28.8.09
inclassificáveis
Se você está procurando por um ilustrador foda (foda mesmo), aqui vos apresento: Júlia Libânio, a desenhista/quadrinista mais genial que conheço. Diretamente de Brasília, entre outros sufocos, disposta e corada, diz que propostas de trabalhos serão bem vindas. Hable con ella!
15.8.09
Oitava elegia, de Rilke
Dedicada à Rudolf Kassner.
"Com todos seus olhos, a criatura vê o aberto. Somente nossos olhos parecem voltados, postos como armadilhas em tôrno da criatura, de sua livre passagem. O que está fora, nós não o lemos se não no olhar do animal, pois, a jovem criança está já voltada por nós e forçada a ver as formas diante de si, ao invés de desvendar esta abertura, tão profunda como a face do animal, livre de toda morte. Quanto a nós, é somente morte o que vemos. O animal sempre livre têm seu fim atrás e diante dele Deus. E quando ele se move, é para pertencer à eternidade, como os movimentos das fontes. Nós não temos um dia sequer, diante de nós, o puro espaço ao qual as flores se abrem infinitamente. É sempre o mundo e jamais, saído do nada, o lugar que é de parte alguma, a pureza que nada vigia mas que se respira, que se conhece infinito, que nada cobiça. Criança, tal aí se perde no silêncio e é perturbada. Ou tal outro morto o é. Pois perto da morte não a veem mais, o olhar se fixa e se torna talvez aquele do animal. Os amantes, não sendo o outro que mascara a vista, estariam muito próximos. Eles se admiram...
Atrás do outro, qualquer coisa se abre inadvertidamente... Mas ninguém jamais ultrapassa o outro e de novo tudo re-torna-se o mundo. Sempre voltados para a criação, não é se não nela que nós avistamos o reflexo da liberdade que nos encobre de sombra, ou quando um animal mudo nos atravessa com seu olhar levantado. É bem isso o destino: se manter em face, nada de outro, sempre em face.
Se tivesse uma consciência como a nossa, no aminal seguro de si que vem ao nosso encontro, seu movimento nos arrancaria do nosso caminho. Mas seu ser é infinitamente puro, sem limites. É seu olhar em seu estado, puro como a vista das coisas. Lá onde nós vemos o futuro, ele vê o todo e se vê ele mesmo no todo, e salvo, para sempre.
E portanto, há no animal se quente e vigilante, o peso e a preocupação de uma grande melancolia. Pois ele leva, ele também, o que assim frequentemente nos subjuga - a lembrança, este sentimento que tudo nos conduz o que tende a já estar muito próximo, muito fiel e de contato muito terno. Aqui tudo é distância e lá tudo era sopro. Depois do primeiro lar, o segundo lhe parece duvidoso e aberto aos ventos. Ó felicidade da pequena criatura que sempre permanece no seio que a levou ao seu termo. Ó felicidade do mosquito que, mesmo na hora de seu casamento, salta no interior do seio - , pois, estar no seio, é tudo. Olha esta segurança amputada do pássaro que, por sua origem, quase sabe de uma e de outra coisa, como se nele estivesse uma alma etrusca, vinda de uma morte que encerra um espaço, coberto por um que é. E quão turvo no voo é um ser nascido de um seio. Como assustado de si mesmo, ele atravessa o ar, assim como o avanço de uma rachadura na taça. É assim como o traço do morcego rasgando a porcelana da noite.
E nós: espectadores sempre e em todo lugar, voltados para tudo isso e não o ultrapassando jamais. Nós impomos a ordem. Tudo desmorona. Nós re-ordenamos, e nos decompomos nós mesmos.
Quem nos fez virar de modo que, o que quer que façamos, assumimos sempre a atitude daquele que se vai? Na última colina que lhe mostra uma vez ainda todo o vale, ele se vira, se detêm e demora - é assim que vivemos e as despedidas não cessam jamais.” Elegies de Duin, Rainer Maria Rilke, Paris, 1949.
* Tradução livre para o português de Danilo Frabetti (dhangover@hotmail.com).
