9.11.08

eu prefiro as curvas

Eu sou a escrita da srta Tamara Costa. Daqui, lugar que ocupo, sou viagem e corpo afora; senhorita território estando-estou continuo sendo.

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1.10.08

cut-up

Talvez eu tenha virado um pedreiro – isso de socar o tijolo, a la Cortázar. Eu não te contei pra te preservar porque senão você enlouqueceria. Estou louca, não idiota. O senhor me dê licença. Há muito mais entre Marx, Freud e tua escravidade do que pudéssemos supor. Por favor, por favor. Preciso ficar sozinha. E é melhor que sua aventura não acabe em comédia. É melhor que você me tire da cabeça.
Vá ver Hebe e não me amole.

(chororô)

Onde é que você passou a noite? O que é que tem? Que tem é que eu sou sua mulher e você tem que me respeitar. Estúpido! Canalha! Pateta! Essa carne de segunda aqui te atura a anos. Cresça e desapareça da minha frente. Mas o que é isso? Ah, nunca mais cantei essa música e você com o mesmo perfume, oh god. Fodeu. É um sinal. Não posso ignorá-los.

A solidão do cisne. O último uivo do último lobo-guará resgatado.

23.9.08

"Não me disseram ainda sobre o que é o novo drama, porém posso senti-lo. Estão tentando livrar-se de mim. No entanto, aqui estou para o meu jantar, até um pouco mais cedo do que esperavam. Informei-lhes onde sentar, o que fazer. Perguntei-lhes delicadamente se os estaria incomodando, mas o que realmente quis dizer, e eles sabem muito bem disso, é: estarão vocês me incomodando? Não, felizes baratas, vocês não me estão incomodando. Vocês estão me alimentando." Henry Miller, in Trópico de Câncer

10.9.08

Sem barato

O Som Barato, o melhor blog especializado em música brasileira, é retirado no ar - pelo google, que continua a nos amparar. E a busca continua!

Lastimável. Sem Barato.

8.9.08

Clínica Ser

"A tarefa de amolecer diariamente o tijolo, a tarefa de abrir caminho na massa pegajosa que se proclama mundo, esbarrar cada manhã com o paralepípedo de nome repugnante, com a satisfação canina, de que tudo esteja em seu lugar, a mesma mulher ao lado, os mesmos sapatos e o mesmo sabor da mesma pasta de dentes, a mesma tristeza das casas em frente, do sujo tabuleiro de janelas de tempo com seu letreiro HOTEL DE BELGIQUE.", trecho de Cronópios, manual, Julio Cortázar


Corredor
Lílian sai do banho, acende um cigarro e vai para o corredor. Ali, encontra com o menino-de-mochila-que-quer-vazar insistindo em encontrar Ferrez, e ainda sozinho não se contenta em querer sair para fora de tudo e insiste em insistir em coisas chatas e despropositais, como “repita meu nome completo”. Lílian chama mochila em um canto e fala baixinho “você já bateu em dois, agora tome cuidado, porque eles vão te pegar”. De mochila e aproximadamente 17 anos pareceu enfim perceber que ficar colocando pilha nos outros seria um erro. Lílian lhe pede um abraço. Ele nega.

O homem de olhos arregalados e calça mijada passa fumando um cigarro e diz que hoje ainda mata alguém.

O engenheiro eletricista do Ministério da Educação que gosta de sair e brincar e gosta também de gente alegre, diz que existe, e fuma um cigarro.

Hoje ainda mato um, grita enquanto mija.

Salão de jogos
Um jovem de olhos verdes toma chimarrão enquanto assiste a um show do Megadeath. Um casal de namorados se abraça na espreguiçadeira. Quadro azul: "Não escreva aqui, porque você não tem condições mentais".

Sofá marrom
A mulher de verde e rosto cansado senta no sofá e cruza as pernas várias vezes. A de blusa azul, no mesmo assento, apenas dorme. Sua mão esquerda se mexe em moldes parkinson - às vezes rodopia no ar e estrala. Ela dorme acordada.

Eu, sentada no sofá preto, também estou neste lugar – pelo menos por um tempo, como todos sempre dizem “cheguei hoje mesmo”.

Por que você não vem morar aqui?
Existir na Clínica Ser não nos parece tarefa tão difícil. Existir aqui é um hábito, já que quando escolhemos, em algum momento, existir, ou invés de simplesmente cooperar, assumimos um risco. Isso de fato é muita pretensão, pois para se entrar na Clínica Ser não é preciso ser tão louco assim, basta ser um praticante de automedicação. O problema é sair, ou melhor, disfarçar. Todos forjam, ou naturalmente, são algo que foge a previsão.

