DE "V INTERNACIONAL"
Eu à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo "A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidadade
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.
1922
MAIAKÓVSKI; poemas | traduzido por Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos.
16.3.12
12.3.12
Alan Moore, Hilda Hilst, Julio Cortázar, as ideias e o fogo
HILDA HILST: POEMAS AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO I
homenagem a Alexander Solzhenitsyn
Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.
A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engulido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engulidos
Deixarão suas heranças, suas memórias
A IDÉIA, meus senhores
E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante
Fazedor da palavra
Do que na mão que esmaga.
A IDÉIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco
Aos vossos olhos possa parecer.
(pág. 250, HILDA HILST - Obra poética reunida).
"Que conciliação é essa sem a qual a vida não passa de uma obscura piada? [...] se há conciliação, tem de ser outra coisa que não um estado de santidade, estado excludente desde o início. Tem de ser algo imanente, sem sacrifício do chumbo pelo ouro, do celofane pelo cristal, do menos pelo mais; a insensatez, ao contrário, exige que o chumbo valha o mesmo que o ouro, que o mais esteja no menos. Uma alquimia, uma geometria não-euclidiana, uma indeterminação up to date para as operações do espírito e dos seus frutos. Não se trata de subir, de decantar, de resgatar, de escolher, de livre-arbitrar, de ir do alfa ao ômega. Já se está. Qualquer um já está. O disparo está na pistola; mas é preciso apertar o gatilho, e o dedo está fazendo sinais para fazer parar o ônibus ou qualquer coisa assim".
(pág. 507, JULIO CORTÁZAR, O Jogo da Amarelinha, Círculo do Livro: 1968).
10.3.12
despertos: assim-idos
"Por que é que eu me inspirava com o chiado do pequeno euzinho que vagava por todos os lados? Eu atuava no campo da inspiração, isolamento, corte, expiração, exibição, decepção, desacontecimento, fim, finalização, elo cortado, nada, elo, seilá, acabou. 'A poeira dos meus pensamentos guardadas em um globo', pensei, 'nesta solidão atemporal', pensei, e sorri de verdade porque estava vendo a luz branca em tudo em todos os lugares afinal".
trecho de 'Os vagabundos iluminados' (The dharma bums), Jack Kerouac.
ver também: Kerouac's 90th birthday
1.3.12
Corpo sombrio: o sentido da escritura
Entreguei minha alma ao gavião espírito
depois de três meses ou séculos
já não me lembro mais:
me bicava o cérebro e
os desenhos e diálogos eram incessantes -
eram mais.
Cantei novamente um corpo sombrio. O sentido da escritura é a repetição:
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
trecho do poema No caminho com Maiakóvski,de Eduardo Alves da Costa.
Escrito na década de 60 e marcado por um claro sentimento de revolta, o poema "No caminho com Maiakóvski", do poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, se transformou em um hino contra a violência e intolerância da ditadura militar no Brasil.
Por tanto repetido, os créditos ainda são confundidos. O trecho [em negrito] não raro é atribuído ao poeta russo Vladmir Maiakóvski. Para outros, o verdadeiro autor era do alemão Bertold Brecht. "O trecho costumava, durante os anos de chumbo, acompanhar cartazes de rua, ilustrações de revistas, faixas de passeatas, quase sempre associado ao poeta russo ou ao dramaturgo alemão", segundo elucidação do professor Adílson Citelli (ECA/USP).
da face significada
"O conceito de escritura excede e compreende de linguagem para uma definição que inclui a de linguagem e da escritura. Já há algum tempo diz-se linguagem por ação, movimento, pensamento, reflexão, consciência, inconsciente, experiência, afetividade etc. Há, agora, a tendência a designar por escritura tudo isso e mais alguma coisa: não apenas os gestos da inscrição literal, pictográfica ou ideográfica, mas também a totalidade do que a possibilita; e a seguir, além da face significante, até mesmo a face significada", Jacques Derrida (adaptado), Gramatologia, 1973.
do poema agora
Cântico autônomo e atemporal.
O que foi escrito às custas do sangue das últimas encarnações não deve ser esquecido - jamais.
Escrever então não seria senão;e repetir re-incorporar sem perder a significação.
O diálogo poético é surpreendente, imortal, excêntrica e valiosa ferramenta para o retorno do maravilhoso.
Que poeta visite espontaneamente visite seus mortos e através de sua leitura e mãos exercite intertextualidade sobre todo o corpus poético antes visitado.
ver também:
Sermão em tempos nazistas de Martin Niemöller, pastor luterano alemão (1933)
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar." Trecho traduzido retirado do artigo [Sobre o poema "No Caminho com Maiakóvski", Jornal de Poesia]
Animação Rodrigo Jolee:
depois de três meses ou séculos
já não me lembro mais:
me bicava o cérebro e
os desenhos e diálogos eram incessantes -
eram mais.
Cantei novamente um corpo sombrio. O sentido da escritura é a repetição:
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
trecho do poema No caminho com Maiakóvski,de Eduardo Alves da Costa.
Escrito na década de 60 e marcado por um claro sentimento de revolta, o poema "No caminho com Maiakóvski", do poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, se transformou em um hino contra a violência e intolerância da ditadura militar no Brasil.
Por tanto repetido, os créditos ainda são confundidos. O trecho [em negrito] não raro é atribuído ao poeta russo Vladmir Maiakóvski. Para outros, o verdadeiro autor era do alemão Bertold Brecht. "O trecho costumava, durante os anos de chumbo, acompanhar cartazes de rua, ilustrações de revistas, faixas de passeatas, quase sempre associado ao poeta russo ou ao dramaturgo alemão", segundo elucidação do professor Adílson Citelli (ECA/USP).
da face significada
"O conceito de escritura excede e compreende de linguagem para uma definição que inclui a de linguagem e da escritura. Já há algum tempo diz-se linguagem por ação, movimento, pensamento, reflexão, consciência, inconsciente, experiência, afetividade etc. Há, agora, a tendência a designar por escritura tudo isso e mais alguma coisa: não apenas os gestos da inscrição literal, pictográfica ou ideográfica, mas também a totalidade do que a possibilita; e a seguir, além da face significante, até mesmo a face significada", Jacques Derrida (adaptado), Gramatologia, 1973.
do poema agora
Cântico autônomo e atemporal.
O que foi escrito às custas do sangue das últimas encarnações não deve ser esquecido - jamais.
Escrever então não seria senão;e repetir re-incorporar sem perder a significação.
O diálogo poético é surpreendente, imortal, excêntrica e valiosa ferramenta para o retorno do maravilhoso.
Que poeta visite espontaneamente visite seus mortos e através de sua leitura e mãos exercite intertextualidade sobre todo o corpus poético antes visitado.
ver também:
Sermão em tempos nazistas de Martin Niemöller, pastor luterano alemão (1933)
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar." Trecho traduzido retirado do artigo [Sobre o poema "No Caminho com Maiakóvski", Jornal de Poesia]
Animação Rodrigo Jolee:
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