"Com todos seus olhos, a criatura vê o aberto. Somente nossos olhos parecem voltados, postos como armadilhas em tôrno da criatura, de sua livre passagem. O que está fora, nós não o lemos se não no olhar do animal, pois, a jovem criança está já voltada por nós e forçada a ver as formas diante de si, ao invés de desvendar esta abertura, tão profunda como a face do animal, livre de toda morte. Quanto a nós, é somente morte o que vemos. O animal sempre livre têm seu fim atrás e diante dele Deus. E quando ele se move, é para pertencer à eternidade, como os movimentos das fontes. Nós não temos um dia sequer, diante de nós, o puro espaço ao qual as flores se abrem infinitamente. É sempre o mundo e jamais, saído do nada, o lugar que é de parte alguma, a pureza que nada vigia mas que se respira, que se conhece infinito, que nada cobiça. Criança, tal aí se perde no silêncio e é perturbada. Ou tal outro morto o é. Pois perto da morte não a veem mais, o olhar se fixa e se torna talvez aquele do animal. Os amantes, não sendo o outro que mascara a vista, estariam muito próximos. Eles se admiram...
Atrás do outro, qualquer coisa se abre inadvertidamente... Mas ninguém jamais ultrapassa o outro e de novo tudo re-torna-se o mundo. Sempre voltados para a criação, não é se não nela que nós avistamos o reflexo da liberdade que nos encobre de sombra, ou quando um animal mudo nos atravessa com seu olhar levantado. É bem isso o destino: se manter em face, nada de outro, sempre em face.
Se tivesse uma consciência como a nossa, no aminal seguro de si que vem ao nosso encontro, seu movimento nos arrancaria do nosso caminho. Mas seu ser é infinitamente puro, sem limites. É seu olhar em seu estado, puro como a vista das coisas. Lá onde nós vemos o futuro, ele vê o todo e se vê ele mesmo no todo, e salvo, para sempre.
E portanto, há no animal se quente e vigilante, o peso e a preocupação de uma grande melancolia. Pois ele leva, ele também, o que assim frequentemente nos subjuga - a lembrança, este sentimento que tudo nos conduz o que tende a já estar muito próximo, muito fiel e de contato muito terno. Aqui tudo é distância e lá tudo era sopro. Depois do primeiro lar, o segundo lhe parece duvidoso e aberto aos ventos. Ó felicidade da pequena criatura que sempre permanece no seio que a levou ao seu termo. Ó felicidade do mosquito que, mesmo na hora de seu casamento, salta no interior do seio - , pois, estar no seio, é tudo. Olha esta segurança amputada do pássaro que, por sua origem, quase sabe de uma e de outra coisa, como se nele estivesse uma alma etrusca, vinda de uma morte que encerra um espaço, coberto por um que é. E quão turvo no voo é um ser nascido de um seio. Como assustado de si mesmo, ele atravessa o ar, assim como o avanço de uma rachadura na taça. É assim como o traço do morcego rasgando a porcelana da noite.
E nós: espectadores sempre e em todo lugar, voltados para tudo isso e não o ultrapassando jamais. Nós impomos a ordem. Tudo desmorona. Nós re-ordenamos, e nos decompomos nós mesmos.
Quem nos fez virar de modo que, o que quer que façamos, assumimos sempre a atitude daquele que se vai? Na última colina que lhe mostra uma vez ainda todo o vale, ele se vira, se detêm e demora - é assim que vivemos e as despedidas não cessam jamais.” Elegies de Duin, Rainer Maria Rilke, Paris, 1949.
* Tradução livre para o português de Danilo Frabetti (dhangover@hotmail.com).
10.8.09
pense sobre isso
pense sobre isso, como os parceiros
Kierkegaard e Sartre
que encontraram a existência
absurda,
como quem lutou contra
a ansiedade e a angústia
a insignificância,
a náusea,
e a morte que os rondava
- como a espada de Damocles -
ao passo que existem os homens de
agora
vazios de preocupações
onde o primeiro pensamento do
dia é
o que teremos para ao almoço?
garantido isso, pode ser que seja mais
confortável
para viver, dizer, como uma mosca morta, uma
formiga, ou um homem de poder,
e como um ser humano,
apenas pensar,
como um ser humano
que vive
condicionalmente,
como fazem milhões
sempre por aí.
claro que o inferno são os outros
e suas podridões, seus lixos,
sempre serão afastados
como isso,
ou aquilo.
a garagem automática
avança em sua direção
com olhos
de um morto qualquer.
