5.4.02

Fome


Um texto que se expele enquanto um turbilhão de palavras de carne – como.
Posso?

Devoro toda a nostalgia porque quero o êxtase para continuar firme e fraca, auto-condenação. Aceitar que tudo não é assim como devia ser e estar. Assim como deveríamos fazer – ligar- interconectar outras formas de aproximação. Que não são perfeitas nem poderiam. Será que vamos prezar, sem deixar que aquelas mesmices que sempre estragam adentrem o mundo do silêncio?

E por isso, aí está o motivo. Dentro, dentro e além do que é dito. Construo outra frase – é tua.

Devoro teu discurso. Repouso em tua pausa.

“Fui ela por um instante. Pude visualizar – caí sob o peso da realidade. E não se trata de uma derrota. Soube que eram apenas fragmentos; partes subentendidas da retórica. Sou ela e agora. Agora o que produzi, agora, até agora?”

Absolutamente livre da tensão. Indiferença às súplicas do corpo. Porque me alimento do teu silêncio. Engasgo-me com tuas vísceras; que são as mesmas em fusão. As mesmas merdas, maravilhosas excretas – naturais.

Quando digo anos, entenda-se instantes. O reverso desconexo de sempre, que se encontra e
encaixa-se rapidamente. Não preciso forçar aquilo que chamam sua natureza, não costumo forçar e... Esta não é a questão. Ou é? Diga-me, assim. Fale-me como quiser. Exponha, esconda e espere o tempo que quiser, ocupe vários espaços enquanto não traço mais um pedaço.
Posso perder a conexão e perder e mudar e sair e sumir... Mas não. Não quero fugir do que move – acrescenta – o motivo sem explicação. Casual? Nada é. Desleixo de memória, ausência de razão, falta de técnica e excesso de exceções. Sublimação. Flúido.
Estou fluindo...

Meu corpo aqui está, estirado. Cabeça tola, excessiva, exagerada, demasias, demasias... Sou aquela agora: aquela tranqüila, indiferente, segura, madura, tua, tua, tua...

Digestão.

Veja, aqui está o eco, as sobras, o vômito, a excreta. Toda a merda que consigo ser e fazer. Minha mestria em errar, insistindo em lutar pelo que não há. Não existe do mesmo modo. Diferente. Mania egoísta de querer o além. Sabe, foder com Deus. Foder, trepar, esquecer, fluir, silenciar... Conceitos, isto são frases. Não sou tão assim. Sou de merda, barro; saco de merda e osso e nada e um monte de... Bosta! Sou poço de melancolia. Pura ausência. Purê de idéias. Misturas. Não me encontro. Como posso te asseguar? Como? Como? Se eu devoro tudo antes de pensar.

Na mão um cigarro e o corpo, todo ele perfurado. Vento. Enfie o dedo dentro daquela dor e tire... Enfie. Tudo faz e é só uma parte. Dói e me faz sentir algo que ainda não te dei – presente. O futuro, sem pensar... Que a gente se funda ou se foda!

O culto ao que me rendo.
Outra coisa. Fiz algumas mechas na camada mais externa do cabelo. Não leve tão a sério; cores externas.Superfície.
Hora do almoço...

Tamara Costa