24.7.13

ah se fosse tua essa rua

No mundo moderno e contemporâneo, esse gesto de juntar ruínas e acordar mortos não é apenas negado pelo discurso dos vencedores e desvalorizado pela maioria, é também incômodo, inclusive para o próprio escritor: o poeta moderno, mesmo a contragosto, passou a ser uma "soma teimosa do que não existe", como diz um verso de Jorge de Sena, um homem que impõe aos outros homens a sua "visão profunda" e que vive "vomitando verdades no ventre desses caciques empombados, dessas medusas emplumadas, vomitando o [seu] ouro no ventre rechonchudo e quente desses dinossauros", como reconhece desesperadamente o Ruiska de Hilda Hilst, porque essa visão, a visão que os dinossauros recusam, é o excesso do mundo em que vivemos, aquilo que sobre, os restos e destroços que ninguém quer ver, aquilo que se varre para debaixo do tapete.

Trecho do prefácio de Hilda Hilst e o seu pendulear, de Nilze Maria de Azeredo Reguera, disponível aqui para download gratuito.


Um comentário:

Salve Jorge disse...

Seria crua...