11.12.09

Drunken Satyr


O sátiro dorme, Barberine Faun (Glyptothek, Munich)

7.12.09

yellow windows of the evening train

"And everyone is behaving like dogs
And the horses are coming down Violin Road
And Dutch is dead on his feet
And all the rooms they smell like diesel
And you take on the dreams of the ones who have slept here
And I'm lost in the window, and I hide in the stairway
And I hang in the curtain, and I sleep in your hat..."

9th & Hennepin, Tom Wais - Rain Dogs.

6.12.09

Décadence (par excellence)

Que tive acesso a esse sentimento (compaixão) de maneiras distintas às postas em prática em nome dos fracos. Não, nada similar a lástima, dó ou piedade. Piedade é uma prática religiosa, puro risco. Não era devota - nunca fui, nunca hei de ser. Sei que estive na guerra. E ainda continuo. Era como entender no íntimo sua dor e dela partilhar - tatuagem de plexo/emblema. Como se eu entendesse, ou mesmo, como se a dor fosse minha. Eu quem? E foi então que senti os tiros e o gosto de sangue - frio. Ultimatum "atire, atire".

"Vocês sabem a sensação que dá quando cospem na sua cara e jogam lixo por sua goela abaixo? Vocês sabe a sensação que dá cavar sua própria sepultura? Vocês sabem a sensação que dá ter sua garganta cortada de orelha a orelha? Vocês sabem a sensação que dá ser queimado vivo? Vocês sabem a sensação que dá ser humilhado e ser pregado em uma cruz para sangrar até a morte para sua diversão?"
trecho do manifesto-multimídia (vídeo/BBC) executado por Cho Seung-Hui, responsável pelos ataques que mataram 32 pessoas na Virginia Tech University - Maio de 2007.

Como se eu fosse um outro qualquer. Como se tivesse lutado na guerra para que não tivesse avelhentado tão rápido quanto os que pereciam a meu lado. Então, era avante. Não pelo que viria depois, não pelos motivos da batalha. Só aderi ao front porque desejava a incrível guerra (anti-cruz).

Vocês que são homens fortes, homens da luta, aos cavaleiros da ordem oculta, Homens da Fênix (merci Borges), me inclino. Este corpo diz pertenço também à tua batalha. Contudo ninguém acreditaria se acaso eu afirmasse, com convicção, que pertenço à guerra. Eles duvidaram da força de uma mulher, e mesmo depois de vê-la parir - mesmo depois de vê-la parir. Eles continuam matando (tentativas) os profetas, entre outros vícios.

PS: A palavra é a prova de balas.

Ver também: Bortolotto perdeu metade do sangue do corpo

3.12.09

Glamour X Morte X Hedonismo

Lombardi morre aos 69.
Leila Lopes se mata - desencarna numa cadeia de recuerdos de seus saudosos meia-noves.

CÁLCULOS CAVALÍSTICOS
6 + 9 = 15
1 + 5 = 6

Morri também - onde estou? Por cima ou por baixo de tudo isso? De pé ou de ponta-cabeça? Meia ou nove? Olho para frente - esfinge. Entro no abismo. Tiro uma carta:

26.11.09

Dos fogos

Tati Carabina e Lili Cabalero estão à espreita na porta da escola. Montim para defesa do espaço-educação. Escola Paroquial? Escola Classe, vestimenta - uniforme, entre outros decretos. Outras criaturas se unem ao grupo de táticas de guerrilha. Eles devem atacar na madrugada, pelo sótão abaixo do pátio. Estaremos lá - não esquecer de avisar Meriene e Josafá (a filha da puta e o ladrão de lapiseiras). Salto no vão e fico fronte ao elemento. The Gun Game. Atiradores de elite (Cabalero e Carabina) fazem seu trabalho. Bazuca explode crânio de elemento não-identificado. De volta ao pó. Festa nos corredores. Subimos pelas escadas com bonés-brinde. Josafá tenta me afagar na subida (me assopra o pescoço), me oferece uma preciosa lapiseira. - Calma, ainda estou explodida - visão anterior dos estilhaços - mamãe, era terrível.  Tudo que nos afastamos dos outros foi muito pouco. Os caminhos estão abertos. Festa no pátio. Preciso ir ao banheiro. Banheiro feminino engarrafado de homens mijando para fora e para dentro de todos os vasos possíveis. Banheiro transex também inundado. Banheiro masculino na mesma situação. Passo por entre uma corrente de mijo...

