21.4.05

TEIA

para aranhas e pára-quedas


Quarto marrom. Não há janelas. A criança menina chora muito. Há um cubo de seis faces coloridas. As faces estão desmontadas. Um palhaço duble face gargalha. A menina chora. Relações matemáticas - raciocínio - palhaçada - pureza - cinismo - resolução - brincadeira. Até hoje.

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Mar não é piscina. Enlatados tiram a ferrugem das laterais. Traição à vista meu bem, macacos à nado vão invadir suas casas, sua cidade, seu sossego, seu canto, seu gosto, vai acabar a festa. A brincadeira se confunde. As crianças não estão acuadas. Pulam corda, correm, cirandas por toda parte. Meninas de saia sobem nas árvores, articulam seus membros sobrevivos. Macacos me mordam, te mordam, você que não sabe mais correr, seus carros estão sem combustível, nada move, tu cai duro no chão sem afundar. Alguns dos enlatados são sugados outros integram sabe-se lá, macacos não tem filosofia.

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Hipopótamos puxam cordões elásticos. Puxa nós que vamos ao parque brincar. Tocaia! as cordas se rompem. Hipopótamos em vôo devastam a platéia. Todos vão correr. E nossos laços vão nos levar à mesma direção minha dulce. Cabelos de mudas viram árvores arbustas fazendo fios, não sei como. Reproduzem-se e morrem.

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No supermercado. Tiro dois sucos de limão da prateleira e também biscoitos de sal. Ele. É alto e esguio. Cabelos longos. Pele clara. Me pergunta algo. Respondo, mas estou prestando atenção neste suco. Por quê melão? Minha mochila está no carrinho de pegar e dá pra enfiar uns chocolates nela ou latas de refrigerante. O cobrador tem cara de queijo. Enfio mais biscoitos. Estes são para ela, que está com fome mas não tem dinheiro. Tenho uma mochila, digo. Ela balança a cabeça, franze a testa e diz que prefere ficar com fome. Eu, não.

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música do jerffeson airplane. Estou bêbada e não consigo subir a ladeira. Paramos, eu e ela, numa pequena vila de casas coloridas. Sai um cara de lá. Ele está descabelado e sozinho e canta uma música que conheço mas não consigo lembrar. Não era a do jefferson, logo sei. Ele parece estar muito sozinho, não só pelo fato de não ter ninguém ao lado, está sozinho de fato. Falo alto que quero passar a noite andando pela cidade. Sinto que ele também quer. Na frente tem uma escada. Não quero descer por ela. Alço um vôo, que percorre três árvores seguidas. Eles riem. E ele vem comigo.

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Estou sentada debaixo da árvore lendo um caderno. Bandas fazem música lá embaixo. Estou na metade do morro, em declive. O ar está respirável, e até bastante. A esperança, essa paca gorda, ainda me comove. Aproximam-se ao longe, vindas da ópera de arame, duas senhoras. Uma delas me chama para ler uma revista na casa da Alanis Morissette. A cada dela é no alto de morro, entre o palco e o céu e logo de cara me comovo com a escada interiorana que dá na sacada ou dentro da casa. Quero dentro. Entro. A casa está revirada. Muitos papéis no chão. Passo os olhos devagar. As duas senhoras param na varanda, perto da escada. Fixo os olhos na revista que está em cima da mesa, em destaque. Ela está na capa. Está muito bonita. Olho para ela ao lado da revista. Seu rosto está franzido e suas roupas estão folgadas. O rosto da revista tem uma boca estirada simulando o infinito horizontal; a boca é rosa e brilha. Sua boca parece estar a muito fechada, tende mais à vertical por causa do bico. Uma senhora cansada se aproxima. Sua mãe, penso, mas também duvido. O que me interessa é essa fronteira. O ar pesa.

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