24.7.04

contração. entre as palavras usuais - uso abismo - para desmembrar o carcumente. sim, O carcumente. desde que o deus-da-guerra tem dado de guei para delicar e saber feliz (com sabor doce, do amargo trasnformado). daqueles molequinhos melequentos que chupam suas jujubas entre mucos, vermes e foda-se quem olha com nojo. peter pan bem verdinho. eu fumo. vê se enche logo...
encher o quê?
o copo - o ar - os vagos.
depois ele cospe, por causa do carcumente. nada que não for doce, lembre-se.


23.7.04

as cobranças vão morfar na caixa de entrada
no começo é de graça.

no começo...

 
FICFICFIC

Todas as cores do amor 
 



22.7.04

(tensão - ansiedade - psiquiatria -  skinner - mito da liberdade - passado - dependência)
tudo vibra.

em algum momento (por perto ou longe) algo foi desmistificado. a paca virgem - a vontade.
assim: você deseja tanto; enquanto assiste um filme, enquanto come, enquanto toma banho. depois de alguns anos percebe que isso lhe causou algumas sensações, talvez impróprias para o devido estado de socialização. onde a vontade se transforma em perversão, desejo de auto-mutilação abstracionados por dez ou mais camadas de tensão.

porque a liberdade estava mais pras pernas do que pra perto.   

  Antique Vibrator Museum


 






20.7.04

"Não me agrada o monoteísmo
  Não me agrada a monogamia
  Entre deuses diversos
  É possível encontrar um benevolente
  E entre vários amores
  É possível encontrar um verdadeiro."
 
                                         (Julio Cortázar)

 
entre as palavras ditas, entre as linhas, entre um cigarro e outro
pouco importa
entre é para dentro.

17.7.04


"Ai!... Ai!... (de quando em quando assim se sente)
Uma porra tamanha é dada aos burros,
Não é porra capaz de foder gente".

 
Glosador magestoso.
Andei relendo dos seus eróticos. sonetos, que quase nunca gosto. excessão. nem sempre a métrica concentra desculpas disfarçadas, esfarrapadas. por estar vivo e com tesão (séc, 17), lembrando. pai das artimanhas do ofício. pq convence e é convencido.  atemporal.
Bocage,
 
 
"...mas só se tem notícia de seu convívio com os poetas contemporâneos (entre os quais Bocage e José Agostinho) justamente porque estes costumavam interceder em seu favor quando era perseguido e punido pelo comportamento anti-social, ou seja, quando era preso por se exibir pelado em público ou por escrever poemas como o soneto XLVIII, que, segundo denúncia ao intendente da polícia, era "licencioso" e alusivo à "fornicação dos cães dentro das igrejas".
 
meu puto erudito.
 
essa eu dedico;
 
Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito:

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branca crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:
Como é inda boçal, perde os sentidos:

 
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.


  
 


15.7.04

A filha, ela deixou comigo. por uns dias porque ela precisava viajar. deixar algumas ligações pra trás, por pouco. tempo. que não temos. solidão sem eco. e esqueci a menina na porta de uma casa, porque os carros vinham atrás - atropelar. muitas curvas, dois dias. Depois de tanto procurar achei ela ainda no mato um pouco selvagem. mas ainda viva... com cheiro de mato e suja de terra.


"Savage things wash over me..."

12.7.04

A pinça aponta
o pêlo

enquanto decido se escrevo
um anti-romance
ou raspo de vez o conglomerado de fios espessos

pontas afiadas
agulhas hipodérmias
fios e navalhas

corte-orgânico
o arbítrio ou o ar

um cheiro forte
sobe...
vermelho.

7.7.04

RESÍDUO
Carlos Drummond de Andrade

De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficam poucas
roupas, poucos véus rotos,
pouco, pouco, muito pouco.

Mas tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
de teu áspero silêncio
um pouco ficou um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
nos pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
em pouco de mim algures?
no consoante?
no poço

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...

De tudo fica um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
do vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas tudo, terrível, fica um pouco.
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço do cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.