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17.10.15

Dez passos de claridade dez passos de escuridão


Vivo sem viver em mim
E tanta vida espero
Que morro porque não morro
[Tereza D'ávila]



Vocês que não sabem o que há depois da morte. Eles disseram que o cara teve uma parada, mas para o Senhor a “A morte é como um sono”, disse. De tal desespero, imaginamos que até evita um estado de horroridão. Pra que temer a morte se Deus está por perto? Por que o medo do que virá? Tenha calma, menina, é sempre pior pra quem fica. A mãe do velho teve 16 filhos, menina. A mãe do velho ficou enquanto se foram três ou quatro meninos. Quando falo velho era o mais velho. A velha dele com 16 filhos, ainda mais velha que ele. Quanta maria do quarto calculemos, talvez 12 homens, entre eles 3 natimortos. Imagina essa pobre chorona velha ninando - crianças. Nós choramos muito. Nós choramos e vem de dentro e as vezes choro é tal desespero que se faz grito. Procurávamos sua carteira, as senhas do cartão que você não deixou. A velha abre o criado ao lado da cama um relógio de ouro sem bateria: 11:11. Seu avô tá melhor? Ele ajuda, segura antigas mãos com maestria, segura a corda acima da cama, segura até que ele chame. Ele quem? O Senhor. Ele também nos concedeu o esquecimento e a graça de nunca calar-nos, amém. Ou calarmo-nos, amém. Nessas horas você não tem mais nada pra dizer, só calar os olhos e fechar duma vez os dentes. Será que ele terá salvação? Os dentes estão quebrados. Parece que eu tô sonhando. Errr, demora um pouco pra cair a ficha. Colocaram a sonda – tipo começando a entubar. Se for pra UTI já era. Acorda, vô. Come mais, senão cê num vai embora. Se morre, morre oras, entubação final no caixão rodeado de crisântemos. Eles preparam o seu sorriso e os dentes quebrados ninguém verá. Às vezes você consegue não chorar. Parece um sonho. Você está com um semblante mais calmo. Três ou quatro comprimidos depois você acorda rodeado de gentes como um boi de alimentar piranha. Defuntos, peixes adoram. Imagina morrer boi de piranha, grotesco. Cadáveres são grotescos.  Contemplar a morte é grotesco. Mas é isso que fazem. Contemplam o morto e rezam envolto de crisântemos. Mas na vida nem aparecia, nem rezava, nem chorava. Incoerências. Olha aquela lá. Namorar um homem casado? Piranha. Mas ele quem procurou. Safado ele, ela, piranha mesmo, puta. Mulher que namora homem casado é puta. Eles tiveram que reunir 300 pilas para coroa de crisântemos e a burocracia. Uma linda coroa. Eu estava gostando muito de ter uma ideia e escrever. Também fiquei olhando pra puta fictícia - num era ela, confundiram. Atiraram pra cima. As piranhas sairam voando. O cara que morreu ao lado era trafica. Sinais de chumbo e sangue não devem se apagar nunquinha - um grito baleado de horror imortal. Ele longe disse, vai, escreve, sobre a estância holandesa, sobre o amor livre, sobre ela, escreve sobre nós. Falou também sobre as praias da Tailândia com desalmado entusiasmo, sem unidade de significação. Escreve que você encontra motivos. É complicado nesses dias de tanto sol e superbactérias a espreita dessa vida que não se demora. Há, felizmente, as drogas, jovens e velhos, novas drogas e a possibilidade de ficar mais um pouquinho. Remedinho, toma aí. Remediado está. Os doze irmãos virão? Os médicos chegaram e disseram tome mais água que o xixi tá muito escuro, você bebendo pouca água, desse jeito vai morrer. Quem é você, Senhor? Eu morri mesmo, algumas vezes. Se a morte é como um sono e eu que durmo tanto? Cadeira de hospital, durmo. Sofá, encosto e durmo. Cama, durmo três dias seguidos sem beber água - só fumando. Comecei a existir em apenas alguns minutos após três dias na extensão dos sonhos. A realidade, um estado de depressão. A pele entristecida do velho ao sol preparando o chão missão de Urano. Deve ser mais confortável ter passado ao sol plantando sem impactos as sementes, estes filhos que agora somos. Por parte de pai eram imigrantes ou imigrados, Portugal com África. Por parte de mãe, agricultores e coletores. Sabem sobre temporais e deslizamentos. Vocês que nos julgam culpados pelos ritos, com que mãos lotadas de balanças erguerão um abraço ao filho deixado; e no lugar do abandono uma neurose impressa no pulmão. DNA, you never knows. Você é do tipo café ou cenoura? Presta atenção, quando a chapa esquenta cê amolece ou transmuta? Que poderia eu fazer com vocês e suas mil e duas analogias interessantíssimas? Como alma desperta, deveria não continuar fazendo as mesmas merdas. Você pode fazer um bebê, sabe, ter uma família. Ele deve reencarnar logo. Deixou muitos nós. Doze filhos? Todos desconectados. Os humanos e suas mentiras. Raro vejo um que não é covarde. Convenhamos, esse mundo não está ficando melhor, nunca saímos da barbárie. O Senhor distante está ficando cada vez mais complicado mas todos estão conectados - degradados filhos. Saber como você está por dentro é melhor não falar. Ou então você ali de final na UTI devorando e sendo devorado pelas paixões segundo as superbactérias. “Que nosso fogo interno esteja ao máximo, para esquentar a regra ao rubro e modifica-la! Que nossa realidade interior seja tão forte que corrija a realidade exterior!", disse Braque. Sempre presente morte, musa da filosofia.  Senhor, tomara que esteja alinhado também nessa hora e não me esqueçam meu chapéu de peão e minha blusa quadriculada. Alinhar os de cima e os de baixo que é meio complicado. Assim que tu, orvalho de luz, minha neta, não vá repetir a merda e daqui há mil anos ter a pele devorada no ar de nuvens tóxicas acima do lago de fogo e enxofre. As vezes a morte é como um susto, te faz acordar pra realidade, lembrar de tudo. Sem que ninguém o conduza, já nos faz lembrar que eles não te conhecem nunca de maneira absoluta - e você segue mentindo para poder continuar.  Até que ponto famílias têm intimidade para revelarem entre si os segredos? Até que ponto querem saber? É melhor que desconheçam. Atrás de qual árvore está o buraco do coelhinho. Vamos! Podemos considerar que tudo é real e certo ou que o buraco é mais embaixo – ou ao lado da cova da última filha - ou abaixo. Então ele se faz existir apenas no momento que está conectado. Nós nos conectamos em oração de silêncio. Abro um parênteses, algo em seus olhos desde a primeira vez me fez ver como estou agora olhando você me ver. Algo em seus olhos era blue. Hilda a gata atravessou o carro do outro lado da rua estava. Tratamos também de abrir–lhe um buraco na sombra abaixo do algodoeiro.