Ver também: universofantastico.wordpress.com

25.11.09

Dos excessos

Ainda sob o efeito de diálogos intertextuais com milord Bataille - entre outras obscenidades soberanas - insisto em dizer que adquiri o livro "O Erotismo", há cerca de seis anos atrás, na ala dos promocionais de uma livraria de um shopping center. Um livro raro. Um espasmo. Tarja vermelha. Seria isso mais um absurdo? "Não posso conceber sentido que não seja - meu - suplício, quanto a isso sei bem" Georges Bataille em A experiência Interior. Talvez fato deste blogue ter sido, desde o início, uma súplica - ou uma voz de esquina - não seja mera coincidência. Teria também o chamado de O vômito do abutre, no subtítulo. Algo que de horror em mim suscitava a curiosidade e o desvelamento - há quantos anos atrás?

"Mas o ser aberto - à morte, ao suplício, à alegria - sem reserva, o ser aberto e moribundo, dolorido e feliz, já aparece em sua luz velada: esta luz é divina. E o grito - que com a boca desfigurada, este ser quer (inutilmente?), que seja ouvido - é uma imensa aleluia. perdida no silêncio sem fim". Prefácio de Madame Edwarda, estudo VII d'O Erotismo, de Georges Bataille.


Ver também: O Poder Fálico da Mulher e a feminilidade do homem, de Valdeci Gonçalves da Silva Assinar feed do autor

9.11.09

La Literature et Le Mal, by Georges Bataille

Georges Bataille fala sobre o livro "A Literatura e o Mal" em entrevista realizada pela Ina.fr (França) - em 1958. O entrevistador, deveras estúpido e frugal, chama-se Pierre Dumayet. Segundo o tradutor (do francês para o inglês), esta é a única entrevista registrada com o escritor. Eu, pelo menos, nunca visto nada do gênero antes - somente livros (impressos, diga-se de passagem - no e-books). Em todo caso, arquivo raro. Aqui transcrevo:

Primeiro quero te perguntar sobre o nome deste livro. De qual Mal você fala?
Bataille - Existem dois diferentes tipos de Mal. O primeiro está relacionado a necessidade de humana de ir bem e ter os resultados desejados. O segundo consiste na necessidade de violar alguns tabus fundamentais, como, por exemplo, o tabu contra o assassinato ou contra algumas possibilidades sexuais.

Como agir mal e em função do mal...
Bataille - Sim.

O nome deste livro indica que mal e literatura são inseparáveis?
Bataille - Em absoluto. Talvez não fique muito claro no início, mas para mim é como se literatura estiver afastada do mal, repentinamente se torna chata, cansativa. Isso pode parecer supreendente. Todavia penso que, em breve, se tornará claro que a literatura tem um acordo com a angústia. E essa angústia é baseada em algo que está seguindo o caminho errado. Alguma coisa que inevitável de se transformar em algo do Mal. E quando você faz o leitor perceber isso - ter esta perspectiva -, oferece possibilidade de uma história com um fim do Mal para os personagens, eles serão a causa (terão consciência disso). Agora estou também simplificando sobre o que tratam os romances. Quando o leitor está nesta situação desagradável, o resultado é a tensão que faz a literatura não ser maçante.

Então os escritores, ou qualquer bom escritor sente culpa de alguma coisa enquanto escreve?
Bataille - A maior parte dos escritores não estão sabem disso. Mas penso que existe uma profunda sensação de culpa. Escrever é o oposto de trabalhar. Isso pode não soar lógico, e mais, todos os livros extraordinários representam o esforço que eles (escritores) fazem contra o "real" trabalho.

