23.12.11

pequena galáxia (haroldeana)

entre três tequilas e duas vodkas você me disse sim-sim queria com as mãozinhas de quem se abre ou como se abre um livro de poemas do Buk ou o que você estava escrevendo você não sabe mas aquele poema mudou tudo e você continuava anotando tudo sem parar era um livro assim como me disse que havia algo em vocês ou entre vocês três e que existia algo que precisava ser dito e já escrevia rapidamente para se lembrar sempre do que deveriamos dizer novamente e novamente e que talvez um dia chegasse a ser algo que se aproximasse ou exprimisse ou fosse eu que chegasse na porta da tua casa com um saco de latas você viesse com o fumo e depois falássemos durante horas várias coisas pela boca indo e vindo e mais uma vez o que não falávamos era o dito e você disse que não poderia gastar seu tempo pensando em algo que não fosse prático as contas por exemplo e isso era possível somente para você enquanto conversávamos não pensar no que se ia dizer ou escrever sobre aquilo que era belo por ter estado oculto e não me incomodava não mesmo teu sim para o não-egonada fala mais e fala mais eu confiei o grande livro que ainda não fora traduzido e estava completamente a fim de que você o abrisse e trabalhássemos juntos e dentro e nos envolvêssemos completamente até a palavra única e assim nos tornássemos um feixe e fôssemos o mais dentro possível e lá no encontro dos ossos-luz e enfim dançassemos morte e vida morte e vida girando em círculos até o topo da montanha teu céu ou um calibri apontado para o grande parque que eram nossas cabeças para que desafiássemos a paralisa com espíritos altamente voluntariosos & livres mesmo porque era preciso não ter medo nunca de ser rigorosamente único neste que é teu caminho que atravessa e continua no ritmo dessa transa possível entre uma cabeça-de-anjo e um corpo-mais-que-humanizado e eternamente nu completamente perto e assim te quero caminhando até entrar no primeiro táxi que passar e assim continuar rumo por essas galáxias que são enfim uma grande festa diária que acende e apaga.

lá vai você e eu estou te vendo daqui, enquanto você passa sem me ver.




ver também: além-oriente, abolição da fronteira poesia-prosa & Haroldo de Campos, em absoluto.

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