26.11.09

Dos fogos

Tati Carabina e Lili Cabalero estão à espreita na porta da escola. Montim para defesa do espaço-educação. Escola Paroquial? Escola Classe, vestimenta - uniforme, entre outros decretos. Outras criaturas se unem ao grupo de táticas de guerrilha. Eles devem atacar na madrugada, pelo sótão abaixo do pátio. Estaremos lá - não esquecer de avisar Meriene e Josafá (a filha da puta e o ladrão de lapiseiras). Salto no vão e fico fronte ao elemento. The Gun Game. Atiradores de elite (Cabalero e Carabina) fazem seu trabalho. Bazuca explode crânio de elemento não-identificado. De volta ao pó. Festa nos corredores. Subimos pelas escadas com bonés-brinde. Josafá tenta me afagar na subida (me assopra o pescoço), me oferece uma preciosa lapiseira. - Calma, ainda estou explodida - visão anterior dos estilhaços - mamãe, era terrível.  Tudo que nos afastamos dos outros foi muito pouco. Os caminhos estão abertos. Festa no pátio. Preciso ir ao banheiro. Banheiro feminino engarrafado de homens mijando para fora e para dentro de todos os vasos possíveis. Banheiro transex também inundado. Banheiro masculino na mesma situação. Passo por entre uma corrente de mijo...

Ver também: universofantastico.wordpress.com

25.11.09

Dos excessos

Ainda sob o efeito de diálogos intertextuais com milord Bataille - entre outras obscenidades soberanas - insisto em dizer que adquiri o livro "O Erotismo", há cerca de seis anos atrás, na ala dos promocionais de uma livraria de um shopping center. Um livro raro. Um espasmo. Tarja vermelha. Seria isso mais um absurdo? "Não posso conceber sentido que não seja - meu - suplício, quanto a isso sei bem" Georges Bataille em A experiência Interior. Talvez fato deste blogue ter sido, desde o início, uma súplica - ou uma voz de esquina - não seja mera coincidência. Teria também o chamado de O vômito do abutre, no subtítulo. Algo que de horror em mim suscitava a curiosidade e o desvelamento - há quantos anos atrás?

"Mas o ser aberto - à morte, ao suplício, à alegria - sem reserva, o ser aberto e moribundo, dolorido e feliz, já aparece em sua luz velada: esta luz é divina. E o grito - que com a boca desfigurada, este ser quer (inutilmente?), que seja ouvido - é uma imensa aleluia. perdida no silêncio sem fim". Prefácio de Madame Edwarda, estudo VII d'O Erotismo, de Georges Bataille.


Ver também: O Poder Fálico da Mulher e a feminilidade do homem, de Valdeci Gonçalves da Silva Assinar feed do autor

9.11.09

La Literature et Le Mal, by Georges Bataille

Georges Bataille fala sobre o livro "A Literatura e o Mal" em entrevista realizada pela Ina.fr (França) - em 1958. O entrevistador, deveras estúpido e frugal, chama-se Pierre Dumayet. Segundo o tradutor (do francês para o inglês), esta é a única entrevista registrada com o escritor. Eu, pelo menos, nunca visto nada do gênero antes - somente livros (impressos, diga-se de passagem - no e-books). Em todo caso, arquivo raro. Aqui transcrevo:

Primeiro quero te perguntar sobre o nome deste livro. De qual Mal você fala?
Bataille - Existem dois diferentes tipos de Mal. O primeiro está relacionado a necessidade de humana de ir bem e ter os resultados desejados. O segundo consiste na necessidade de violar alguns tabus fundamentais, como, por exemplo, o tabu contra o assassinato ou contra algumas possibilidades sexuais.

Como agir mal e em função do mal...
Bataille - Sim.

O nome deste livro indica que mal e literatura são inseparáveis?
Bataille - Em absoluto. Talvez não fique muito claro no início, mas para mim é como se literatura estiver afastada do mal, repentinamente se torna chata, cansativa. Isso pode parecer supreendente. Todavia penso que, em breve, se tornará claro que a literatura tem um acordo com a angústia. E essa angústia é baseada em algo que está seguindo o caminho errado. Alguma coisa que inevitável de se transformar em algo do Mal. E quando você faz o leitor perceber isso - ter esta perspectiva -, oferece possibilidade de uma história com um fim do Mal para os personagens, eles serão a causa (terão consciência disso). Agora estou também simplificando sobre o que tratam os romances. Quando o leitor está nesta situação desagradável, o resultado é a tensão que faz a literatura não ser maçante.

Então os escritores, ou qualquer bom escritor sente culpa de alguma coisa enquanto escreve?
Bataille - A maior parte dos escritores não estão sabem disso. Mas penso que existe uma profunda sensação de culpa. Escrever é o oposto de trabalhar. Isso pode não soar lógico, e mais, todos os livros extraordinários representam o esforço que eles (escritores) fazem contra o "real" trabalho.