Você poderia me dizer o nome de um ou dois escritores que se sentiam culpados de escrever? Quem pensou que eram criminosos porque escreviam?
Bataille - Existem dois escritores sobre os quais escrevi em meu livro que são exemplares a esse respeito. Baudelaire e Kafka. Os dois sabiam que estavam ao lado do mal. Por consequência, eles se sentiam culpados. Com Baudelaire é claro pelo fato de ele ter escolhido o título "Flores do Mal" para seus escritos mais íntimos. E com Kafka é ainda mais visível. Ele pensava que enquanto escrevia ia contra os desejos de sua família. Portanto, ele mesmo se colocava na posição de culpado. É fato que a família dele sabia que era algo mal gastar sua vida escrevendo, que a coisa certa a se fazer é se dedicar a atividades comerciais. E caso fizesse algo do tipo escrever,  estaria fazendo algo do mal.

Se escrever é culpado por algo, como Kafka ou Baudelaire, é algo que não é muito responsável.
Bataille - Esta era a opinião da família deles.

Esse tipo de culpa é para eles algo infantil e você pensa que Baudelaire e Kafka se sentiam infantis enquanto escreviam?
Bataille - Penso que isso está muito claro.  Eles sempre diziam, então é como se sentissem na mesma situação de uma criança diante de seus pais. Uma criança que foi desobediente e que têm consciência da culpa. Porque eles pensam serem amados por suas famílias e que estão sempre dizendo a ele o que não fazer. E que isso (escrever) era uma coisa mal de fazer - coisa mais senso comum do mundo.

Mas se a literatura é culpada de infantilidade quando escrita, isso quer dizer que literatura é infantilidade?
Bataille - Penso que existe algo essencialmente infantil na literatura. Pode parecer incompatível para aqueles que admiram a literatura (aqui me incluo). Mas acredito que a verdade fundamental é que você não conseguirá entender o que a literatura significa caso não aproxime do ponto de vista das crianças - o que não quer dizer em menor perspectivqa.

Você escreveu um livro sobre erotismo. Você pensa que o erotismo na literatura é infantil?
Bataille - Não estou certo se a literatura se difere do erotismo nesse respeito. Mas penso que é muito importante perceber o caráter infantil do erotismo em geral. Para sentir o erotismo é preciso estar fascinado como uma criança que quer participar de um jogo proibido. E um homem fascinado pelo erotismo é como uma criança sem seus pais. Ele têm medo do que poderia lhes acontecer, então nunca para até que tenha uma razão para ter medo. Não é suficiente para ele (escritor) somente apenas fazer o que fazem e se contentam os adultos normais, ele tem que se tornar assustador. Ele tem que achar a si próprio na mesma situação de quando era criança e sempre tinha medo de ser repreendido e até mesmo punidos de maneira insuportável.

Talvez eu tenha feito isso soar e você também tem me dado a impressão que você foi condenado por essa infantilidade (?) Bataille pisca o olho... Mas é hora de voltar para o título do seu livro "A literautura e o Mal". Você não me parece ter sido condenado nem pela literatura nem pelo Mal. Você poderia falar mais sobre das idéias do livro?
Bataille - Com toda certeza é um aviso. O livro diz que é perigoso, mas, uma vez que você entende o perigo, tem boas razões para confrontá-lo. Penso que é importante para nós - confrontar o perigo é literatura - um real perigo. Mas você não é um homem se não confrontar aquele perigo. Na literatura podemos ver a perspectiva humana em sua íntegra. Porque a literatura não nos permite viver sem enxergar a natureza humana sob seu aspecto mais violento. É só pensar sobre as tragédias, Sheakspeare. Existem muitos exemplos do gênero. E finalmente, a literatura nos faz perceber o o pior e aprender como confrontar e dar um fim a isso. Rapidamente, um homem que brinca encontra no jogo a força para para dar o fim ao que o jogo contém de horror.

Traduzido do francês para o inglês por hvolsvellir, re-traduzido e transcrito em português por Srta T., ou Madame Felix Culpa.

Ver também: 

4.11.09

poema (2007) - releituras

Feriado finado
recuerdos (a todo instante)
que ao invés de transubstanciar,
preferimos, como sempre,
entoar
durante três dias seguidos
a ode-açougue à nossos entes
numa tentativa
de relembrar a forma decadente,
e reafirmá-la a qualquer custo.

