20.5.12

Passo E Passo Sem Encontrar Volta


Primeiro a parede de néon, áries com sagitários, depois aquela história toda de dizer que ama muito qualquer coisa, coisa nenhuma

Você sabia de toda a carnificina que eram os meus olhos, veio com aquelas paredes ridículas cheias de anjinhos, o caralho a quatro, me investigando de costas e eu, eu, uma vírgula no seu corredor sem vasos

Depois minha pausa, corda que se estica, mesmo de longe desfiz teu nó de fita, osso sacro curvado entre duas três pintas, vago situado pele sem traço, constelação vermelho teus sinais de sol opaco, o tempo, o tempo todo

Fôlego nenhum alcança o velocípede da paixão, toda nuinha, como eu amo ouvir os guinchos janela afora, fiz figa e os dedos tiveram vergonha, vamos brincar de pula-pula?

Adiante um dia, duração de cabeças, quadris e superior das coxas, abaixo as horas e no tempo de minha casa tua, levanta e abre a porta, brinca, calcula, acorda, acorda

É imprescindível se erguer por ora, a manhã nos reclama, vai tomar no meio da sua rodela, as janelas elas sim nos odeiam, o cobertor mapa de sonhos não entraremos nunca mais no país do sono


(Poema-parceria Paulo Sposati Ortiz & tamara e costa)

16.5.12


na escada do vento
o sonho
folha que cura pequeno exu que
dança extático
[...]

trecho de “incorporando o jaguar”, Cliclones, Roberto Piva. Incluído no terceiro volume de suas Obras reunidas, Estranhos sinais de Saturno, Ed. Globo, 2008. 


Aoish, homem de negócios, me trazia também as histórias de sua mulher no intervalo da contabilidade. A cada desenrolar de novelo, entre os saldos “Mas por que são tão complicadas?”. Eu dava um sorrisinho repetido, amigável, como quem diz “Te vira negão. Problema teu”. Meu lance com Aoish eram os câmbios, tão somente. Nos encontrávamos uma vez por mês. Nos intervalos, de mente vazia, eu pensava sobre a questão. Um dia eu disse: “EU Aoish? Na minha opinião?”. Desinteressado em algo do tipo que não fosse negociação, levava os dólares do câmbio enquanto eu saía com o segredo. O cara tinha um insistente devaneio apaixonado de ir para a cama com outra mulher que não a dele. Saía sozinho, noite paga com os centavos que arredondava, metia uma duas três, mas não conseguia chegar lá. Quando estava quase, mas quase mesmo, lá naquele ponto que não dá mais recuo, tinha a tal visão. Via-se externo ao próprio corpo empunhando uma vingativa. Chocado, dizia “Não consigo entender mesmo mulher” e seguia luta para viver. Não morto, porém triste, queixo no peito, atravessava de volta as avenidas despedindo-se de perspectivas si mesmo, derrota cônscia e limitação em olhos que não podiam defrontar-se no espelho. É isso aí, quem sabe um dia, Aoish, quem sabe no dia que ela sumir. Na última troca, o cara chegou com uma faixa lhe assentando a cabeça. “Me fodi. Agora dá pra todo mundo ver...”, sentou e desatou a falar, como de praxe, que não suportava que duvidassem de sua honestidade. Arrendondava sim quantias a seu favor, argh, rum rum, mas “roubava quase nada”. Na noite anterior, o ladrão entrou pela janela e bagunçou-lhe a casa toda. Tinha levado muito pouco, além da papelada, quase nada, se comparado à seu temor de que o bandido tivesse sacado o caixa dois com a vantagem dos centavos. Enquanto ia sendo subtraído, abriu o portão e deu de cara com a mulher do tamanho de uma ervilha roendo uma gigante espiga vingativa de fronte para a reprodução. Mirou-se, abrindo buraco no coronário. Em seguida abriu a gaveta, pegou as moedas e começou a tapá-lo.

* Conto-exercício para a Oficina do Marcelino
Categoria intitulados porém ariscos. 

ver também: Coisa com Coisa #4

13.5.12

PALÁCIO SUBLIME DESENCARNADO


para minha cara amada Julieta

Em tua carne mística eu vejo o êxtase do maravilhoso possível do aqui
a manifestação divina do agora como gozo numa noite asteroide
a desobediência ao código ascendendo em círculo do subterrâneo interior
o reencontro com a superação do verme humano podre negligenciado.

Em nome da tua força, cara minha
rememoro transcendência de teu bucho menininho soprando repetido gaita para a luz vermelha
- o incrível nos olhos dele é como o que há nos teus.

Em nome do teu amor, amoer deles,
realinho escritura única capaz de tecer manta mapa do grande universo:
ponto voador de disco tatuado de plexo
pássaro escuro curvado em nosso cérebro macaco.

Em estado de graça, irmanita, aqui proclamado
o fim da vergonha e do medo e da morte
- porque te vejo sempre ao meu lado e sem você não poderia ter sido.

                    Em nome de tua alma eterna ergo palácio sublime desencarnado:


leão verde e vermelho
dragão envenenado     
ovo cósmico serpenteado 
deva de mil olhos e braços
gordos budas descansados
senhoras e senhoritas carudas de todas as turas
andróginos de pintos e xotas jamais tocados
crânio de elohim e sol de pescoços cortados
joanas e juventudes e purezas e todos loucos vorazes
bolas de fogo sopradas por cátaros visionários.



 #1 (Afraid - David Bowie) - What made my life so wonderful, What made me feel so bad?

12.5.12

"[...]Como diz Edoardo Sanguinetti: 'O Surreslismo é o fantasma que, com toda a justiça, persegue as vanguardas e lhes nega um sono tranquilo'. Com a costela do Kapitalismo foi criada a Panacéia Socialista. O Forró Nuclear é a medida da Riqueza das Nações. As soluções em poesia são individuais e não coletivas. Eu estou com Gilberto Vasconcelos: depois que joguei a obra completa de Marx pela janela, comecei a compreender o Brasil. Fora isto o seguinte: Poesia é uma forma de conhecimento que vê através de objetos opacos, como uma viagem de LSD e estados mediúnicos de levitação. [...]" Roberto Piva, todo poeta é marginal, desde que foi expulso da república de platão, via Recanto Marginal.