Concordamos em reconhecer, as comunicações que exigem reconhecimento (lojas e distribuidoras) com até 48h após o recebimento da referida comunicação. Desentendimentos podem devem ser evitados.
Para nosso benefício mútuo, encorajamos e concordamos em prestar uma análise cuidadosa pa qualquer pessoa que participe dos MEIOS, onde essas idéias serão úteis para auxiliar a transferência do TRABALHO para a audiência.
Contribuições: Stephen Bissette, Kevin Eastman, Dave Gibbons, Peter Leird, Frank Miller, Alan Moore, Stephen Murphy, Dave Sim, John Totleben, Rick Veitch, Michael Zulli.
*Este post é dedicado a Carlitus, o sri-HQ do Planalto
9.11.09
La Literature et Le Mal, by Georges Bataille
Georges Bataille fala sobre o livro "A Literatura e o Mal" em entrevista realizada pela Ina.fr (França) - em 1958. O entrevistador, deveras estúpido e frugal, chama-se Pierre Dumayet. Segundo o tradutor (do francês para o inglês), esta é a única entrevista registrada com o escritor. Eu, pelo menos, nunca visto nada do gênero antes - somente livros (impressos, diga-se de passagem - no e-books). Em todo caso, arquivo raro. Aqui transcrevo:
Primeiro quero te perguntar sobre o nome deste livro. De qual Mal você fala?
Bataille - Existem dois diferentes tipos de Mal. O primeiro está relacionado a necessidade de humana de ir bem e ter os resultados desejados. O segundo consiste na necessidade de violar alguns tabus fundamentais, como, por exemplo, o tabu contra o assassinato ou contra algumas possibilidades sexuais.
Como agir mal e em função do mal...
Bataille - Sim.
O nome deste livro indica que mal e literatura são inseparáveis?
Bataille - Em absoluto. Talvez não fique muito claro no início, mas para mim é como se literatura estiver afastada do mal, repentinamente se torna chata, cansativa. Isso pode parecer supreendente. Todavia penso que, em breve, se tornará claro que a literatura tem um acordo com a angústia. E essa angústia é baseada em algo que está seguindo o caminho errado. Alguma coisa que inevitável de se transformar em algo do Mal. E quando você faz o leitor perceber isso - ter esta perspectiva -, oferece possibilidade de uma história com um fim do Mal para os personagens, eles serão a causa (terão consciência disso). Agora estou também simplificando sobre o que tratam os romances. Quando o leitor está nesta situação desagradável, o resultado é a tensão que faz a literatura não ser maçante.
Então os escritores, ou qualquer bom escritor sente culpa de alguma coisa enquanto escreve?
Bataille - A maior parte dos escritores não estão sabem disso. Mas penso que existe uma profunda sensação de culpa. Escrever é o oposto de trabalhar. Isso pode não soar lógico, e mais, todos os livros extraordinários representam o esforço que eles (escritores) fazem contra o "real" trabalho.
Você poderia me dizer o nome de um ou dois escritores que se sentiam culpados de escrever? Quem pensou que eram criminosos porque escreviam?
Bataille - Existem dois escritores sobre os quais escrevi em meu livro que são exemplares a esse respeito. Baudelaire e Kafka. Os dois sabiam que estavam ao lado do mal. Por consequência, eles se sentiam culpados. Com Baudelaire é claro pelo fato de ele ter escolhido o título "Flores do Mal" para seus escritos mais íntimos. E com Kafka é ainda mais visível. Ele pensava que enquanto escrevia ia contra os desejos de sua família. Portanto, ele mesmo se colocava na posição de culpado. É fato que a família dele sabia que era algo mal gastar sua vida escrevendo, que a coisa certa a se fazer é se dedicar a atividades comerciais. E caso fizesse algo do tipo escrever, estaria fazendo algo do mal.
Se escrever é culpado por algo, como Kafka ou Baudelaire, é algo que não é muito responsável.
Bataille - Esta era a opinião da família deles.
Esse tipo de culpa é para eles algo infantil e você pensa que Baudelaire e Kafka se sentiam infantis enquanto escreviam?
Bataille - Penso que isso está muito claro. Eles sempre diziam, então é como se sentissem na mesma situação de uma criança diante de seus pais. Uma criança que foi desobediente e que têm consciência da culpa. Porque eles pensam serem amados por suas famílias e que estão sempre dizendo a ele o que não fazer. E que isso (escrever) era uma coisa mal de fazer - coisa mais senso comum do mundo.
Mas se a literatura é culpada de infantilidade quando escrita, isso quer dizer que literatura é infantilidade?
Bataille - Penso que existe algo essencialmente infantil na literatura. Pode parecer incompatível para aqueles que admiram a literatura (aqui me incluo). Mas acredito que a verdade fundamental é que você não conseguirá entender o que a literatura significa caso não aproxime do ponto de vista das crianças - o que não quer dizer em menor perspectivqa.
Você escreveu um livro sobre erotismo. Você pensa que o erotismo na literatura é infantil?
Bataille - Não estou certo se a literatura se difere do erotismo nesse respeito. Mas penso que é muito importante perceber o caráter infantil do erotismo em geral. Para sentir o erotismo é preciso estar fascinado como uma criança que quer participar de um jogo proibido. E um homem fascinado pelo erotismo é como uma criança sem seus pais. Ele têm medo do que poderia lhes acontecer, então nunca para até que tenha uma razão para ter medo. Não é suficiente para ele (escritor) somente apenas fazer o que fazem e se contentam os adultos normais, ele tem que se tornar assustador. Ele tem que achar a si próprio na mesma situação de quando era criança e sempre tinha medo de ser repreendido e até mesmo punidos de maneira insuportável.
Talvez eu tenha feito isso soar e você também tem me dado a impressão que você foi condenado por essa infantilidade (?) Bataille pisca o olho... Mas é hora de voltar para o título do seu livro "A literautura e o Mal". Você não me parece ter sido condenado nem pela literatura nem pelo Mal. Você poderia falar mais sobre das idéias do livro?
Bataille - Com toda certeza é um aviso. O livro diz que é perigoso, mas, uma vez que você entende o perigo, tem boas razões para confrontá-lo. Penso que é importante para nós - confrontar o perigo é literatura - um real perigo. Mas você não é um homem se não confrontar aquele perigo. Na literatura podemos ver a perspectiva humana em sua íntegra. Porque a literatura não nos permite viver sem enxergar a natureza humana sob seu aspecto mais violento. É só pensar sobre as tragédias, Sheakspeare. Existem muitos exemplos do gênero. E finalmente, a literatura nos faz perceber o o pior e aprender como confrontar e dar um fim a isso. Rapidamente, um homem que brinca encontra no jogo a força para para dar o fim ao que o jogo contém de horror.
Traduzido do francês para o inglês por hvolsvellir, re-traduzido e transcrito em português por Srta T., ou Madame Felix Culpa.
Ver também:
Primeiro quero te perguntar sobre o nome deste livro. De qual Mal você fala?
Bataille - Existem dois diferentes tipos de Mal. O primeiro está relacionado a necessidade de humana de ir bem e ter os resultados desejados. O segundo consiste na necessidade de violar alguns tabus fundamentais, como, por exemplo, o tabu contra o assassinato ou contra algumas possibilidades sexuais.
Como agir mal e em função do mal...
Bataille - Sim.
O nome deste livro indica que mal e literatura são inseparáveis?
Bataille - Em absoluto. Talvez não fique muito claro no início, mas para mim é como se literatura estiver afastada do mal, repentinamente se torna chata, cansativa. Isso pode parecer supreendente. Todavia penso que, em breve, se tornará claro que a literatura tem um acordo com a angústia. E essa angústia é baseada em algo que está seguindo o caminho errado. Alguma coisa que inevitável de se transformar em algo do Mal. E quando você faz o leitor perceber isso - ter esta perspectiva -, oferece possibilidade de uma história com um fim do Mal para os personagens, eles serão a causa (terão consciência disso). Agora estou também simplificando sobre o que tratam os romances. Quando o leitor está nesta situação desagradável, o resultado é a tensão que faz a literatura não ser maçante.