Instruções:
Amar o defunto
e demais corpos decrépitos.
Compactuar com as fragilidades;
perfumá-las de flores,
se apegar e depender de qualquer coisa-elo que assim nos ligue.

Compreende quem pode/ Compreende quem morre. (Merci Bataille)


* Este incrível poema foi escrito pela Srta T. em 2007, inspirada pelo Dia de Finados (e por papai - já fagocitado).

30.10.09

MEMÓRIAS ou TRISTES PUTAS, REDONDAMENTE PUTAS

A puta cai do céu direto na mesma ponte onde hoje tento suicídio, no Sena, em Paris. O nome dela: Ângela. Eu aqui (imigrante árabe) tentando morrer com dignidade afogado num museu a céu aberto. E do céu me cai essa loira num micro-preto e salto-agulha. Grace, Ângela, ou o anticristo (ver também Lars Von Trier). Já nem me lembro mais seu nome. Pulo contigo - ou pulo, porque pulastes antes. Pulo porque não me deixastes escolha. Talvez seja um sonho.



Isto não é um caximbo, de René Magritte


Somente um devaneio? Te digo, quanto tenho alucinações do deste tipo, não acordo muito bem. Fico semanas remoendo o gosto de sangue do vestido. Ou seria o gosto do esmagamento das pedras? Je ne sais pas.

* Lembrar que puta pode ser aquela que te leva o pagamento do mês em menos de três minutos - ou uma semana, aí do cartão-de-crédito, calcule.

9.10.09

medidas permanentes de como saciar a sede
ou a fome
inerentes
desde sempre
a chama esteve acesa
para que depois compreendessem (mentira)
coração e adultério
- só mais um capricho dessa sumptuosa víscera.

com tamanha histeria pela
resposta -
vício ou neurose?
lembro-me
desde o primeiro não
(ainda assim vinha-se o sim tomado a força)
que era preciso não querer
nunca - crivo.

passados anos-fogueira
ou depois de todos os sim(s) consentidos
aqui se instala:
o arrebatamento e a desmesura
d'ela.

“No son temibles las normas, sólo aquellos que se las creen...” ao ver também Valérie Tasso

5.10.09

4.10.09

Alfonsina y el mar

Escrevo porque sinto raiva de vocês. Todos. Escrevo para me aliviar. Talvez um dia eu entenda porque eu escrevo. Ou porque sinto tanta raiva de vocês. Todos. Vocês me acotovelam nas ruas. E então, Alfonsina, escrever deveria bastar? Acendo um cigarro.

Talvez o mundo me tenha sido apresentado quando vi os olhinhos de Alejandro. Pupilas quase impedidas de conviver com a luz. Muita luz, meu pequeno, durma, durma. Também preciso dormir um pouco mais, pequeno. Encontrei Frederico Garcia Loca em 1933 (ou seria 1934?), no Café Tortoni. Me disse que viu a morte numa dessas festas de casamento banhadas a sangue. Se arrebatou. Escreveu Bodas de Sangue. Pura tragédia. Puro Eros e Thanatos, isso de não conseguir aniquilar as pulsões - toda aquela necessidade de ser livre. Primordialmente livre. Nada mais trágico. A morte travestida de mendiga. Tumor de plexo.

NOTA
Alfonsina Storni enviou o soneto "Voy a dormir" ao jornal argentino La Nacion, três dias antes de seu suicídio. Na madrugada de 25 de outubro de 1938, aos 46 anos, depois de ditar uma carta para seu filho, caminhou para o mar sob uma tempestade. Pela manhã, seu corpo foi encontrado na praia.


VOY A DORMIR

"Dientes de flores, cofia de rocio,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos encardados.

Voy a dormir, nodríza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelacíón; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.
Dejame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases
para que olvides... Gracias.

Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido..."


