16.1.10

Jazida

Olhos Corrompidos Pelas Circunstâncias
(AQUI JAZ LEÃO)
- entre outras taras e consumos -
ainda que desconfiado,
sobe a montanha
com o que ainda lhe resta de confiança.

No cume se instala;
constrói uma muralha (quadrada)
onde está suspensa
a Rosa Azul Espiralada
- que brota
(e deixa-se morrer)
tola entre as pedras da tosquidão.

Na constante tentativa de
EXALTAÇÃO
Olhos alonga os braços
e curva-se DIVINO
mas é impossível alcançá-la
- ainda -
tão menos em altura
quanto em profundidade.

Raras rosas azuis
sutis estranhas rosas
desconfortantes
- por serem únicas? por manterem-se ternas?

Assombro e Fascínio, arregalados
tolos entre os Olhos
de todas entre as
escolhidas (escarlate)
que apodrecem
contínuas.

Não contente em ter
cercado muralhas
passa a trazer mais pedras
- desta vez para o telhado.

Coberto e soterrado
afunda-se sobre o próprio domínio
TERRA
prostrado eterno azul - no tempo das rosas
do acima-azulado que reflete a beleza
de olhos estáticos arregalados
tão somente na poesia-última
que brota
do último fôlego empoeirado
e imortal
que ainda canta apaixonado:
que - UM DIA - fosse possível
compreendê-la.



Ver também: Faraway, so close

8.1.10

Wings of desire - pensamentos não são exclusivos




Merci, Julieta
- por toda eternidade
partilhada.

6.1.10

estranhas ocupações

"Como os escribas continuarão, os poucos leitores que no mundo havia vão mudar de profissão e adotar também a de escriba. Cada vez mais os países serão compostos por escribas e por fábricas de papel e tinta, os escribas de dia e as máquinas de noite para imprimir o trabalho dos escribas." Julio Cortázar, Fim do mundo do Fim, in História de Cronópios e Famas

Ver também: Srta T. na Cronópios - entre relinchos, cócegas de privilégio, entre outros desbundes, com pré-tratado Das Cavalidades.

3.1.10

"O que me assombra na loucura é a distância - os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo, possuem o marco de eternidade que ostenta a loucura. Diante da morte não sabia para onde voltar-me: inelutável, decisiva. Hoje, junto dos locucos, sinto certo descaso pela morte: cava, subterrânea, desintegração, fim. Que mais? Morrer é imundo e humilhante. O morto é náuseo, e se observado, acusa alto a falta do que o distinguia. A morte anarquiza con toda dignidade do homem. Morrer é ser exposto aos cães covardemente." Maura Lopes Cançado, in Hospício é Deus

Ver também: Crematório Metropolitano VIDA PERPÉTUA, em Valparaíso (GO) - fotos

2.1.10

Das cavalidades

Antístenes terá dito a Platão: “Eu vejo um cavalo, mas não vejo a cavalidade”, ao que Platão respondeu: “Porque não tens olhos para vê-la…”

- Hoje estou com tanta raiva que preciso bater em uma mulher, maltratar um bichinho sabe? - perguntava-se Cara, que ao meu lado falava sozinho. Minha ação repentina foi responder "Sabe? Sabe? Sei, claro. Aceita uma vassoura no rabo?". Face a face, ou cara-a-cara, no sistema antigo, tal linguagem fora proibida. Agora somos autorizados a falar de tudo, ou quase. Instintos repulsivos. Nós, os cavalos. Daqui, ME SEPARO. Ultrapassagem pela DIREITA - rápido, antes de ser alcançada pela Cavalaria de Guarda.

Rua do Ouvidor, 27 de Dezembro, n. 2009. Delegacia das Éguas Açoitadas. São aproximadamente quatro horas de espera, no mínimo, para nós, éguas, sermos atendidas. Uma jovem potra chora no balcão de espera, ao lado das senhas que organizam o atendimento. Enquanto todas nós aguardávamos, ouvimos a respiração ofegante de Pônei, que estava quase dizendo adeus. Fora socada no estômago horas antes, entre outras vísceras que lhe foram pancadas. E nada de - Próximo! - se ouvia. A situação, aos poucos, ia se tornando cada vez mais insustentável. O que estão acontecendo com os cavalos? Alguém me responda logo. Já são mais de cinco horas. Uma cena horripilante aqui, nesse estábulo, o retrato decadente do ambiente onde se busca a resolução (ou seria cura?) para o ferimento exposto. Disseram que talvez Bruto (ou os Brutos, temos vários) estivesse alcoolizado, mas não foi pego no dopping e, dropado-ando, infringiu a Lei Cavala.

