30.5.05

Ceda-me este passo?

por _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

- uh - vibra o primário - mãos acima abertas - olhos fechados -

a dança é a passagem
o denso é a pupila
olho é o cão-coragem.

corredor também é passagem e estreito-pouco é saber-se o corpo pouco e até flexível - de virada passa. nessa hora desponta um relógio-fusco-luxo de ponteiros afiados. não há tempo nem espaço. só corredor: passagem e fios de nylon para hipopótamos, esses lançados à estilingue no tempo das árvores e da espera necessária. espera, esperança, espetáculo, estafo.

- tome aqui um lencinho, uma água, respira... relaxa.

O suor fede no nariz de quem é tapado. de quem nunca vazou. de quem não saiu pra comprar cigarros e esqueceu de voltar ou simplesmente não quis mais. porque o cigarros fazem mal principalmente àqueles quem não têm pulmão pra mutarelli. pros que respiram curto pra economizar ar ou evitar constrangimentos, entradas, aberturas completas ou pássaros, insisto. quando o ar está preso, passarinhos sulistas alçam vôo centro-oestizantes em meio ao frio que faz aqui nesse ar de cerrado - máscaras de ar não caem sobre nossas cabeças, o avião arquitetado explode e ninguém vê. mas é faz tanto frio de manhã e quando acordo não dá vontade de ir fazer uma paz odiosa, porém cheirosa e bem aparentada. uma paz sem ar. uma paz de gravata borboleta empalhada. ou pomos ou pombos - devidamente sufocados.

esse tempo de invasões
onde corredores e papas avançam como fios telefônicos
avanços tecnológicos
aumento de geladeiras
de torturas invisíveis.


- então hermanita, tá mais calma?

contei até dez, onze, duzentos, setecentos, milhões, silvio santos, roleta russa, polonesa, tortura chinesa, pão italiano, circo dos horrores, palhaços, palmas, tapas. vi tudo junto na panela de barro da negrinha da tua cozinha - eu e meus serviços prestados, minha revolta ao centro da mesa, minhas mãos amarradas, olhos arregalados, pupilas cintilantes - e uma caneta:

querem minha assinatura.

20.5.05

Deslizantes

por Tamara Costa

(aos que descem)

... o novelo, o caracol, a minhoca e o piolho de cobra.

entrei naquele carro recém-chegado. entrei no bar. entrei na onda. e desci pela escada-curta onde uma só pessoa cabia (descendo ou subindo). ao mesmo tempo passamos. eu descida, tu subida. ninguém soube esperar e a escada era pequena demais pra nós dois. fez um barulho de quebra, uma falha falhando no ponto em que nós nos encontrávamos. territórios possíveis de nós. a falha, a escada, os contras, contrários. descida, o rumo de mim cedendo. tu subindo, forte, músculos e resistência.

Não cedias nem à atmosférica.
(entre outras pressões ? filhos ? casa ? manteiga para o pão ? compromisso ? estadias ? status ? propriedade)
Tudo terreno.
Tu, domínio.

desci outras vezes ? lugares intocáveis, colunas de escuro, cheiros estranhos, até quase ao encontro das baratas. dessas pouco sabes porque me perguntaria o por quê. desci, se é que tem que ter porquê. a mania do macho, porquê, disciplina, porquê. rápido e ferozmente, tudo que é bicho será domesticado, vamos enfiá-los porquês longos e gordos para serem melhor comidos, digeridos e aceitados.

Um filé de porquê ao molho branco.
Fome de brancura e suavidade.
Sua carne desejando porquês puros, em nada inventados como os meus;
Mestiços porquês.

também, agora um porquê-um-pouco-magro, reclamavas acorrentado, das enrolas que fazes até questão de que eu faça parte, mais uma possível, sei. também que continuo a descer, descendo pra cima, descendo pros lados, descendo, decaindo, ao passo que se o elevador não passa da garagem, de lá passei quando ainda tinha pés delicados, mãos cuidadosas, porquês limpinhos e fino-trato. que fique bem claro, o estado é de negruras, quase-óleo, mofo, úmido. acontece que depois que a gente desce, as possibilidades de retorno são aterradas. então, continua descendo, e cada vez que, por algum motivo, a ação parar, temos a sensação de que algo acima poderá cair, pássaros ou pedras, por exemplo. voltar a subir ? tarefa pesada. voltar à superfície-primeira, digo. é possível que eu-desça antes que a terra me caia por cima. antes que me compreenda. antes que dê com a cara da terra ? ou merda. eu,

Pássaro Negroóleoso voando gozoso pelas superfícies internas.
O céu ao contrário: cascalho, húmus, raízes, restos, ossos, óleo,
fino-fundo.








www.paralelos.org/out03/000688.html

6.5.05

Nota

As mãos sujas de poeira, onde vento e água só mesmo em palavras
permitem aos deter-gente a contenção de certas vaidades
ou o lançamentos de suas verdades
como bombas ou suas unhas pretas encravadas,
devidamente jogadas à margem.


Delicatessen é manter o cu perfumado.


Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Adriana Calcanhoto, Senhas