Ver também: Argentina llora la muerte de Mercedes Sosa

2.10.09

dos jogos

da recuperação do choro-primeiro,
de salva logo então,
eu-mínima, polegar
alavancando os braços
tão engraçadinhos pequenos
cheios de não deixe tudo tão sério e nem que o sério leve tudo
[não deixe que te levem os bebês]
- a regra do jogo consiste basicamente em
não olhar para trás.

então deitamo-nos,
todos no chão
- incumbidos da tarefa de esquecer
[acesso remoto: risadas são códigos, insisto]

instruções:
esquecer a voz da amada
lembranças são marcas
cicatrizes
conte até vinte
faça um pedido
depois mantrifique.

do outro lado:
a voz do comando no comando
dá boas vindas
à festa da caça.

[e quem olhasse
rente ou através
logo estaria fora]
os curiosos pagarão com os olhos
os resistentes com a entrega -
anexar em regras.

e depois
de desligadas luzes
cinema de graça
[continuar olhando para frente]
- tá, pode piscar
[piscar pode ser entrega
ou
engolir a saliva]

as luzes se acenderão
e ouviremos música
sem resistir
ou perguntar
[aquele cílio colado no polegar]

mantenedor de fascínios
em serena expectativa
vemos as chaves se dissiparem
como palavras escritas a mão
no ar.


"Agora que estou sem Deus posso me coçar com mais tranqüilidade”.

Hilda Hilst, in Qadós

25.9.09

Dio perdona

Entrou na sacristia. Abriu a estante onde estavam hospedadas hóstias e cálices. Deu um trago no vinho. Mexeu nas estantes. Achou a chave do santíssimo, onde Padre Jonas guardava as hóstias. Hóstias sagradas. O corpo de cristo. Entre outros imaginários subversivos (aqui não constados como tal), o mais valioso da igreja estava ali - hóstias sacramentadas. Assim, chamaram-lhe Ladrão. Inescrupuloso. Impuro. A ministra da eucaristia pôs a mão no rosto e arregalou os olhos. Assistíamos tudo pela televisão. Enquanto isso, ou aquilo, o diácono não soube mensurar a valia do ato ou o a espessura da degradação. Talvez déssemos a isto o nome de decadência. Ou escória. Talvez em outros tempos ou no exacto tempo do bem. Nada mais pernicioso - não seria mesmo questionada - sua abrupta subida diante da cruz para depois engolhir-lhe o corpo, pedaço-por-pedaço antes que apodrecesse. Jornais de todo o mundo teriam-no estampado em suas capas caso grupo de ex-BBBs não tivessem sido escaladas para filme pornô. Como se isso, ou aquilo, insisto - puro canibalismo isso de comer um corpo ou outro -, fosse negação da dignidade humana. Talvez ele tivesse se perguntado o que Satã teria de tão particular. Talvez o despudor. Talvez o maldito. A epifania do anticristo em CAIXA-ALTA. Àqueles que continuam a negar a interdição.

Fora também traduzido para o italiano:

Pisa, Itália. Foto de Tamara Costa


“A pessoa parecia ter tudo planejado”, garantiu o jornalista.
Aliança com o animal, disse Bataille - antigas marcas. Ou a confusão do animal e do humano, do animal e do divino.
Porco-menino, por Hilda Hilst.
Just say my name, and it’s all right, has sung P.J. Harvey.
Da superação do horror, eu vos digo.

E o que sobra?
O efeito disso ou daquilo em mim - efeito-Bataille ou efeito-Fou-Tchou-Li ou...

Ver também: Ladrão invade igreja, furta hóstias e escreve ‘Salve Lúcifer’ na parede

23.9.09

1984

28.8.09

inclassificáveis

Se você está procurando por um ilustrador foda (foda mesmo), aqui vos apresento: Júlia Libânio, a desenhista/quadrinista mais genial que conheço. Diretamente de Brasília, entre outros sufocos, disposta e corada, diz que propostas de trabalhos serão bem vindas. Hable con ella!

15.8.09

Oitava elegia, de Rilke

Dedicada à Rudolf Kassner.

