8.2.02


Duas ou mais imagens abertas

O motivo desapareceu por três ou quatro dias. Não me lembro a quantos dias estou afinada em tua melodia. Pare com esta música! Pare de me dizer o que quero ouvir! Pare antes que eu tenha mais um colapso disrítmico. Então, os dias passam, e você consente que não sabe escrever (ou viver) de outro jeito... Bonito isso:

" Num mundo conduzido por forças cegas e surdas, incapazes de ouvir os gritos de alerta... as súplicas" Albert Camus.

Leio o horóscopo e - O feriado esta chegando, que tal dar uma saída? - o que poderia ser uma voz convidativa, me irrita.

Inquieta, cataléptica e histérica.
Um pulso.
Música e uma mistura de beleza e palidez que está falando mais do que a indiferença poderia ter dito.
Excesso.
Continuo sem lógica enquanto me concentro em qualquer multidão de coisas indizíveis porque sei quando estou perdida; em montes tudo parece igual sem ser.


Mas de acordo com o horóscopo, tudo acaba sempre bem, claro, antes passaremos por processos de obstrução das veias da demonstração da descrença última... Vamos todos gritar no silêncio da ausência até obstruir a última força sadia! E depois do martírio, depois de toda a merda, algo efêmero acontecerá e você acaba por esquecer o que passou, por bem ou mal, acaba esquecendo aquele maldito horóscopo que disse que tudo acabaria - beleza. Normal, a gente busca beleza no que faz mas é justamente no caminho que se escapa a feiura do que não tem fim. Solidão. Não sou daqui...

No meu mundo (que é apenas um na terra) as frustrações não vão para o além, ficam no mesmo plano que ocupo, plano duplo portador de sentidos vazios,
bizarramente habitados.
Saco de ar.


Estou cansada de sutis navalhas afiadas que - sofismas - palavras - nada - cabeça - centro - shopping - cinema - óculos - surpresa - presente - feriado - cabelo - olhos - preto - bem - não atingem meu estado calado.

Noite e silêncio.
Dia e barulho.
Música e ouvido.
Dois em um.
Sentido obsessivamente duplo.


Odeio números que não passam de um monte de significâncias sem sentido qualitativo. O que estou dizendo? Pedi, supliquei algo irracional e agora números se calam frente às inúmeras incertezas metafísicas. Música de um mundo de palavras entonadas "I'm going to prove the impossible really exists..."- Björk.

Expurguei o que não tenho a perder. Tenho essa chance de construir a imagem vaga porém precisa do que sinto - escrevo. Isso é uma droga necessariamente compulsiva. É engraçado... Depois de um tempo percebo acontecer o que aconteceu sem que eu percebesse. E enquanto as palavras iam sendo lançadas à sorte, me senti um horóscopo cheio de possibilidades. Me lancei ao acaso repetidas vezes.

Finda noite repetida
Me pergunto:
Até quando?


Então é isso: Vamos sentar, acender um Marlboro, devagar tragar o intragável e aguardar que o inesperado aconteça.

Tamara Costa



:::posted by Tamara Costa

Nenhum comentário: