9.1.05

guarde o nome ou não, iste é um escritor. e está mais perto que imaginas, srta Babosa.


DANÇA
por Danilo Frabetti
dhangover@hotmail.com

Imemorável seqüência de ocasiões propícias desembocando nesta letra que deságua seus rumores ante os olhos decifradores ruminando mais uma vez a gosma significativa que se apresenta cordialmente através do ? chega! Agora é a dança quem dita o movimento. Deito em seus braços (quebrados) esperando o passo em que ela, envolvendo braços em minha cintura, me deita para trás dobrando-me ao meio, fazendo-me relembrar que minha coluna estrutura ainda é flexível. Quase encosto minha cabeça ao solo. Os cabelos o tateiam lembrando antenas capazes de sentir o chão gelado. Ela me puxa outra vez para ir de encontro ao seu. A música acaba. O momento paralisa. Seus olhos borrados afastam-se, pouco a pouco, eu parado, no centro, com os braços estendidos, um esticado, o outro encolhido, sem entender porque pararam a dança assim como quem não dança há mais de anos e ainda consegue dobrar sua coluna por um único momento, talvez o último. Dona dança dote-dom dela. Uma donzela dogmática. Enigmática também. Diz que era assim, agente dança curto, passo fino, pra não enjoar. Fiquei pensando. Dança bem, mas dança curto e eu aqui, com o braço esticado A seqüência das ocasiões começam de novo seu ciclo. Logo chega o momento, momento da cintura. Toda noite espero este, mas aquele lembra que o outro é mais perto do que o curto. Momento apropriado. O salão ornamentado, vai ter música pois sem ela não tem dança. E muita gente também, todos atrás da dança, mas com eles nunca vi cintura assim. Sempre o de sempre, dois pra lá, dois pra cá, sabe como é. Pensei que, justamente por quase tocar o chão com minha cabeça, eu dançava bem. Mas o que importa, pra senhora dança, um bom dançarino? Mais que isso, ela diz, mais que isso! Quero música, som, rumor. Quero o barulho que você pode me fazer soltar. Mão na cintura, outra com cotovelo na barriga segurando com a mão o cigarro na boca. Vira as costas e, como quem não liga pra cintura, aceita o convite para uma dança me fitando os olhos, os dela borrados de novo, sorrisinho no canto do lábio. Cintura assim não tem, penso comigo. Mais tarde agente dança. Dirige-se ao bar, segura uma cerveja, senta no banco, olha pro salão, e ele está vazio.

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