26.3.10

senhoura Lispector

para Júlia

Entrevista que assisti na exposição da senhoura Lispector, no CCBB Brasília, ainda neste último mês. Nunca tinha a visto antes - nem por vídeo e mal por foto. Roubei Água Viva ainda na 3º ou 4º série (na biblioteca da Escola Paroquial), onde estudei. Tinha gostado da capa azul. Só fui ler anos depois.

Na verdade, só consegui ler (auto-sugestão) depois que fucking dad morreu (aqui fagocitado), este e outras dezenas de livros que eu colecionava (mesmo sem lê-los). Meu pai colecionava livros também, mas ele lia. E lia quase todo dia. Tenho uma fotografia de cérebro dele deitado na cama depois do almoço lendo, talvez Cavalo de Tróia. Meu avô (pai do pai) colecionou também muitas coisas, das que foram parar lá em casa (canetas, chaveiros, lápis, discos e também livros) após a falência de seus órgãos. Tive vontade de compreendê-los; ainda tenho.

Foi então que Clarice permaneceu em minha estante. Assim como jorge e meus outros cavaleiros. E mesmo depois d"O ovo e a galinha" talvez ainda não tivesse compreendido (assim como ela mesmo diz), e mesmo depois de ouvir, e re-ler, repetidas vezes - até hoje leio esse conto -, talvez não fosse possível compreendê-la. Nem ele. Água Viva antes e depois de Sartre. José Jorge antes e depois de sua morte. Clarice antes e depois do olho.

De volta aos livros e as coleções, agora sim, mais viva que morta, aquela imagem little more blue de Clarice teria entrado junto no abismo proposto. Esta distinta senhoura de língua presa, olhar calejado, misteriosa cadênciosa, e cuidadosa, muito - no olhar impresso na tela de minha'lma. Agora miro TEUS OLHOS: SIM, ABISMO.

aqui transcrito:
"Eu nunca assumi! Eu não sou uma profissional - só escrevo quando eu quero - (pausa). Sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro - em relação ao outro. Agora eu... Faço questão de não ser um profissional para manter minha liberdade."

21.3.10

roda de equinócio

"A inspiração dos vates, dos profetas que davam vaticinii em estado de transe como se o deus falasse por sua boca, foi perseguida com ênfase pelas autoridades romanas." Deusas e adivinhas, de Santiago Montero

Aqui renascida: 21 de Março. Eu, Carmenta, Deusa da previsão-verso, coroada DEMENTIA por vós que sois homens (romano-farpados).

Às 21h do dia 21/03
Berrou Carmenta
já nascida com a tatuagem de plexo/anúncio:
De todos os cantos, o canto de todas'elas.

Disseram que cantou escroto
e foi esfolada
por ter insunuado o verbo à dança com o despudor
e desembaraço -
teria também sussurado ouvidados:
amem e se deixem levar por esta força.

AQUI GARGALHO.

Qual força, minha senhoura?
A que te move, seja ela fôlego, rumo ou desejo - não confundir com piedade ou compaixão aos fracos.

Há de se compadecer, sempre
só que somente
EM NOME DOS FORTES,
dos grandes espíritos,
das explosões de luz e clarividência.

Há de se deixar levar -
ESTA É A DANÇA.

Este é meu corpo
imensurado
que a vós dedico, sempre:
eterna.

Enquanto isso, dançavam todas (esfoladas vivas):
Carmenta, a Fauna, Parcas, Egéria, Juno, Fortuna, Dido, Tanaquil, Pítia, Monstra, Andrógina Lilu, Daphne, Madalena, Santa Maria da Cabeça, Marina T., Clarice, Hilda H, A Puta Albina...


*Este texto foi escrito por Madame Felix Culpa, entidade co-habitante em Juliet Jones e Srta T.

* Nasce também Tamara Costa (21/03/1984).

2.3.10

Esbugalhos (Olhos são Brechas).

Este texto foi postado em brechadiaria.wordpress.com, tratado-parceria de Danilounge e Tamarocks

Alguns homens passam por esta vida de olhos esbugalhados. Vemos em seus olhos reflexos de imensidão e perplexidade. E se um dia lhe perguntam – por que olhos tão salientes? – sobressaído, ainda, hão de devorar-te na escavadura de negros feixes oleos’úmidos.

Esbugalhados enfim, deitamo-nos. Lembro de ter fundido-me em encantadores feixes púrpuros, ainda com os olhos abertos fronte ao confuso espelho da brecha de tuas pupilas. E já não era mais o meu – ou o teu – braço – nuca – tornozelo – nuca – nuca. Tua mão meu pescoço. Fundimo-nos, e isso teve nos anulado como um feixe desfalecido e tranquilo. Acordo e vejo a luz, já é dia.

Vejo-me em teus olhos: paredro.

Minh’alma a flor do rosto.

De todos os olhos, o olho.

Redondo e profundo: buraco negro.

Fundo – pantanoso – úmido – meigo.

Alguns seres morrem desta vida também esbugalhados.