29.1.05

E enquanto viver
Também depois, na luz
Ou num vazio fundo
Perguntarei: até quando?
Até que se desfaçam
As cordas do sentir.
Nunca até quando.


Hilda Hilst (Alxerold, da proporção - Tu não te moves de ti)

um coçar de pêlos ali, onde se formavam as concisões. que depois que atirar a fora, é dito. forma-pilares e construções posteriores. que por ela já me fiz curvado os domingos todos. dedicação. em lugares que jamais (palavra como cone para ambulância) uma senhora num carro que passasse ao lado, ali olhando futuro exposto talvez, um cigarro na mão e ventos fumantes. ali depois talvez depois caída no banheiro sozinha depois a ambulância cretina me levando sem ar e cigarros. por um instante de sinal vermelho ou cruz, por todos os domingos perdidos. de nada nem nunca se desfizeram.

tinha mais três filhos espalhados em lugares úmidos e de chuva. continuava no pico do sem-vento e raspava o cabelo de sete em sete dias - sacrifício.

20.1.05

dos Duros

Antes passasse as férias num apartamento de retalhos. que deitasse em minha cama sem olhar para ? a colcha. Emendas enquanto parte ocupante cama chão. decoração afiada. uma cortina de alfinetes. Desmonoramento de agulhas. os agrupamentos de aspereza e um tapete de nós ? tu pisas. Sapatos agulha, olhos demarcados pupila abaixo, cílios acima. um desenho desobediente me faz olhar duas vezes antes de olhar outra vez e partir para perto das afiadas, assim ascendo as mãos e ergo um brinde aos Ultrapassa-Couro.

9.1.05

guarde o nome ou não, iste é um escritor. e está mais perto que imaginas, srta Babosa.


DANÇA
por Danilo Frabetti
dhangover@hotmail.com

Imemorável seqüência de ocasiões propícias desembocando nesta letra que deságua seus rumores ante os olhos decifradores ruminando mais uma vez a gosma significativa que se apresenta cordialmente através do ? chega! Agora é a dança quem dita o movimento. Deito em seus braços (quebrados) esperando o passo em que ela, envolvendo braços em minha cintura, me deita para trás dobrando-me ao meio, fazendo-me relembrar que minha coluna estrutura ainda é flexível. Quase encosto minha cabeça ao solo. Os cabelos o tateiam lembrando antenas capazes de sentir o chão gelado. Ela me puxa outra vez para ir de encontro ao seu. A música acaba. O momento paralisa. Seus olhos borrados afastam-se, pouco a pouco, eu parado, no centro, com os braços estendidos, um esticado, o outro encolhido, sem entender porque pararam a dança assim como quem não dança há mais de anos e ainda consegue dobrar sua coluna por um único momento, talvez o último. Dona dança dote-dom dela. Uma donzela dogmática. Enigmática também. Diz que era assim, agente dança curto, passo fino, pra não enjoar. Fiquei pensando. Dança bem, mas dança curto e eu aqui, com o braço esticado A seqüência das ocasiões começam de novo seu ciclo. Logo chega o momento, momento da cintura. Toda noite espero este, mas aquele lembra que o outro é mais perto do que o curto. Momento apropriado. O salão ornamentado, vai ter música pois sem ela não tem dança. E muita gente também, todos atrás da dança, mas com eles nunca vi cintura assim. Sempre o de sempre, dois pra lá, dois pra cá, sabe como é. Pensei que, justamente por quase tocar o chão com minha cabeça, eu dançava bem. Mas o que importa, pra senhora dança, um bom dançarino? Mais que isso, ela diz, mais que isso! Quero música, som, rumor. Quero o barulho que você pode me fazer soltar. Mão na cintura, outra com cotovelo na barriga segurando com a mão o cigarro na boca. Vira as costas e, como quem não liga pra cintura, aceita o convite para uma dança me fitando os olhos, os dela borrados de novo, sorrisinho no canto do lábio. Cintura assim não tem, penso comigo. Mais tarde agente dança. Dirige-se ao bar, segura uma cerveja, senta no banco, olha pro salão, e ele está vazio.