"Com todos seus olhos, a criatura vê o aberto. Somente nossos olhos parecem voltados, postos como armadilhas em tôrno da criatura, de sua livre passagem. O que está fora, nós não o lemos se não no olhar do animal, pois, a jovem criança está já voltada por nós e forçada a ver as formas diante de si, ao invés de desvendar esta abertura, tão profunda como a face do animal, livre de toda morte. Quanto a nós, é somente morte o que vemos. O animal sempre livre têm seu fim atrás e diante dele Deus. E quando ele se move, é para pertencer à eternidade, como os movimentos das fontes. Nós não temos um dia sequer, diante de nós, o puro espaço ao qual as flores se abrem infinitamente. É sempre o mundo e jamais, saído do nada, o lugar que é de parte alguma, a pureza que nada vigia mas que se respira, que se conhece infinito, que nada cobiça. Criança, tal aí se perde no silêncio e é perturbada. Ou tal outro morto o é. Pois perto da morte não a veem mais, o olhar se fixa e se torna talvez aquele do animal. Os amantes, não sendo o outro que mascara a vista, estariam muito próximos. Eles se admiram...

Atrás do outro, qualquer coisa se abre inadvertidamente... Mas ninguém jamais ultrapassa o outro e de novo tudo re-torna-se o mundo. Sempre voltados para a criação, não é se não nela que nós avistamos o reflexo da liberdade que nos encobre de sombra, ou quando um animal mudo nos atravessa com seu olhar levantado. É bem isso o destino: se manter em face, nada de outro, sempre em face.

Se tivesse uma consciência como a nossa, no aminal seguro de si que vem ao nosso encontro, seu movimento nos arrancaria do nosso caminho. Mas seu ser é infinitamente puro, sem limites. É seu olhar em seu estado, puro como a vista das coisas. Lá onde nós vemos o futuro, ele vê o todo e se vê ele mesmo no todo, e salvo, para sempre.

E portanto, há no animal se quente e vigilante, o peso e a preocupação de uma grande melancolia. Pois ele leva, ele também, o que assim frequentemente nos subjuga - a lembrança, este sentimento que tudo nos conduz o que tende a já estar muito próximo, muito fiel e de contato muito terno. Aqui tudo é distância e lá tudo era sopro. Depois do primeiro lar, o segundo lhe parece duvidoso e aberto aos ventos. Ó felicidade da pequena criatura que sempre permanece no seio que a levou ao seu termo. Ó felicidade do mosquito que, mesmo na hora de seu casamento, salta no interior do seio - , pois, estar no seio, é tudo. Olha esta segurança amputada do pássaro que, por sua origem, quase sabe de uma e de outra coisa, como se nele estivesse uma alma etrusca, vinda de uma morte que encerra um espaço, coberto por um que é. E quão turvo no voo é um ser nascido de um seio. Como assustado de si mesmo, ele atravessa o ar, assim como o avanço de uma rachadura na taça. É assim como o traço do morcego rasgando a porcelana da noite.

E nós: espectadores sempre e em todo lugar, voltados para tudo isso e não o ultrapassando jamais. Nós impomos a ordem. Tudo desmorona. Nós re-ordenamos, e nos decompomos nós mesmos.

Quem nos fez virar de modo que, o que quer que façamos, assumimos sempre a atitude daquele que se vai? Na última colina que lhe mostra uma vez ainda todo o vale, ele se vira, se detêm e demora - é assim que vivemos e as despedidas não cessam jamais.”
Elegies de Duin, Rainer Maria Rilke, Paris, 1949.

* Tradução livre para o português de Danilo Frabetti (dhangover@hotmail.com).

10.8.09

"Vou ficar aqui comigo. Passear pelos cantos do meu quarto. Esfregar meus ombros nas paredes. Entrar no armário. Resfriar-me na madeira. Aconchegar-me nos casacos. Fundir-me à escuridão. Colocar as mãos dentro das meias. Mergulhar inteiramente dentro das meias." Murilo Seabra
pense sobre isso

pense sobre isso, como os parceiros
Kierkegaard e Sartre
que encontraram a existência
absurda,
como quem lutou contra
a ansiedade e a angústia
a insignificância,
a náusea,
e a morte que os rondava
- como a espada de Damocles -
ao passo que existem os homens de
agora
vazios de preocupações
onde o primeiro pensamento do
dia é
o que teremos para ao almoço?

garantido isso, pode ser que seja mais
confortável
para viver, dizer, como uma mosca morta, uma
formiga, ou um homem de poder,
e como um ser humano,
apenas pensar,
como um ser humano
que vive
condicionalmente,
como fazem milhões
sempre por aí.
claro que o inferno são os outros
e suas podridões, seus lixos,
sempre serão afastados
como isso,
ou aquilo.

a garagem automática
avança em sua direção
com olhos
de um morto qualquer.


