31.12.14

"Quanto ao amor, já ouvi muitas pessoas, levadas por uma curiosidade colegial, indagarem àquelas a quem era familiar o uso do haxixe. O que pode ser esta embriaguez do amor, já tão poderosa em seu estado natural, quando está encerrada em outra embriaguez, como o sol dentro de um sol?". Charles Baudelaire, in Paraísos Artificiais (O haxixe, o ópio e o vinho)


Pelas fontes delirantes
donde irradiam irrigados girassóis
- fronteiras ultrapassadas
daqui,
para além da nova margem
nós
deste
outro
lado:
adios ano, adios.






19.12.14

DA ESCRITURA - por Waly & Haroldo


AÇOUGUEIRO SEM CÃIBRA
Demente que martela,
com um dedo só,
as teclas dos pianos aéreos.

Açougueiro sem cãibra nos braços,
eu faço versos como quem talha.
A facão.
E talho para desbastar os excessos:
aparto de mim uma ruma de poemas.
Ao escrever
                    (sem lume, vista turva, cego,
                                                                  no ato bruto),
                                                                             o ego some, esfuma
E o nume Ninguem Nenhures é quem assume a autoria.

Há uma gota de sangue em cada fantasma?

Açougueiro sem cãibra nos braços.
Acontece que não acredito em fatos,
magarefe agreste,
pego a posta do vivido,
talho, retalho, esfolo o fato nu e cru,
pimento, condimento,
povoo de especiarias,
fervento, asso ou frito,
até que tudo figure fábula.

Açougueiro sem cãibra nos braços,
tarefeio tosco,
cozinheiro de gororoba,
demiurgo áspero.

Demente que martela,
com um dedo só
as teclas dos pianos aéreos.

Waly Salomão, Lábia [1998], aqui transcrito de Poesia total

10.12.14

cavalo dado

por tamara e costa

Tô vendo esse homem na minha frente em vários homens
este homem é um colega ao lado que diz que choro involuntário é falso, oh mulher
este homem são todos os outros que não te respeitaram
sinceramente, este é o homem que não leu nada e já sabe tudo
este homem são todos que acham que mulher não pode pensar ou filosofar que tem dificuldades de raciocínio; que são incapazes de controlar o choro este homem poderia ser meu avô ou o seu poderia ser você?
este homem é o mesmo que confunde relato com história e história com benefício
direitos humanos com polícia
machismo com liberdade de expressão
religião com paranoia
amor e feminicídio
este homem poderia ser meu irmão ou o seu
naquele dia você pediu pra que ele lavasse a louça e ele disse que você, você, oh mulher, que o devia este homem é uma mulher que se autoinvalida
este homem te invalida
este homem está muito irritado com a sua independência financeira, com o fato de você sair de casa todos os dias
este homem se diz algo que não é
este homem é um molde crucifixo
este homem ri quando você diz que quer conversar e é sério
este homem desvelou seu mistério roubou sua alma, violou seu espaço
este homem matou a pura menina que gozava entre espaços privados e amigos, conhecidos e desconhecidos, parentes, padres, presidentes este homem tem horror à fantasia
este homem prefere geladeiras, opta pelo bolo ou só pela comida
este homem te trancou no porão e jogou a chave na jaula dos tigres famintos
este homem nasceu do teu ventre, oh mulher
este homem te deixa sozinha.


last memorie: Das cavalidades

"... a dança da morte ninguém frequentava"



"O veto integral do disco Banquete dos Mendigos, gravado por Jards Macalé, em 1974, por conter vários artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um dos golpes mais duros já realizados contra um artista brasileiro." 

"O empenho em estabelecer uma relação direta entre arte e contexto social e a crença na eficácia revolucionária da palavra cantada sistematizavam os grandes temas do debate político que marcaram as formas de engajamento da canção popular."

"Contrariando suas expectativas, Caetano Veloso foi preso juntamente com Gilberto Gil no dia 27 de dezembro" [Logo após ser decretado o AI 5, em 13 de dezembro de 1968]

"No dia 19 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, Caetano Veloso e Gilberto Gil, foram, finalmente, libertados após dois meses de prisão. Entre fevereiro e julho de 1969, foram mantidos em regime de confinamento em Salvador. Após um show de despedida no Teatro Castro Alves, nos dias 20 e 21 de julho, os compositores partiram para o exílio em Londres, onde permaneceram até 1972."