Uma das jovens senhouras que cuidam da limpeza e da ordem local, me diz que a Clínica está sempre aberta . Aberta está minha cabeça, e sinto que ela vai rolar e continua rolando, e nada isso teria a ver com Ritalina.

* A Clínica Ser fica no Lago Norte, em Brasília

15.8.08

Ficções

“Tenho uma experiência tão louca do divino que rirão de mim se eu a relatar”, Georges Bataille, in A Experiência Interior


Nem Tereza D'Ávila, nem Margarida da las Fulores Abiertas. Na tentativa de superar o êxtase religioso, como se não tivesse experimentado antes de modo racional tal idéia antes já descrita por Bataille, Oscar Rosário (N.F), pedreiro, 22 anos, tomado por um desejo "de impossível", decide afogar sua pequena prima Giuliana de la Vittoria, em uma Igreja Adventista do 7º Dia da cidade Presidente Getúlio, interior de Santa Catarina (C.F) . O evento foi descrito como "proposital" por agentes que estiveram no local logo após a menina ter agonizado no tanque de batismo. "Muito distante daquilo que que a Deus se assemelha ou a que dele poderia estar perto", agonizou o bispo responsável, próximo aos curiosos que já armavam, sedentos, o apedrejamento de Rosário.

- Chorus opereta -
lamentos a la gente misericordiosa
todas las madres del mundo
um degrau separava
nitidamente
o riso e o abismo
agora, enfim, morto e consciente
de que estava perdido

Eu cheguei a pensar no irmão do Ray Charles - cegueira - visão e música, e depois a possibilidade de se conviver com a visão de um afogamento. Flashs repentinos e nenhuma paz. Depois pensei também no sadismo psicopata e no déficit de afeto. Por cima ou por baixo de tudo que eu pudesse pensar, agora, ainda sentindo o gosto da água benta entalada no meu diafragma, continuo a espionagem. Vejamos: de acordo com relatórios da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) descrevem a periodicidade das ocorrências, o afogamento infantil é um "acontecimento trágico, rápido e silencioso, que pode ocorrer em muito pouca água, quando o adulto interrompe por instantes a vigilância". Pouco esclarecedor. Ver também parâmetros fisiológicos registrados em experimentos com psicopatas.

Afinal, a prática excessiva descrita é ostentada em nome de quê? Por uma experiência completamente nova como prevê o trecho bíblico, "da água e do espírito" para o reino de Deus? Aqui, blocos nítidos e dispersos. Consciências experimentais pouca ou sem nenhuma ansiedade. E tem aquela coisa também de necessidade de repetir a experiência.

Daqui, da visão em quadrado, na beira da janela, a rua já me parece um amontoado de gentes que resolveram ir de lugar nenhum a nada, impulsionados por uma vontade talvez nem tanto racional de estar, por em prática, colocar em andamento, ações nem tão risíveis quanto necessárias.

Cenas anteriores: Tijolo por tilojo, é preciso não socá-lo (o tijolo), pensa repetidamente enquanto alisa mãos e lixando-as uma na outra de forma lenta e perspicaz/ depois volta para o caça-palavras, enquanto espera a nova remessa de cimentos (melhor não estocar).

Ver também: Pedreiro é condenado a 20 anos de prisão por morte de menina em igreja de SC

30.7.08

vertigem

daqui, outra vez deste ponto-abismo de onde já olhamos juntos uma vez, reaninho passado e presente e vendaval. tu, nada mais de ponte ou de cerco ou de vaca. das representações restantes, principalmente um riso ecoando lá de cima. riso que em mim te gargalhva (vice-versa). retrocedo (co: subida-frio-a-voz-dela-ecoando-para-toda-noite-entre-nós-ela-nunca-sós). por baixo ou por cima de nós (e tudo isso), círculos infinitos de contentamento e soluços de fadas, cristais e rochas under-operantes em nossos plexos abertos. depois, o caminho das pedras. e assim como antes, diante de ti, abismo, hoje consigo, por um instante, não me jogar por inteiro, não, dessa vez só me ajoelho e olho para ter certeza de que estou à beira. no lugar onde tu não mais podes me empurar. agora (descendo-pra-cima-sem-tu-ou-ela-noite-eu-eu-eu) já não posso mais permanecer no tempo-instante daquela foto de nossos cabelos-laços entre-cortando a árvore: entre o inverno e a praça...

o sol amanhece esquentando o chão, de onde miro a poeira de tuas paisagem progressivas.