tamara e.

17.7.12

Lançamento Arraia PajéurBR #4: duas antologias




Convite | lançamento: Revista Arraia PajéurBR nº4


Para minha surpresa e contentamento, soube ontem pelo Pipol que o conto “Das cavalidades, publicado no início de 2010 no Cronópios, foi selecionado pelos idealizadores caótica revista Arraia PajéuBR, de Fortaleza. No que consta nos anais cibernéticos, a revista foi lançada em 2000
. Ad infinitum, pois, a revistação está de volta, com o apoio do Minc.

"O formato é singular. Em vez das tradicionais linhas retangulares, a forma predominante é triangular, referência imediata às velas das jangadas cearenses. Ou não. Quando aberta, a revista remete ao popular brinquedo infantil que lhe nomeia, a arraia. Ou nem tanto. Há quem acredite que se pareça mesmo com a regionalíssima bandeirinha junina. Mas é assim mesmo. Impossível ter uma leitura fechada quando se trata de uma publicação idealizada pelo escritor Carlos Emílio Correia Lima com o objetivo de ``mudar o eixo'', ``preencher um vácuo no mercado editorial brasileiro'', `provocar indagações'. Boa idéia embalada em caosjornal O Povo (2000).


"... além  das antologias, há uma entrevista e uma crônica inédita de Rubem Braga, o maior cronista da história de nossa literatrua, uma outra entrevista também inédita com  a escritora Hilda Hilst, uma antologia com 12 poetas contemporâneos do estado  do Espírito Santo, uma reavalização da verdadeira natureza canônica do cordel, por Aderaldo Luciano, ficções inéditas de Jackson Sampaio, Rodrigo Garcia Lopes, Edvar Costa, Barros Pinho, Bráulio Tavares. Poemas inéditos de Antonio José Soares Brandão, Horácio Costa, Leo Mackellene, Alberto Pucheu,entre outros poetas. Um texto ocultista do célebre compositor e criador de instrumentos Walter Smetak, uma entrevista com o  pintor peruano Juan Zapotec e um caderno de pinturas desse artista plástico que ilustrou as duas capas da revista, entre muitas outras atrações criativas." A volta da Arraia Pajéurbe, Papo Cult (2012).





ver também: arraiapajéurBR.com (formato zen digital)