* Retirado do livro Betting on the muse (poems & stories), de Charles Bukowski - Black Sparrow Press, 1997. Original em inglês traduzido (livremente) por Tamara Costa.

licencinha Henry Miller

"Amanhã vou descobrir o Sunset Boulevard. Dança eurrítmica, dança de salão, sapateado, fotografia artística, fotografia comum, fotografia horrenda, tratamento eletrofebre (257), tratamento de ducha interna, tratamento de raios ultravioleta, lições de elocução, leituras psíquicas, institutos de religião, demonstrações astrológicas, leitura de mãos, pedicuro, massagem de cotovelos, levantamento facial, remoção de verruga, redução de gordura, levanta-se arco de pé, ajustam-se espartilhos, vibram-se bustos, removem-se calos, seca-se cabelo, ajustam-se óculos, curam-se ressacas, acabe com as dores de cabeça, dissipe a flatulência, melhore seus negócios, alugam-se limusines, seu futuro esclarecido, entenda a guerra, mais octano e menos butano, drive-in, fique com indigestão, limpe seu rim, lavagem de carro barata, pílulas para despertar e pílulas para dormir, ervas chinesas fazem bem e sem uma Coca-Cola a vida fica impensável." Henry Miller, in Pesadelo Refrigerado

8.8.09

subcultura.org

Bukowski, Hemingway, Poe, Hilda Hilst, Roberto Piva, Fante, Burroughs, entre outros porno-idols. Vai, tenta no banheiro. Subcultura.org, Artes e cultura para o estômago. Mais pro texto-trecho e corte-curioso. Instigue-se.

Linkado por passaroco.

7.8.09

dos nãos

não, não temos mais vagas. não temos mais espaço. você não cabe aqui. você, que deve ter crescido para cima ou para baixo de tudo isso. talvez esteja ficando pequeno demais pra você. talvez seja preciso ordenar, a partir de agora, tarefas como sair para dentro e descer para cima. ah, mas não desanima. mesmo sabendo que não precisamos de você. não desanime. temos máquinas cafeteiras, pó-compacto e perucas - 100% cabelos. olha que fácil, tio. computadores e cálculos, precisos, claro. temos livros. não, não. temos mais arquivos compactados que livros. sim os livros esgotados de impressões digitais, em páginas de sua memória, ainda assim, não perdem sua transcendência. temos pouco espaço. estantes lotadas ao talo de frigideiras de teflon. mas já não comemos o ovo, clarice, nem aquela galinha. temos o compasso, o esquadro, o prumo, a régua e o nível. não precisamos de suas mãos. nem do sangue que corre junto as tuas velhas veias. muito menos de corações inábeis. vá pro lado de lá com seus pulsos cortados. coisas do tipo não temos, temos de sobra. e você ainda nos agradece, sucessivas vezes, com a mesma cara de sim. não, obrigado não.



Avenida Karl Marx, Berlin

16.7.09

a saber

por que fêmeas do louva-a-Deus e as viúvas-negras e aniquilam o machos depois de copular?

15.7.09

humano

O sujeito era um médico. Desses viciados em metilfenidato. Um dia o cara foi num antiquário e comprou um saco. Passou a trancar umas cousinhas dentro dele. Um dia o saco, já de saco cheio, foi visto do outro lado da cidade. Ele se arrastou pelas calçadas. Os curiosos se reuniam nas sacadas pra ver o saco passar. "Onde está responsável por isso?", questionou o delegado. Quem viu comentou e a história foi tomando a cidade. Enquanto ele ia se arrastando, pegajoso, o povo ia atrás repudiando. Mas ninguém teve o culhão de pegá-lo a força. Nem de abrí-lo. O saco, já no ápice da raiva, explodiu e seus pedaços saíram se movimentando, em forma de macaco, para fora de todos os asfaltos, em busca de bananas e fêmeas.