"... Manchete, com as primeiras fotografias da Terra vista do espaço."


" Paulo Coelho foi torturado na 'Geladeira', cela mantida em baixa temperatura em que o preso permanecia nu. O medo de sofrer novas torturas físicas fez com que o compositor não respondesse ao pedido de ajuda da namorada. O ato de covardia na carceragem foi motivo pelo qual Adalgisa Rios rompeu o relacionamento..."





Trechos retirados do Relatório da Comissão Nacional da Verdade, Volume II (Texto 9: A resistência da sociedade civil às graves violações de direitos humanos)

3.12.14

La visión de un pasaje

por tamara e costa


Lunes era mi administrador financiero. Muy atento y apegado a los cálculos, estaba lleno de recursos y por demás bien informado. El tipo de gente que, para sentirse útil y necesaria, puede asumir responsabilidades y números que no cualquiera sea capaz de suportar. Estilo sobrio, confiable, nunca vuelve atrás con lo que dice. Nos encontrábamos siempre los jueves en el Café Nervioso Central.

Antes de iniciar el negocio, él contaba mis billetes y una extraordinaria historia mas sobre su mujer, la linda Luci. La apertura de cada fajo, venía acompañada con un capítulo más de su novela, La Increíble Luci, la cual culminaba siempre con el mismo interrogante: por qué resultan tan fantásticas? Yo, incómodo, sin mucha compasión, consentía sus palabras pero no sentía nada en absoluto. Mi trato con él era el cambio, dinero fluente de distintos valores y nada más.

En términos sociales, había poco entre nosotros, casi nada. Nos encontrábamos sólo una vez por mes, preferentemente durante la mañana, siempre en el mismo lugar, al lado izquierdo de la puerta. Yo con promisorias, el con cumplimientos. Mientras lo esperaba sentado, disfrutaba puntualmente mi trago preferido, “Casamiento de Riesgo” o te con ron. Pensaba qué ordinarios eran nuestros problemas, qué cobardes eran nuestras razones, qué irrelevante era nuestra red de negocios. Estábamos unidos por la posibilidad de lucro tangible muy frío. Yo ganancia y provecho, el rostro de dinero y trama familiar.

Algunos se dedican a cosas no tan reales, ustedes tienen que saber. Yo, por ejemplo, aquí perdiendo el tiempo narrando sobre chismes de negocios. Triste, pero necesario. Cosas como nacer y morir, y entretanto por ambición llegar a la cima de la montaña.

Lunes tenia un persistente delirio de ir a la cama con la Imposible Luci. Noches tibias, salía solito mirando hacia arriba. Por la calle Libertinaje, se podía escuchar el sonar bailarín de las monedas en su bolsillo. Las señoritas friolentas se le aproximaban. El sabía lo que le esperaba: nunca podía juntarse con ellas. Cuando estaba muy próximo de otro cuerpo, y obtenía tenia repentinamente una visión insólita: padecía contra sí mismo una “vengativa”. Su alma estaba perpetuamente tendiente a Luci y al cálculo, sólo eso. Volvía entonces por la calle Seca contando los huequitos abiertos en la senda por las piedras que ruedan y  canalizan su pasaje.

Era primer jueves del 2013, el año de la Puerta Galática. Lunes llegó al Café Nervioso con un turbante de gasa. Muchas cosas extrañas estaban sucediendo por la ciudad, bombardeos, cámaras, fuerzas policiales e noticias superficiales.  Me entero de todo por periódicos, papeles impresos. No tengo televisión, no tengo cables. Prefiero las fotos. Me gustan más los cuadros estáticos que las imágenes en movimiento. Son más tranquilizantes y se puede estar algunos minutos observándolos, resultan menos agresivos. No miro noticias porque en América Total esto es inútil, nunca se puede obtenerlas. 

Cuando pensaba en esto o en aquello, Lunes desapareció, dejándome en la mesa una foto de una Arveja Solitaria. Yo, con comodidad y toda la compasión posible, consentí finalmente su mensaje y deseé obtener más de él.