* Retirado do livro Betting on the muse (poems & stories), de Charles Bukowski - Black Sparrow Press, 1997. Original em inglês traduzido (livremente) por Tamara Costa.
pense sobre isso, como os parceiros
Kierkegaard e Sartre
que encontraram a existência
absurda,
como quem lutou contra
a ansiedade e a angústia
a insignificância,
a náusea,
e a morte que os rondava
- como a espada de Damocles -
ao passo que existem os homens de
agora
vazios de preocupações
onde o primeiro pensamento do
dia é
o que teremos para ao almoço?
garantido isso, pode ser que seja mais
confortável
para viver, dizer, como uma mosca morta, uma
formiga, ou um homem de poder,
e como um ser humano,
apenas pensar,
como um ser humano
que vive
condicionalmente,
como fazem milhões
sempre por aí.
claro que o inferno são os outros
e suas podridões, seus lixos,
sempre serão afastados
como isso,
ou aquilo.
a garagem automática
avança em sua direção
com olhos
de um morto qualquer.
* Retirado do livro Betting on the muse (poems & stories), de Charles Bukowski - Black Sparrow Press, 1997. Original em inglês traduzido (livremente) por Tamara Costa.
licencinha Henry Miller
"Amanhã vou descobrir o Sunset Boulevard. Dança eurrítmica, dança de salão, sapateado, fotografia artística, fotografia comum, fotografia horrenda, tratamento eletrofebre (257), tratamento de ducha interna, tratamento de raios ultravioleta, lições de elocução, leituras psíquicas, institutos de religião, demonstrações astrológicas, leitura de mãos, pedicuro, massagem de cotovelos, levantamento facial, remoção de verruga, redução de gordura, levanta-se arco de pé, ajustam-se espartilhos, vibram-se bustos, removem-se calos, seca-se cabelo, ajustam-se óculos, curam-se ressacas, acabe com as dores de cabeça, dissipe a flatulência, melhore seus negócios, alugam-se limusines, seu futuro esclarecido, entenda a guerra, mais octano e menos butano, drive-in, fique com indigestão, limpe seu rim, lavagem de carro barata, pílulas para despertar e pílulas para dormir, ervas chinesas fazem bem e sem uma Coca-Cola a vida fica impensável." Henry Miller, in Pesadelo Refrigerado
8.8.09
subcultura.org
Bukowski, Hemingway, Poe, Hilda Hilst, Roberto Piva, Fante, Burroughs, entre outros porno-idols. Vai, tenta no banheiro. Subcultura.org, Artes e cultura para o estômago. Mais pro texto-trecho e corte-curioso. Instigue-se.
Linkado por passaroco.
Linkado por passaroco.
7.8.09
dos nãos
não, não temos mais vagas. não temos mais espaço. você não cabe aqui. você, que deve ter crescido para cima ou para baixo de tudo isso. talvez esteja ficando pequeno demais pra você. talvez seja preciso ordenar, a partir de agora, tarefas como sair para dentro e descer para cima. ah, mas não desanima. mesmo sabendo que não precisamos de você. não desanime. temos máquinas cafeteiras, pó-compacto e perucas - 100% cabelos. olha que fácil, tio. computadores e cálculos, precisos, claro. temos livros. não, não. temos mais arquivos compactados que livros. sim os livros esgotados de impressões digitais, em páginas de sua memória, ainda assim, não perdem sua transcendência. temos pouco espaço. estantes lotadas ao talo de frigideiras de teflon. mas já não comemos o ovo, clarice, nem aquela galinha. temos o compasso, o esquadro, o prumo, a régua e o nível. não precisamos de suas mãos. nem do sangue que corre junto as tuas velhas veias. muito menos de corações inábeis. vá pro lado de lá com seus pulsos cortados. coisas do tipo não temos, temos de sobra. e você ainda nos agradece, sucessivas vezes, com a mesma cara de sim. não, obrigado não.
Avenida Karl Marx, Berlin
Avenida Karl Marx, Berlin
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