Jockey Club é ambiente contrário de estábulo - sala dos perdedores, transgressores e alados. O último suspiro do unicórnio isolado. In nomine de TEU PROGRESSO, oremos:

O Homem Cavalo
avança
tro-tando (Tróia)
é que não há acima ou abaixo, insistiu S. C.
E assim, tudo que está a frente
fora - OU SERÁ - pisoteado.
Disse também "dá-se o que se tem"
depois de questionado
- E os que nada tem?
Respondeu:
Acanca-te as patas, ora,
ou os dentes -
AQUI RANGIDO.

Ver também: Mulheres que correm com os Lobos e Mulheres que transam com Cavalos.

Reunidos no espetáculo, prestávamos atenção ao que dizia o locutor. "Façam suas apostas!". Na moeda dos cavalos, lembrar. Temos Gente Sem Estilo e também Gente Sem Todo ou Qualquer Estilo. Quadrifeta. Do outro lado Sem Tesão, ao lado de Sem Persona. Quem vai? But think twice, it`s my only advice. Sanguinário - este sempre, sempre que passa para o outro lado leva um susto. Visualmente estão todos selados (eternas marcas, tatuagem de plexo).

Deste lado há os que apostam forte, caro - aqui pertinho, temos também, Equivocado. Como se isso de estar nos pavilhões (daqui, isolados) fosse motivo para deixar o tesão rolar (sabe como é cavalo com tesão, né?). É cavalo apostando em cavalo, as apostas todas insaciadas, zona, pura zona, cavalo montando em cavalo, esbórnia, gente, esbórnia, ou quaisquer das cousas ditas civilizadas (ou cavalizada, estas, que deveriam ser sempre lembradas), são de imediato esquecidas... O espetáculo é a animalidade, tão somente - e a vós pergunto, agora estois Perplexus?

- Não quero mais correr, nem brigar, não quero foder (isso eu faço em outro lugar), não quero saber de onde vocês falam ou apostam - só quero FALAR ALGUMA MERDA DIFERENTE, disse o cavalo, abatido do trote. Tendo também infringido a Lei, fora sacrificado.

Também relincharam:
- Então, você acredita em Cristo?
- Curte fumar um?
- Então, só acho que vai ser difícil você falar com alguém se for com essas perguntas.
- Mas que revolta!
- Gostei, também penso assim...
- Não percebeu que ninguém quer falar contigo?

Falsa Dignidade ocupa o primeiro lugar do ranking. As apostas seguem até o último minuto. "O Executor já está no box", avisaram pelo radio-fone. Secos em extremo, os viciados repetem em uníssono que é preciso (imprescindível) passar pelo Jockey Club para ser um vencedor. EQUINUS EMBARAÇUS.

- Ah, meo povo, oh meo povo, uh meo povo - relinchou Sátiro. Sua fala fora acompanhada de - uma surra de chicote pra sofrer.

- Olá. Boa noite. Toparia ser paga para realizar fantasias? Não busco uma égua de programa, acompanhante ou potra-prostituta. Busco uma fêmea com a fantasia, fetiche ou curiosidade de ser paga. Tenho a fantasia de pagar uma que não seja égua de programa. O que acha da idéia? Topa? - apostou Garanhão.

"Alguém me segura? Vou começar a correr". Gritava, já indo, crina ao vento primeiro, aos reunidos na sala de partida. Relincharam-se, como se um entre os Equus, tivesse o poder de gritar a partida, ou até mesmo de falar algo que não fosse - RELINCHO. "Vou dar a largada!", insisti. E ainda assim, como se tivessem encarcerados, ou seria como se tivessem freios na boca e rédeas (assim mesmo como um cavalo montado) - e não estavam. Duas vezes seguidas me ignoraram. Um pouco rouco, me apresentei e fui ter com os ventos da montanha - que era o lado contrário do círculo do Tuff. Com velocidade, escapo. Minha crina ondulava ao vento, e era como se eu tivesse asas. Eu, era um outro - CAVALO DE FOGO. E por entre os campos, aventurado desapareço.

S.C - Superando Cavalos (eu-protagonista).


NOTA

E F. Nietzsche, após ver Cocheiro açoitando Cavalo, ficou dois dias seguidos desmaiado. Precária saúde agravada, disseram os doutos. Teria sido-lhe necessário (automedicação) haxixe, cloral e ópio. Foi pego no exame de dopping enquanto ouvia Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em seu proto-i-phone. Mais morto que vivo, ou depois de morto, suas palavras ecoam, no tempo dos cavalos, "Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".


* Este texto foi publicado na Revista Cronópios - ver