Quedé allí sentado, mirando a la gente pasar e imaginando que Lunes llegaría a su casa, de inmediato se dirigiría a la habitación. Junto a la cama, una mesita de noche lo esperaría. Él, derrotado se apoyaría suavemente y dormiría. Con los ojos cerrados, su cabeza y bolsillos vacíos, atravesaría así hasta el otro lado, donde Luci lo espera al final del día con el tamaño de una arveja.



*Gracias a Emiliano De Bernardi pela ajuda com a traducción.

13.11.14

Manoel de Barros

    MUNDO PEQUENO        VIII

    Toda vez que encontro uma parede
                            ela me entrega às suas lesmas.
    Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
           lesmas.
    Não sei se isso é uma repetição das paredes ou de
          mim.
    Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
    Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
    Penso que dentro de minha casca
           não tem um bicho:
    Tem um silêncio feroz.
    Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra. 
                                                                                      Manoel de Barros
    Do livro: " O Livro das Ingnorãças",  Editora Record, 1997, RJ - na academia de Claudio Willer "O valor poético": Manoel de Barros"

2.11.14

revezamento de pássaros

por tamara e costa


este pássaro estava me esperando na rua Peru 565, Buenos Aires
talvez não tenha me dado conta a tempo, mas era o ano Cortázar
talvez não tenha me dado conta, mas este pássaro era Presencia
o mesmo pássaro que me esperava em outras esquinas -
de tantas outras avenidas, strs, boulevards, shoppings
inclusive a final da Avenida Jorge Luis Borges, livrarias, perspectivas
esse pássaro me esperou na plazoleta, em Palermo
que outras então...
me haveria de esperar?
viajo porque sei que encontrarei este pássaro
que talvez me tenha dito, entre livros, tente deslizar

passei mal e vomitei e era um pássaro
este pássaro estava me olhando com cara de chorisso e nacos de nachos e queijo derretido e bares de wisky com suco de limão
este não é um pássaro, é um cão

este cão estava me esperando na Avenida Orlando Carpinelli, praia do Pontal
sim eu me dei conta de que este era o ano final do calendário Maia
talvez não tenha feito contas, mas o mundo não acabou
o calçamento de pedras seguiu pé-de-moleque
segui deixando que me mordessem os pés
enquanto o barco que ia, voltava
as ondas
minha vida onda
indo e vindo com assiduidade
era rigoroso o caminho até a montanha
entretanto ele a meu lado,
parceiro, me seguia e me esperava
me haveria de seguir à espera sempre do outro lado?
(disse que sim)

me lembrou que também é Ema que se chama Brasília
apesar das grandes asas é incapaz de volar
este pássaro está sendo aplastado por carros
este pássaro não to a fins de herdar.

fico porque não compreendo
por que tanto passo
pássaro
sigo porque aprendi a suportar o som do estilhaço.






Hostel Entre Libros (San Telmo)  & Avenida Jorge Luis Borges  (Palermo), Buenos Aires, 25 de outubro de 2014.

12.9.14

As paixões segundo Dali



"As areias movediças do automatismo e os sonhos se apagam com o despertar. Mas os rochedos da imaginação continuam presentes."

"Espanhol místico, a paixão da morte é para mim uma alegria espiritual. Esteta e erótico, tento retardar o orgasmo, o gôzo arcangelical de meu aniquilamento e, por isso, sonho com a hibernação. Justifico isso que, sendo um gênio preciso ainda muitos anos para terminar minha obra. Mas é um alibi da razão. Na realidade, meu desejo visceral é durar na minha forma atual o maior tempo possível, sabendo que a morte está no fim. Não tocar, sabendo que se poderia tocar, aumentar o desejo pela recusa, prolongar ao máximo a espera para um paroxismo de prazer. pratico com minha morte a erótica dos trovadores para o gôzo final da transformação de Dali em anjo!"


 Les Passions selon Dali,  As paixões segundo Dali, Dali/Powels



1.9.14

suplicarouca.blogspot.com agora é laraturamataraturali.blogspot.com.br


19.8.14

FIN DEL MUNDO DEL FIN

Julio Cortázar, Historias de cronopios y de famas (1962). Disponível aqui.

