28.6.12

Tertúlia: Hilda Hilst por Claudio Willer


O programa Tertúlia (Sesc TV) revisita a obra da dramaturga, escritora e poetisa Hilda Hilst, pela percepção do poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer

26.6.12

Sob O Entardecer dos Relógios

dos lençóis
o sol se espreguiça
quis ver, não
cidades tão caretas para corpos de verdade 
músculo e gargalhada
ouvi, nadis
janelas nunca verão nossas lágrimas

que a rua se vá

volto daqui a pouco com o café
você veio 
com um daqueles raios agarrado à coxa esquerda

quase vi
era quase sem bom dia?

me dispus em mil-e-uma-noites
piteira na mão e uma verve inesquecível para formigas
que rondam a cama 
prancha solta no ar de outono 
toda base de nosso papel
trabalho nosso livre de fracasso 

me despi no inverno
plexo aberto 

um caviloso arco me apontava um raio pelo cigarro
incêndio por dentro de tuas coxas
acendo
você se volta toda

fumaça turva
sob a luz do sol coberto
ela enorme
quase foi, não agora
espera o cano esfriar entre os pelos 

que a rua se vá

no estrado
o terceiro dedo do pé
no parapeito
o estrago de cada borda que nos obriga
no espasmo
bela maneira de se distrair
com a tarde que massageia os cílios 
e faz de nus novos nós

quase vi
era quase foda boa?

me esfacelaria na madrugada das mil pétalas
copo entalado na garganta carrega memorável cano de mirar intrigas
elas se instalaram no teto 
papéis cobriram o fogo que lambia teu umbigo

me obrigo
raiz de teus cabelos

uma violeta violenta me aproximava da raiz
um esponjoso catarro passe para novo estalo
mira de tuas coxas
apago
você me dá força

que a rua se vá
para longe
bem longe
de nossos passos

(Tamara Costa/ Paulo Sposati Ortiz)

8.6.12

"À Vida" (1924), de Marina Tsvetáieva (2 traduções)


À VIDA  
Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.

Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cabelo
Árabe — E abre a veia da vida.

[de Marina Tsvetáieva, Tradução de Haroldo de Campos]


À VIDA  
Não colherás no meu rosto sem ruga

A cor, violenta correnteza.

És caçadora — eu não sou presa.

És a perseguição — eu sou a fuga.

Não colherás viva minha alma!
Acossado, em pleno tropel,
Arqueia o pescoço e rasga
A veia com os dentes — o corcel.


Árabe.

[de Marina Tsvetáieva, Tradução de Augusto de Campos]  

via Bula revista.



Caros, 
É de meu profundo interesse qualquer relato/tradução/texto/trabalho que trate da vida e obra da escritora russa Marina Tsvetáieva. Em minhas buscas, encontrei poucas referências e leituras, além de Vivendo sob o fogo, livro cedido alguns anos passados por Juliet Jones. Apesar da indiferença parisiense literária da época e de atualmente ser considerada "um dos maiores escritores do século XX", segundo a apresentação da obra, ainda permanece pouco divulgada.  Ouvimos falar dos russos, e as russas? Caso tenham algo a compartilhar à este ou aquele respeito, desde já, agradeço. Originais também são bem vindos.

Att,
T.