Não tenho dito, mas digo agora que mais uma de minhas vidas estão se abrindo a medida que descubro mais um livro, pessoa e vários outros detalhes do dia. Despercebidos, ai estão os maiores e melhores desafios - captar o automatismo. Sabe, prefiro que você saiba o que se passa comigo, mas é quase impossível me conectar a tua onda se meu mar vai dar em outra... outra coisa. Outro desafio - a coisa não dita.
Capte-me.
Não sei pra onde vou, nem porque estou indo e afinal de contas quem paga agora minhas contas sou eu e mais ninguém. Alter ego. Mais alguém, minto e divido. E várias outras não compartilho. São esses mundos da imaginação, mundos de vida, verdadeiramente vivos onde pulsa o sangue incolor do que se sente, dependendo exclusivamente da vontade, ou da capacidade de abstração. Que tamanha! Que tanta! Que excesso... Pousar em outras rampas que vão ao lago do encontro, só o que queria. Acordar num colchão dágua. Outra cama, outra história...
Também tenho tido medo do silêncio. Parece que ando fugindo das profundidades como quem brinca de pique-pega e o pegador tem um gosto estranho de monstro vou-te-pegar... eu corro, corro tanto disso, mas parece não adiantar porque na volta estou de volta mesmo. E o caçador, na ponta do meu nariz, vira as costas e vai em busca de outra presa, outra cabeça que não a minha. Faz orelha de burro. Vira e volta. Volta e vai. Desaparecendo antes que possamos agarrá-lo. Tenho corrido bastante e quando abro os olhos estou na cama, dentro do olho do centro - dentro. Um café por fazer me espera, e vou a seu encontro enquanto. Enquanto o quê?
Capture-me.
Uma voz inquietante anda me inquietando. Uma voz de indiferença que se prostra diante do meu ser navalha guei. Corta, grita e chora. Arremessa e arrepende. Pula e poda. Um gato. Sufoca e nasce. Então, essa voz parece deliciar-se com suas tiras e deixas e foras... Parece não querer nada além de um escárnio banal e idiota. Faz um saco de papel virar pássaro... É perfeita em denunciar as imperfeições dos outros. Faz um pássaro virar saco pão. Sei que isso me atinge, e de certa maneira me aflige porque meu corpo responde corretamente a sua pergunta que vem de fora do assunto. Estamos fora, num circulo do espiral mais profundo, ou superficial - ainda não captei as dimensões. Então tudo se encaixa, na proporção do desencaixe, porque no fim (maneira de dizer) não é nada ou é somente um objeto da minha identificação. Um sapato sentado na mesa.
Para fora ou para dentro de si. E Schopenhauer e a perspectiva pessimista pairando... "a felicidade é o momento fugaz da ausência da infelicidade" Emanações de uma só vontade não manifesta. A vontade dos anjos, mecânicos, santos, prostituas, virgens e velhas... Velhas histórias que se repetem num ciclo de podridão, em dança disritmica. Viagens sem rumo ou direção. Ausência, companhia que ninguém abre mão. A cabeça voltada para o dorso do outro, girando enquanto anda sem rumo, indo... Ninguém captura. Então, não pode ser regido nem aprisionado porque é livre como pássaro em vôo, é ensurdecedor em seu silêncio que não tem razão e talvez por isso não consiga se fazer ouvir. Porque não tem número e perambula livremente por aí...
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Despida antes de sair
Entalada entre o café. Um cigarro, acendo. Penso que te ligaria, e melhor, iria até onde você poderia... Imagino você se despindo enquanto aplico um dedo - na campanhia. Abre, abrindo, abre, abre - a porta. Claro, bem e você. Não, não me diga nada bem ou vem... agora vem por cima e me tira dessa onda torta. Me tira de mim. Começando pela calça. A sua já não está mais. A sua vez, me... me ... me. Perco. Enquanto você vindo todo seu meu indo vamos perdendo já mais forte vem fraco tanto vamos... vai e vamos vai e venha indo meu teu vou... Repetindo. Pegar um cigarro. Vejo você na cama de costas; uma sombra quase imperceptível. Desenho rapidamente a cena no meu cérebro escasso. Já cheguei sem isso, sem razão cheguei até aqui e você não disse nada além. Não disse o que eu... eu o quê? Quem está aqui é ela, a domada, a sua, grande e pequena, subtraída-dividida-multiplicada, como queiras. Escolha. Entre as várias. Uma será. Tua, meu bem, toda. Foda bem. Quem? Sou toda fodível, toda vem sua.
Agora imagine que se você deixasse de lado as contas e o gesticular - falso - os cumprimentos, os lamentos, as diárias tudo seria tão... Nosso. Tão único.
No entanto, contraponto. Escolhes a limpeza como prática diária. Limpeza, razão, dentição, adequação. Sorrisos e beleza. Aparência, não essência.
Sugiro um banho de língua quando chegar, dou. O bilhete cheirando à gerânios está bem embaixo do seu nariz, em cima do seu quarto ou no prédio ao lado.
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For Emily
Um dia, eu diria um dia ver tudo de frente e dizer meu silêncio com o corpo. me ver, acho, foi um sonho... Um hipopótamo destruidor, devastando o mundo inteiro; com suas competições violentas. Estou realmente cansada de subir as escadas ad infinitum e lá em cima o que temos? Outra portinha fechada, maldita, mas vou ter que esperar por ali sentada algum tempo, pra recarregar. A subida anterior foi tão dilacerante que preciso recuperar meus pedaços, esperar que eles subam e se juntem - no cérebro. Se organizem pra próxima... Qual é a próxima?
É UM JATO DE ASSOCIAÇÃO IMEDIATA NO CORPO.
Fora as palavras que devorei como que tentando incorporá-las refeicionalmente. Um prato cheio de frases, que devoro palavra por palavra. Me alimento do teu silencio, sim eu disse me alimento, preciso de... des-conter.
Há muita energia presa, muito corpo e pouca expressão. Não, realmente não estava ali, em vários lugares, o corpo estendido e a verdadeira metade que é a inteira, estava em outras partes que divido com você - de algum lugar do cosmo.
Toque-me
Toque-me
Toque meu corpo
Agora meu corpo toca seu toque
Agora
Toca.
O que tenho pra beber? Café e o gosto dos lugares. A cada dia em um.
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