22.3.02

Digerindo o bolo de doces palavras.
O miojo que boia molho de mar revolto.
São as gorduras do fogão; a pilha de louça suja na pia.
O avesso do sapato.
Fora o cigarro que fode com o carpete do quarto - queimado.
Sangue - cólica.
Manhã - macomomacomanhã... Acordo!
Atraso.
Aula de flauta.
Sopro do vento e vendo e vento todo mar forte sopra e soca a nuca.
O vento... Ah! o Sal.
Pipoca.






Não dá pra levar tudo tão a sério...





ASAS E AZARES

Voar com a asa ferida?
Abram alas quando eu falo.
Que mais foi que fiz na vida?
Fiz, pequeno, quando o tempo
estava todo ao meu lado
e o que se chama passado,
passatempo, pesadelo,
só me existia nos livros.
Fiz, depois, dono de mim,
quando tive que escolher
entre um abismo, o começo,
e essa história sem fim.
Asa ferida, asa ferida,
meu espaço, meu herói.
A asa arde. Voar, isso não doi.

Paulo Leminski

7.3.02

Finalmente algum tempo pra escrever alguma coisa que não se diz... Tenho até às 10:00.
Sim, eu digo coisas que não gostaria de dizer - prefiro o silêncio. Como me faz "bem" um silêncio bem calado. Não há o que se compare, portanto silêncio.
Estou aqui (minto) e estatelo meus pensamentos queimados adentro. Estou vivendo dentro das palavras repetidas, dentro de cada dia adentro outra realidade - subentendida. Penso e isso é um castigo. Castigo por alguma coisa que não fiz bem, e bem... Os caminhos são muitos e mesmos. O sofrimento até certo ponto ou em certos assuntos é um pretexto pra uma reflexão da conjutura. Auto-crítica e martírio e perfeição e merda.
Isso é isso.
Mãe é mãe.
Saudade é saudade - sem tradução.
E a merda é a merda.

Dentro do ônibus; entro. Sento no assento (repito e chego ao mesmo lugar) ao lado da janela. O mar. Agora tenho uma visão ampliada de outras águas. A diferença não está na natureza em si, está em mim. Mudo e mudo e mudo e mudo de foco. Durmo cantando...

"Mão na folha, mão, mão, rosa mão, folha tola, tola, folha, rosa vi, rosa si, dó mi dó, dormindo, mão, mão, mão..."

Abro tua palavra e sinto como sempre aquilo que não se sabe o que... É e basta sentir. Por muito (intensifico) tempo procuro alguma coisa que ultrapasse o que se quer dizer, algo que não se programe, que se encaixe e que seja diferente por ser tão parecido. Estranho sentir saudade de algo que não se teve por concreto - esse é um ponto. As coisas apalpáveis ultimamente (quase sempre) se repetem de maneira igual e perdem a graça, ficam paradas e são coisas que posso tocar, que posso ter a certeza que vou ter quando quiser, e não... Sinceramente desisto de explicar.

" Preocupação de verdade na raiva de dizer. Donde o interesse da possibilidade de ver-se livre por meio do encontro. Mas devagar..." Samuel Beckett

E a caixa de msgs está cheia de coisas que não leio. Minha vida está cheia de pessoas que não tem o que dizer. Acho que já me fechei e mesmo não querendo ouvir - ouço o que os outros têm a dizer. Escuto, e fico na cama pensando em filtros. Livros, três livros e uma sandália vermelha. Vejo (tu - do sutaque) saindo de dentro de uma bota. Um gato, me lembro de algo que foi dito e gatos são figuras que me inquietam desde pequena. Os gatos são bizarros e eu associo tudo. O gato arranha minhas botas e li... Li que quando um gato arranha é porque está sentindo prazer. Bah! (do - sultaque) não entendo a filosofia dos gatos e na verdade tenho um pouco de medo do que pode acontecer. Imagine que estou com fone de ouvidos, escutando uma rádio ridícula - preciso de silêncio. A música adentro do meu vácuo.

Estou nas palavras.
Sinta minha única certeza.

Preciso (agora com frequência alterada; maior) me comunicar com vários seres que habitam algum lugar de mim. Peço um tempo e peço mesmo. Me correspondo de outras maneiras...
Não fiz uma música.
Preciso de um violão.
Preciso de uma pessoa.
Preciso dormir direito.
Preciso comer direito (preciso comprar comida).
Preciso pagar contas no banco.
Preciso de uma calça curta.
Preciso... e não preciso de porra nenhuma! Isso é uma maneira de projetar minha necessidade em objetos ultilizáveis. Não quero usar ninguém e me sinto egoísta todo dia. Um simples "pão com manteiga"...

"Fome...já são quase meia noite. Os cigarros acabaram e não tem café, não tem computador, não tem nada, não tenho a sensação de estar dormindo em casa, não estou em casa, não quero dormir e preciso... Preciso acordar cedo e o pão. Já são seis da manhã e não tem café, e o cigarro, preciso comprar..."

A vida é um ciclo e chamar meia-noite de seis da manhã não vai mudar muito o assunto.
Será que o gato está calado?
Parece que não e Darvin que explique. Darvin que selecione tudo que seja propício. Darvin que se foda e que se sinta bem! Não vou glorificar nada que não me faça sentir.

Bizarra e babaca.
Uma fada no tornozelo e uma rosa na imagem.
Uma rosa sem forma.
Uma mão.

Conexão lenta.
Estou só na sala.
Reflexo, estou só e lenta.
Me sinto
carente.

Demontrações, um pouco mais me fazem sorrir bregamente. Já assumi meu lado breguinha depois de chorar ouvindo "As metades da laranja" do Fábio Júnior. É, isso é fato e eu sou brega e detalhista. Não posso apagar o que escrevo senão desmancha tudo. Vou aprendendo a deixar viver... Atitudes afetivas vão aparecendo e desaparecendo aos poucos.

Conviver é foda!
e depois eu ajeito isso...

ou não.