3.2.03

Pregos
Sol de dia e de noite uma luz clareia de cima a superfície. O apartamento quatrocentos e quatro faz um barulho estranho e solta um pim no chão que ecoa aqui em baixo junto com a música rapidinha da rádio-bossa fazendo laguchigumlum pam-pam, numa pausa rítmica que vai do ponto em que a voz se cala e solta um pá-pá que soa bem pra cara-ra, vamos lá-lá. Dando notas voadoras aqui em-baixo. Ninguém lá do de-baixo escuta o pa-pá porque é tão suave que nem o prego de cima pode acabar com a graça do pá-pá do terceiro andar. Dá até pra fazer de fininho sem que ninguém escute, só que depois das três os pregos mais concentrados tem cabeça e ouvidos machucados e a mínima respiração pode acordar os tratores submetidos do térreo. Mas dá pra gritar sem ofender o que não dá mais pra escutar. Ninguém precisa se ocultar - só o Lombardi.

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