28.6.08

"Grotesco me esparramo. Há sangue respingando as paredes do círculo. Uma avalanche de cubos recobre meus tecidos de carne. Estou vazio de letras. Pleno de absurdo." Trecho de Com meus olhos de Cão, de Hilda Hilst.

25.6.08

Flashs diluídos

Dona senhorita inserida chega em casa e diz "kill me please". No punks. No drinks.

Casco de embarcação revirada. De todos o branco, a brancura do teu corpo afogado.

Sentada-indo pensa um dia levantar e parar.

Falso testemunho. Falsos desfechos. Perversão de cineastas bem nutridos.

Seus olhos não me dizem nada.

Dê-me seu pulmão, coração-perverso.

Tópicos sutis de aversão ao feminino.



Não estou.

18.6.08

Como se numa espécie de Railway Spine, não de um acidente de trem, ou de carro, mas o sempre decisivo "eu não consigo fazer isso e não vou fazer". Talvez eu saiba o acidente, mesmo assim me pergunto qual seria. Visto que é algo que sempre se repete; àquilo que sempre chega para tirar tudo e qualquer motivação, civilidade, adaptação. Momento em que não poderia nunca deixar de dizer não a qualquer subserviência desenecessária e/ou desligada do próprio corpo, posto que o mesmo é paralisia e simulação.



“Quando tiverem conseguido um corpo sem órgãos, então o terão libertado dos seus automatismos e devolvido sua verdadeira liberdade. Então poderão ensiná-lo a dançar às avessas como no delírio dos bailes populares e esse avesso será seu verdadeiro lugar”, de Antonin Artaud

19.3.08

poema de Rückert


Was man nicht erfliegen kann, muss man erhinken.
Die Schrift sagt, es ist keine Sünde zu hinken.


Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando.
A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar.

12.3.08

é sempre bom lembrar

No time to fornication my mind. Correria, muito trabalho, no último segundo e na falência múltipla do braço (R.I.P/L.E.R). Aqui, da mesa, de fronte ao mondo bizarro, cada vez menos piedosa ou comovida; mafioso gordo demais para ser preso, carros voadores, porcos roxos, homem que mata e fica solto, homem que planta e vai preso. Há situações que me remetem a uma vontade talvez secular de pestanejar. No começo eu até pensei em roteiro, coisa profunda, deglutir, excretar meus putos com os monólogos do terrorismo, entre outras manipulações - ocupar o território com meus próprios símbolos. A idéia prossegue, mas não posso prever (ainda).

No mais, preciso relembrar, cada vez mais, aos esquecidos e desavisado, do movimento de nada sutil de Estuprar Padres, a la Bataille, que comando já a algum tempo - lembranças à Denise. Pelo passado tostado e por tuas injúrias. Em específico, hoje, pela sugestiva representação(regressos da pedofilia)do feto de plástico que a tanto vos comove.


Recuerdos de um comedor de hóstias:
Papa Bento 16 ajudou a acobertar pedofilia

14.2.08

para dormir (das águas, as canções)

e me dá
um danado de um gosto
tu entregue fácil
quando o pouco tempo nos resta
apressa -
quando estou indo embora;

e me afoga na pedra
antes da maré encher
e dos homens que passam
rápidos, despercebidos.

é azul
que nem o céu:
o infinito dos teus dias.


solinho-te um Tom
Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber camará

12.2.08

Depois de passar pela vigilância russa, ultrapassar as barreiras alfandegárias e ganhar muito tutu o Rei do Gado e dos Carnívoros resolve investir, paralelamente, no ramo-rameiro da informação. Por isso, então, decide comprar serviços falidos de um certo Jornalismo, para então passar-lhe o rodo da escrotagem na serventia escrava - mão-de-obra mais barata do que a carne negra da tua senzala. Abismados a grã-finagem estilo laça, fere e marca tudo que é teu, fode-se tu, fode-se eu. Por trás, sem açúcar ou afeto.



a vida é as vacas
que você põe no rio
para atrair as piranhas
enquanto a boiada passa


Paulo Leminksi

30.1.08

e Pan

No âmago do labirinto
revela-se tão somente o natural:
expiar o bode é não
confrontar-se.

28.1.08

Que só então posso reagir
diante de teu redundante fetio moral,
mal, mas mal demais, rapaz.

Rompante de lhe trazer de volta
o desejo em moldes contrários:
olhos nunca antes tão secos
- e ocos -
de vazios nunca antes
alcançados.

Assim devolvo;
desdém
descaminho e dessabor,
poema-desprezo
no auge da conversão.

Que então possas sofrer, de longe
o horizonte e a imensidão
do teu descaber.

"Tu me ensinaste tua língua e esse saber deu-me a possibilidade de maldizer-te." Shakespeare