Como los escribas continuarán, los pocos lectores que en el mundo había van a cambiar de oficio y se pondrán también de escribas. Cada vez más los países serán de escribas y de fábricas de papel y tinta, los escribas de día y las máquinas de noche para imprimir el trabajo de los escribas. Primero las bibliotecas desbordarán de las casas; entonces las municipalidades deciden (ya estamos en la cosa) sacrificar los terrenos de juegos infantiles para ampliar las bibliotecas. Después ceden los teatros, las maternidades, los mataderos, las cantinas, los hospitales. Los pobres aprovechan los libros como ladrillos, los pegan con cemento y hacen paredes de libros y viven en cabañas de libros. Entonces pasa que los libros rebasan las ciudades y entran en los campos, van aplastando los trigales y los campos de girasol, apenas si la dirección de vialidad consigue que las rutas queden despejadas entre dos altísimas paredes de libros. A veces una pared cede y hay espantosas catástrofes automovilísticas. Los escribas trabajan sin tregua porque la humanidad respeta las vocaciones y los impresos llegan ya a orillas del mar. El presidente de la República habla por teléfono con los presidentes de las repúblicas, y propone inteligentemente precipitar al mar el sobrante de libros, lo cual se cumple al mismo tiempo en todas las costas del mundo. Así los escribas siberianos ven sus impresos precipitados al mar glacial, y los escribas indonesios, etcétera. Esto permite a los escribas aumentar su producción, porque en la tierra vuelve a haber espacio para almacenar sus libros. No piensan que el mar tiene fondo y que en el fondo del mar empiezan a amontonarse los impresos, primero en forma de pasta aglutinante, después en forma de pasta consolidante, y por fin como un piso resistente, aunque viscoso, que sube diariamente algunos metros y que terminará por llegar a la superficie. Entonces muchas aguas invaden muchas tierras, se produce una nueva distribución de continentes y océanos, y presidentes de diversas repúblicas son sustituidos por lagos y penínsulas, presidentes de otras repúblicas ven abrirse inmensos territorios a sus ambiciones, etcétera. El agua marina, puesta con tanta violencia a expandirse, se evapora más que antes, o busca reposo mezclándose con los impresos para formar la pasta aglutinante, al punto que un día los capitanes de los barcos de las grandes rutas advierten que los barcos avanzan lentamente, de treinta nudos bajan a veinte, a quince, y los motores jadean y las hélices se deforman. Por fin todos los barcos se detienen en distintos puntos de los mares, atrapados por la pasta, y los escribas del mundo entero escriben millares de impresos explicando el fenómeno y llenos de una gran alegría. Los presidentes y los capitanes deciden convertir los barcos en islas y casinos, el público va a pie sobre los mares de cartón a las islas y casinos, donde orquestas típicas y características amenizan el ambiente climatizado y se baila hasta avanzadas horas de la madrugada. Nuevos impresos se amontonan a orillas del mar, pero es imposible meterlos en la pasta, y así crecen murallas de impresos y nacen montañas a orillas de los antiguos mares. Los escribas comprenden que las fábricas de papel y tinta van a quebrar, y escriben con letra cada vez más menuda, aprovechando hasta los rincones más imperceptibles de cada papel. Cuando se termina la tinta escriben con lápiz, etcétera; al terminarse el papel escriben en tablas y baldosas, etcétera. Empieza a difundirse la costumbre de intercalar un texto en otro para aprovechar las entrelineas, o se borra con hojas de afeitar las letras impresas para usar de nuevo el papel. Los escribas trabajan lentamente, pero su número es tan inmenso que los impresos separan ya por completo las tierras de los lechos de los antiguos mares. En la tierra vive precariamente la raza de los escribas, condenada a extinguirse, y en el mar están las islas y los casinos, o sea los transatlánticos, donde se han refugiado los presidentes de las repúblicas y donde se celebran grandes fiestas y se cambian mensajes de isla a isla, de presidente a presidente y de capitán a capitán.

12.5.14


“Tenho uma experiência tão louca do divino que rirão de mim se eu a relatar”, Georges Bataille, A Experiência Interior


Será preciso admitir que os poetas sorvem, sem o saber, em um fundo comum a
todos os homens, singular pântano cheio de vida onde fermentam e se
recompõem sem parar os destroços e os restos das cosmogonias antigas, sem que

os progressos da ciência lhes provoquem uma mudança apreciável? André Breton, in La Clé des Champs



"... pois existe amoer e amor. Existe a pomba e existe a serpente." O livro da Lei cap.I, V.57

DEDICATÓRIA; com amor, uma bocetada para o leitor.
Hilda Hist