Você poderia me dizer o nome de um ou dois escritores que se sentiam culpados de escrever? Quem pensou que eram criminosos porque escreviam?
Bataille - Existem dois escritores sobre os quais escrevi em meu livro que são exemplares a esse respeito. Baudelaire e Kafka. Os dois sabiam que estavam ao lado do mal. Por consequência, eles se sentiam culpados. Com Baudelaire é claro pelo fato de ele ter escolhido o título "Flores do Mal" para seus escritos mais íntimos. E com Kafka é ainda mais visível. Ele pensava que enquanto escrevia ia contra os desejos de sua família. Portanto, ele mesmo se colocava na posição de culpado. É fato que a família dele sabia que era algo mal gastar sua vida escrevendo, que a coisa certa a se fazer é se dedicar a atividades comerciais. E caso fizesse algo do tipo escrever,  estaria fazendo algo do mal.

Se escrever é culpado por algo, como Kafka ou Baudelaire, é algo que não é muito responsável.
Bataille - Esta era a opinião da família deles.

Esse tipo de culpa é para eles algo infantil e você pensa que Baudelaire e Kafka se sentiam infantis enquanto escreviam?
Bataille - Penso que isso está muito claro.  Eles sempre diziam, então é como se sentissem na mesma situação de uma criança diante de seus pais. Uma criança que foi desobediente e que têm consciência da culpa. Porque eles pensam serem amados por suas famílias e que estão sempre dizendo a ele o que não fazer. E que isso (escrever) era uma coisa mal de fazer - coisa mais senso comum do mundo.

Mas se a literatura é culpada de infantilidade quando escrita, isso quer dizer que literatura é infantilidade?
Bataille - Penso que existe algo essencialmente infantil na literatura. Pode parecer incompatível para aqueles que admiram a literatura (aqui me incluo). Mas acredito que a verdade fundamental é que você não conseguirá entender o que a literatura significa caso não aproxime do ponto de vista das crianças - o que não quer dizer em menor perspectivqa.

Você escreveu um livro sobre erotismo. Você pensa que o erotismo na literatura é infantil?
Bataille - Não estou certo se a literatura se difere do erotismo nesse respeito. Mas penso que é muito importante perceber o caráter infantil do erotismo em geral. Para sentir o erotismo é preciso estar fascinado como uma criança que quer participar de um jogo proibido. E um homem fascinado pelo erotismo é como uma criança sem seus pais. Ele têm medo do que poderia lhes acontecer, então nunca para até que tenha uma razão para ter medo. Não é suficiente para ele (escritor) somente apenas fazer o que fazem e se contentam os adultos normais, ele tem que se tornar assustador. Ele tem que achar a si próprio na mesma situação de quando era criança e sempre tinha medo de ser repreendido e até mesmo punidos de maneira insuportável.

Talvez eu tenha feito isso soar e você também tem me dado a impressão que você foi condenado por essa infantilidade (?) Bataille pisca o olho... Mas é hora de voltar para o título do seu livro "A literautura e o Mal". Você não me parece ter sido condenado nem pela literatura nem pelo Mal. Você poderia falar mais sobre das idéias do livro?
Bataille - Com toda certeza é um aviso. O livro diz que é perigoso, mas, uma vez que você entende o perigo, tem boas razões para confrontá-lo. Penso que é importante para nós - confrontar o perigo é literatura - um real perigo. Mas você não é um homem se não confrontar aquele perigo. Na literatura podemos ver a perspectiva humana em sua íntegra. Porque a literatura não nos permite viver sem enxergar a natureza humana sob seu aspecto mais violento. É só pensar sobre as tragédias, Sheakspeare. Existem muitos exemplos do gênero. E finalmente, a literatura nos faz perceber o o pior e aprender como confrontar e dar um fim a isso. Rapidamente, um homem que brinca encontra no jogo a força para para dar o fim ao que o jogo contém de horror.

Traduzido do francês para o inglês por hvolsvellir, re-traduzido e transcrito em português por Srta T., ou Madame Felix Culpa.

Ver também: 

4.11.09

poema (2007) - releituras

Feriado finado
recuerdos (a todo instante)
que ao invés de transubstanciar,
preferimos, como sempre,
entoar
durante três dias seguidos
a ode-açougue à nossos entes
numa tentativa
de relembrar a forma decadente,
e reafirmá-la a qualquer custo.

Instruções:
Amar o defunto
e demais corpos decrépitos.
Compactuar com as fragilidades;
perfumá-las de flores,
se apegar e depender de qualquer coisa-elo que assim nos ligue.

Compreende quem pode/ Compreende quem morre. (Merci Bataille)


* Este incrível poema foi escrito pela Srta T. em 2007, inspirada pelo Dia de Finados (e por papai - já fagocitado).