Então os escritores, ou qualquer bom escritor sente culpa de alguma coisa enquanto escreve?
Bataille - A maior parte dos escritores não estão sabem disso. Mas penso que existe uma profunda sensação de culpa. Escrever é o oposto de trabalhar. Isso pode não soar lógico, e mais, todos os livros extraordinários representam o esforço que eles (escritores) fazem contra o "real" trabalho.
Você poderia me dizer o nome de um ou dois escritores que se sentiam culpados de escrever? Quem pensou que eram criminosos porque escreviam?
Bataille - Existem dois escritores sobre os quais escrevi em meu livro que são exemplares a esse respeito. Baudelaire e Kafka. Os dois sabiam que estavam ao lado do mal. Por consequência, eles se sentiam culpados. Com Baudelaire é claro pelo fato de ele ter escolhido o título "Flores do Mal" para seus escritos mais íntimos. E com Kafka é ainda mais visível. Ele pensava que enquanto escrevia ia contra os desejos de sua família. Portanto, ele mesmo se colocava na posição de culpado. É fato que a família dele sabia que era algo mal gastar sua vida escrevendo, que a coisa certa a se fazer é se dedicar a atividades comerciais. E caso fizesse algo do tipo escrever, estaria fazendo algo do mal.
Se escrever é culpado por algo, como Kafka ou Baudelaire, é algo que não é muito responsável.
Bataille - Esta era a opinião da família deles.
Esse tipo de culpa é para eles algo infantil e você pensa que Baudelaire e Kafka se sentiam infantis enquanto escreviam?
Bataille - Penso que isso está muito claro. Eles sempre diziam, então é como se sentissem na mesma situação de uma criança diante de seus pais. Uma criança que foi desobediente e que têm consciência da culpa. Porque eles pensam serem amados por suas famílias e que estão sempre dizendo a ele o que não fazer. E que isso (escrever) era uma coisa mal de fazer - coisa mais senso comum do mundo.
Mas se a literatura é culpada de infantilidade quando escrita, isso quer dizer que literatura é infantilidade?
Bataille - Penso que existe algo essencialmente infantil na literatura. Pode parecer incompatível para aqueles que admiram a literatura (aqui me incluo). Mas acredito que a verdade fundamental é que você não conseguirá entender o que a literatura significa caso não aproxime do ponto de vista das crianças - o que não quer dizer em menor perspectivqa.
Você escreveu um livro sobre erotismo. Você pensa que o erotismo na literatura é infantil?
Bataille - Não estou certo se a literatura se difere do erotismo nesse respeito. Mas penso que é muito importante perceber o caráter infantil do erotismo em geral. Para sentir o erotismo é preciso estar fascinado como uma criança que quer participar de um jogo proibido. E um homem fascinado pelo erotismo é como uma criança sem seus pais. Ele têm medo do que poderia lhes acontecer, então nunca para até que tenha uma razão para ter medo. Não é suficiente para ele (escritor) somente apenas fazer o que fazem e se contentam os adultos normais, ele tem que se tornar assustador. Ele tem que achar a si próprio na mesma situação de quando era criança e sempre tinha medo de ser repreendido e até mesmo punidos de maneira insuportável.
Talvez eu tenha feito isso soar e você também tem me dado a impressão que você foi condenado por essa infantilidade (?) Bataille pisca o olho... Mas é hora de voltar para o título do seu livro "A literautura e o Mal". Você não me parece ter sido condenado nem pela literatura nem pelo Mal. Você poderia falar mais sobre das idéias do livro?