"Mas o macaco difere essencialmente do homem por não saber da morte. A conduta do macaco junto do congênere morto exprime a indiferença, enquanto o Homem ainda imperfeito, de Neanderthal, ao enterrar o cadáver dos seus fá- lo com supersticioso cuidado que trai ao mesmo tempo respeito e medo", Georges Bataille, in As lágrimas de Eros

13.7.09




... ruas de Roma


"Alguns doutos em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo. E quem mais místico que Deus? Grande intestino, orai por nós". Hilda Hist, in Cartas de um Sedutor
Eles invadiram a festa. As crianças, mandaram pro quarto do segundo andar. Os homens, não sei. Foram levados. As mulheres, deixaram rodopiando pela varanda. Um deles era mulher. Dizia ter um grande plano enquanto balançava as receitas azuis. Deve ser isso, o lance de ter um plano - um sequestro, um roubo, uma tradução, uma casa ou outra cidade. Mesmo sabendo que depois tudo voltaria a seu lugar. Os lençóis marrons, as fotografias, os livros empilhados, a tv e os sinais. Até mesmo os cartões e os penteados. Partiram, deixando tudo como estava.

* Eles invadem. E você nem vê. Quando vê, já estão dentro.

9.7.09

Agora objetiva.
tantam.multiply.com

2.7.09

Manhã de terça-feira. Gal acorda agoniada. Entrevista de emprego. Todos têm emprego. Quem não têm, tá fora. Fora do círculo. Dos que estão girando. A capital e suas palas associadas. Tomou café, o que a mantém acordada. Vestiu a roupa adequada para a entrevista. Eles não devem ver as tatuagens, esparro demais. Aquelas máscaras úteis. Uma vez perdeu um emprego no CCBB porque tinha piercing na língua. "Esse aí do nariz até que vai, mas esse da língua não é compatível com nossa imagem". Imagem de cu é rola. Dessa vez vai sabotar. V de vingança. Culpa feliz. Na entrevista é mandada para cobertura de uma pauta de Meio Ambiente. Dados sobre os biomas brasileiros. Ver bioma. Ministro da Agricultura. Ministro do Meio Ambiente. Enclaves entre os biomas. Bioma Amazônico. Bancada de ruralistas e ambientalistas. "Como é que vocês alardeiam por aí que a água do mundo vai acabar se a molécula da água é eterna?". É que nem Deus. Deus é molécula. Sempre existiu e vai continuar existindo. Deus é eterno. Eterno nessa Brasília. Medo.

A entrevista que virou trabalho já passa das cinco horas. Os mais importantes se levantam e vão embora. Sobra a bancada da rural. Jornalista só se fode. Os mais importantes se levantam e vão embora. Gal fica até o final. Liga para a chefe. "Vai, pode ir embora, escreve amanhã". Certeza, chefia. Meus cavaleiros me chamam. Eu vou.

Talvez alguma coisa no beque, talvez algo na bebida ou nas pastas árabes ou no pão ou na cerveja, ou a conversa indigesta de homem que bate em mulher, de força do macho, obrigação, da mulher lá sempre-rejeição e o tal do "obriga-me, obriga-me" mantrificando vai ver de qual é ficar sozinho pra saber onde é que dói meu chapa, a companhia dos outros, os outros, suas falas intermináveis, seus peitos cheios de plexo e complexo e tudo mais que tem ali na cidade e atrás dos prédios e no banheiro talvez um aviso pra que ela não fizesse isso ou aquilo outro - o banheiro, a igreja, e todos os bêbados.

Os mais fracos serão esmagados pela multidão, sem a menor arte. Milhares de bytes por segundo.

E:
"Deus me livre de ter medo agora depois que eu já me joguei no mundo..."
Sim, meu nome é Gal.

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