3.7.15

[morrendo assim no cerne do silêncio] com Maurice Blanchot

Quando morre um escritor "o que se abre não é exatamente o silêncio, mas o 'recuo' do silêncio, por um rasgão na espessura silenciosa e, através desse rasgão, pela aproximação de um novo ruído que anunciará a era sem palavra. Nada de grave, nada de ruidoso; apenas um murmúrio, que nada acrescentará ao grande tumulto das cidades de que julgamos sofrer. A sua única característica: é incessante. Uma vez ouvido, não pode deixar de o ser, e como nunca o ouvimos verdadeiramente, como escapa à escuta, escapa também à toda distração, tanto mais presente quanto mais nos desviamos: ressoar antecipado do que foi dito e do que nunca será". Maurice Blanchot (1984), citado no artigo "A morte do último escritor"


Falar já não é dizer nem denominar. Falar é celebrar, e celebrar é glorificar, fazer da fala uma pura consumação irradiante que ainda diz quando nada mais há a dizer, que não dá nome ao que é sem nome, mas o acolhe, o invoca e o celebra, única linguagem em que a noite e o silêncio se manifestam sem que se quebrem nem se revelem:
Oh, diz-me, poeta, o que tu fazes.  – Eu celebro.
Mas o mortal e o monstruoso,
Como o suportas e o acolhes? – Eu celebro.
Mas o sem nome, o anônimo,
Como, poeta, o invocas, porém? – Eu celebro.
Onde adquires o direito de ser verdadeiro
Em todas as roupagens, sob todas as máscaras? – Eu celebro.
E como o silêncio te conhece, e o furor,
Assim como a estrela e a tempestade? – Porque celebro.

(também Blanchot, 1987, citado no artigo "A curvatura da escrita")

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