Bataille - Com toda certeza é um aviso. O livro diz que é perigoso, mas, uma vez que você entende o perigo, tem boas razões para confrontá-lo. Penso que é importante para nós - confrontar o perigo é literatura - um real perigo. Mas você não é um homem se não confrontar aquele perigo. Na literatura podemos ver a perspectiva humana em sua íntegra. Porque a literatura não nos permite viver sem enxergar a natureza humana sob seu aspecto mais violento. É só pensar sobre as tragédias, Sheakspeare. Existem muitos exemplos do gênero. E finalmente, a literatura nos faz perceber o o pior e aprender como confrontar e dar um fim a isso. Rapidamente, um homem que brinca encontra no jogo a força para para dar o fim ao que o jogo contém de horror.
Traduzido do francês para o inglês por hvolsvellir, re-traduzido e transcrito em português por Srta T., ou Madame Felix Culpa.
Ver também:
15.8.09
Oitava elegia, de Rilke
Dedicada à Rudolf Kassner.
"Com todos seus olhos, a criatura vê o aberto. Somente nossos olhos parecem voltados, postos como armadilhas em tôrno da criatura, de sua livre passagem. O que está fora, nós não o lemos se não no olhar do animal, pois, a jovem criança está já voltada por nós e forçada a ver as formas diante de si, ao invés de desvendar esta abertura, tão profunda como a face do animal, livre de toda morte. Quanto a nós, é somente morte o que vemos. O animal sempre livre têm seu fim atrás e diante dele Deus. E quando ele se move, é para pertencer à eternidade, como os movimentos das fontes. Nós não temos um dia sequer, diante de nós, o puro espaço ao qual as flores se abrem infinitamente. É sempre o mundo e jamais, saído do nada, o lugar que é de parte alguma, a pureza que nada vigia mas que se respira, que se conhece infinito, que nada cobiça. Criança, tal aí se perde no silêncio e é perturbada. Ou tal outro morto o é. Pois perto da morte não a veem mais, o olhar se fixa e se torna talvez aquele do animal. Os amantes, não sendo o outro que mascara a vista, estariam muito próximos. Eles se admiram...
Atrás do outro, qualquer coisa se abre inadvertidamente... Mas ninguém jamais ultrapassa o outro e de novo tudo re-torna-se o mundo. Sempre voltados para a criação, não é se não nela que nós avistamos o reflexo da liberdade que nos encobre de sombra, ou quando um animal mudo nos atravessa com seu olhar levantado. É bem isso o destino: se manter em face, nada de outro, sempre em face.
Se tivesse uma consciência como a nossa, no aminal seguro de si que vem ao nosso encontro, seu movimento nos arrancaria do nosso caminho. Mas seu ser é infinitamente puro, sem limites. É seu olhar em seu estado, puro como a vista das coisas. Lá onde nós vemos o futuro, ele vê o todo e se vê ele mesmo no todo, e salvo, para sempre.
E portanto, há no animal se quente e vigilante, o peso e a preocupação de uma grande melancolia. Pois ele leva, ele também, o que assim frequentemente nos subjuga - a lembrança, este sentimento que tudo nos conduz o que tende a já estar muito próximo, muito fiel e de contato muito terno. Aqui tudo é distância e lá tudo era sopro. Depois do primeiro lar, o segundo lhe parece duvidoso e aberto aos ventos. Ó felicidade da pequena criatura que sempre permanece no seio que a levou ao seu termo. Ó felicidade do mosquito que, mesmo na hora de seu casamento, salta no interior do seio - , pois, estar no seio, é tudo. Olha esta segurança amputada do pássaro que, por sua origem, quase sabe de uma e de outra coisa, como se nele estivesse uma alma etrusca, vinda de uma morte que encerra um espaço, coberto por um que é. E quão turvo no voo é um ser nascido de um seio. Como assustado de si mesmo, ele atravessa o ar, assim como o avanço de uma rachadura na taça. É assim como o traço do morcego rasgando a porcelana da noite.
E nós: espectadores sempre e em todo lugar, voltados para tudo isso e não o ultrapassando jamais. Nós impomos a ordem. Tudo desmorona. Nós re-ordenamos, e nos decompomos nós mesmos.
