29.10.02

Quero os detalhes.
Coisas simples, é só o que quero. Carpe diem. Dia. De dia, noites não.
Cansei de sair de casa pra ver a rua, cansei de piche e das pessoas. Acho que é isso, as pessoas pessoam demais e não estou aguentando muita gente pessoando ao mesmo tempo. As palavrinhas começam a se sublinhar porque estou no word escrevendo palavrinhas, veja, que não estão dicionarizadas. Ah, esta palavra saiu da boca de uma professora altamente intelectual, um livro sobre tatuagens bem interessante até - as fotos. Eh, dicionarizar é uma palavra bonita.
- Como as palavras se dicionarizam?
- (risada oriunda) quer dizer então que você inventou uma palavra?
- Não, só quero saber mesmo.

Fiquei assim, sem nenhuma palavra pra dizer ou descordar. Não consigo expressar o que sinto e não pensei nada, só queria saber como inventar alguma coisa válida. Só isso.

Como publicar um livro dentro de um dicionário?

Escrever é uma descrição. Inútil? Alguém vai querer saber o que significa? Sim, muitas vão pesquisar a fundo o significado (único?) do que foi dito. Outras vão absorver alguns fragmentos, e essa é a parte que me interessa. Marcar um trecho de um diálogo idiota, não não foi idiota e é lindo e me disse coisas que você nem sabe, me deu o que nem... Vamos lá velho Buk, começa sem letra maiúscula mesmo word, estou de saco cheio dessas ondulações vermelhas abaixo das palavras, mas tudo bem, Buk agora:

" vi homens levarem bala por demorarem mais que cinco minutos no cagador, mas antes de você matar qualquer coisa certifique-se se tem alguma coisa melhor para por no lugar: alguma coisa melhor do que o oportunismo político e críticas rancorosas no parque público..."

é isso.

[24 de outubro, nove e quarenta da noite]

Um dois e três, capotei na cama e não acordei pra porra da aula de direção. Direção nada, aula teórica, estou meio desconexa porque acabei de ler coisas sobre esquizofrenia e transtornos associados, e hoje um moço cujo nome não me lembro agora (sintoma) veio me falar sobre o mesmo assunto e por isso, hoje é o dia. Hoje, que dia é hoje? MAIS UM SINTOMA. E se não fosse pelo extrato que tirei no banco, perto do dia vinte e alguma coisa, hoje é. Tinha alguns reais a mais. Isso foi bom. Melhorou o humor um pouco. E quem foi que disse que dinheiro não traz felicidade? Bom, depende agora da felicidade que estamos desejando. Pouco, quero pouco pra ser feliz, mas não esmolas. Quero do bom, claro, nada de kitsch e falsificados, podres e mascarados - ele é mesmo podre e o que foi mesmo que disse? Ah, isso é chato. Chato é tu. Besta é tu. Gosto de você porque você parece um velho caduco e se assume, ou melhor, diz as chatisses porque tudo te incomoda mesmo, outro ponto, e você diz o que pensa sem medo do que vai ouvir em troca. Eu não - outro sintoma. Não digo e parece que estão lendo meus pensamentos porque parece também que estou nua tirando a roupa e abrindo as pernas toda vez que falo alguma coisa. Perseguição, porra. Merda. Não quero morrer idiota. Não quero ficar besta. Vou escrever, ah sim. Isso vai ser o que vai me manter, anote isso aí deus e São Paulo leminski, buk, cortázar, ademir e todos vocês que nunca me deixam, nunca me deixem, e também as letras. Nunca nunca nunca! Porque é tudo que tenho, porque ainda é o que sobra e já escrevi isso também. Porra, eu ia falar, antes de começar sobre o tal cara hoje. Muito do nada veio ao meu lado, ah, eu estava com um livro - Imagens do Inconsciente - estudo sobre a pintura dos esquizofrênicos, agora veio outra vez, mas é assim mesmo, as coisas vão aparecendo e eu procuro. E acho. E procuro outra coisa. O cara veio me falar que assistiu num programa um médico, sei lá ou psicólogo, falando sobre transtornos psicóticos, mais ou menos entre a taquicardia e o tesão, assim, eu sei, ele dizendo que as pessoas mudam de humor e sentimentalizam as situações, e não sei mais se foi eu quem disse essa parte porque me encontrei em tudo, tudinho que ele disse e então fluiu em mim o que ele dizia. Pois bem, tudo está nadando, inclusive os peixinhos da barra, ah esse lugar é lindo que só a porra e quando voltei pra casa pensei trinta e oito vezes se deveria voltar mesmo. se não estava me precipitando. Oh não será que vou fazer merda? Oh céus, oh vida... Não, tentei logo me convencer que tudo está fluindo e o que tiver que acontecer eu vou, será... vai logo de um jeito ou de outro! Porque um pedacinho vai ficar aqui, eu sei, vai ficar inteirinho aqui e não sei se vou querer buscar. Voltar, será? Não saber, isso é o fim. O fim do grupo. Não quero chegar em casa ou me ver obrigada ª... responsabilidades mocinha, crescer dói, tá eu sei mas não precisa entrar com tanta força assim. Muita responsa pra minha cabeça. Casa nova. Curso novo. Lugar novo. Pessoas diferentes. Amigos diferentes. Discussões diferentes. Arte ao invés de ciência. Isso é muito pra quem queria que tudo que a psicologia deveria fazer era aceitar mais artisticamente os pensamentos e a vida, e tudo que a arte deveria era admitir menos... como assim? É que o campo está muito aberto e aí então é tudo...e tudo é nada. Infinitas possibilidades. E eu deveria calar a boca quando digo isso. Mas não. É assim mesmo, com tanta coisa no menu, ninguém sabe o que comer. Eh assim, outra coisa...


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