Quem nos fez virar de modo que, o que quer que façamos, assumimos sempre a atitude daquele que se vai? Na última colina que lhe mostra uma vez ainda todo o vale, ele se vira, se detêm e demora - é assim que vivemos e as despedidas não cessam jamais.” Elegies de Duin, Rainer Maria Rilke, Paris, 1949.
* Tradução livre para o português de Danilo Frabetti (dhangover@hotmail.com).
"Com todos seus olhos, a criatura vê o aberto. Somente nossos olhos parecem voltados, postos como armadilhas em tôrno da criatura, de sua livre passagem. O que está fora, nós não o lemos se não no olhar do animal, pois, a jovem criança está já voltada por nós e forçada a ver as formas diante de si, ao invés de desvendar esta abertura, tão profunda como a face do animal, livre de toda morte. Quanto a nós, é somente morte o que vemos. O animal sempre livre têm seu fim atrás e diante dele Deus. E quando ele se move, é para pertencer à eternidade, como os movimentos das fontes. Nós não temos um dia sequer, diante de nós, o puro espaço ao qual as flores se abrem infinitamente. É sempre o mundo e jamais, saído do nada, o lugar que é de parte alguma, a pureza que nada vigia mas que se respira, que se conhece infinito, que nada cobiça. Criança, tal aí se perde no silêncio e é perturbada. Ou tal outro morto o é. Pois perto da morte não a veem mais, o olhar se fixa e se torna talvez aquele do animal. Os amantes, não sendo o outro que mascara a vista, estariam muito próximos. Eles se admiram...
Atrás do outro, qualquer coisa se abre inadvertidamente... Mas ninguém jamais ultrapassa o outro e de novo tudo re-torna-se o mundo. Sempre voltados para a criação, não é se não nela que nós avistamos o reflexo da liberdade que nos encobre de sombra, ou quando um animal mudo nos atravessa com seu olhar levantado. É bem isso o destino: se manter em face, nada de outro, sempre em face.
Se tivesse uma consciência como a nossa, no aminal seguro de si que vem ao nosso encontro, seu movimento nos arrancaria do nosso caminho. Mas seu ser é infinitamente puro, sem limites. É seu olhar em seu estado, puro como a vista das coisas. Lá onde nós vemos o futuro, ele vê o todo e se vê ele mesmo no todo, e salvo, para sempre.
E portanto, há no animal se quente e vigilante, o peso e a preocupação de uma grande melancolia. Pois ele leva, ele também, o que assim frequentemente nos subjuga - a lembrança, este sentimento que tudo nos conduz o que tende a já estar muito próximo, muito fiel e de contato muito terno. Aqui tudo é distância e lá tudo era sopro. Depois do primeiro lar, o segundo lhe parece duvidoso e aberto aos ventos. Ó felicidade da pequena criatura que sempre permanece no seio que a levou ao seu termo. Ó felicidade do mosquito que, mesmo na hora de seu casamento, salta no interior do seio - , pois, estar no seio, é tudo. Olha esta segurança amputada do pássaro que, por sua origem, quase sabe de uma e de outra coisa, como se nele estivesse uma alma etrusca, vinda de uma morte que encerra um espaço, coberto por um que é. E quão turvo no voo é um ser nascido de um seio. Como assustado de si mesmo, ele atravessa o ar, assim como o avanço de uma rachadura na taça. É assim como o traço do morcego rasgando a porcelana da noite.
E nós: espectadores sempre e em todo lugar, voltados para tudo isso e não o ultrapassando jamais. Nós impomos a ordem. Tudo desmorona. Nós re-ordenamos, e nos decompomos nós mesmos.
Quem nos fez virar de modo que, o que quer que façamos, assumimos sempre a atitude daquele que se vai? Na última colina que lhe mostra uma vez ainda todo o vale, ele se vira, se detêm e demora - é assim que vivemos e as despedidas não cessam jamais.” Elegies de Duin, Rainer Maria Rilke, Paris, 1949.
* Tradução livre para o português de Danilo Frabetti (dhangover@hotmail.com).
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